PROTECTED ILLUSION
«Swimming in the Moonlight»
[Real Illusion, 1989]
Nos tempos em que não havia internet nem telemóveis nem nada dessas invenções do diabo, conhecíamos as bandas através de amigos, de revistas, de fanzines, e sobretudo através dos excelentes e saudosos programas de rádio que então havia (uns poucos subsistem, meritoriamente, a nível nacional). Na região de Lisboa, muitos destes programas eram transmitidos por estações suburbanas que eu, no meu alfacinhismo central, não conseguia apanhar. Já não me lembro exactamente onde ouvi pela primeira vez os Protected Illusion, mas talvez tenha sido no «Perigo de Morte», do Mário Filipe Pires, na NRJ – Rádio Energia. Outro suspeito será o «Metal Radical» do Gustavo Vidal, o «Lança-Chamas» do António Sérgio, por aí fora… Seja, como for, assim que começou a soar a intro para «Method Of Manipulation», os meus tímpanos lançaram de imediato o aviso ao meu cérebro de que estava no limiar de algo impressionante. Noite adentro, entre as paredes forradas a posters do meu quarto, fiquei imerso em estupefacção devido ao som que jorrava das colunas da minha aparelhagem, as mesmíssimas que neste momento debitam num outro milénio as mesmas geniais notas agora provenientes da agulha que percorre o já vetusto vinil, na minha actual sala de ouvir metal. No dia seguinte, dirigi-me à Bimotor, nos Restauradores, e perguntei se tinham algum álbum dos Protected Illusion. Nunca tinham ouvido falar. Naquele contexto espácio-temporal, eu tinha chegado a um beco sem saída, mas não esqueci o nome e, pouco tempo depois, como comprava todas as fanzines que me apareciam à frente e que eram então muitas no meio metálico, deparei-me com surpresa com uma biografia dos Protected Illusion numa Metal Bible que desfez o mistério. Não existia nenhum álbum dos Protected Illusion. Era uma banda underground ainda sem contrato discográfico. O tema que tinha ouvido na rádio era de um 7″ lançado pela própria banda. A biografia incluía a morada, pelo que, esfuziante, imediatamente lhes mandei uma nota de 1.000 paus bem escondida num envelope para mandar vir o vinil. Bolas, que saudosos tempos! Duas ou três semanas depois, recebia finalmente do Rami, guitarrista e compositor, o meu almejado e fantástico «Swimming In The Moonlight»! A partir daí continuei uma animada troca de correspondência e continuei a seguir a banda e a mandar vir o que iam lançando. Assim era o underground! Hoje são uma grata memória da minha história metálica pessoal, além de terem sido uma das melhores bandas de metal em que nenhuma editora pegou… e muitas boas bandas houve na mesma situação.
Os Protected Illusion foram uma grande banda dos anos 80/90 que nunca chegou a lado nenhum. Um dos mais flagrantes exemplos de mérito não recompensado. Este EP foi uma das melhores coisas a sair da cena metálica finlandesa até então… eu diria mesmo até hoje! Cheio de garra e vitalidade, com magníficos temas cheios de originalidade, um Thrash rápido e furioso mas muito bem construído, já com grande destreza técnica e experimentalismo arrojado, a milhas de outras bandas mais genéricas que davam na altura os primeiros passos nas garagens finlandesas. Também os Protected Illusion tinham percorrido esse caminho, mas «Swimming In The Moonlight» foi um marco que concedeu à banda um estatuto pioneiro.
A sua música é muito característica mas também muitíssimo variada, com estruturas complexas e laivos de death metal técnico e crossover. Riffs contagiantes, uma voz incrivelmente maníaca, humor, uma vitalidade desmedida, e aquela indomável vontade metálica da juventude de então. Há muito para descobrir nos Protected Illusion, sobretudo nos dois 7″ e no álbum que lançaram, em cassete, entre ambos. O material aqui contido é fabuloso e inesquecível! E todavia é, sem dúvida, mais uma pérola esquecida para quem a quiser descobrir!
Com o passar do tempo, começaram a tocar música cada vez mais lenta e alternativa, e a essência do que tinha sido Protected Illusion desfez-se. Os membros que se mantiveram a tocar fizeram uma banda gótica sem interesse nenhum (a não ser para os góticos) e foi o fim. Paz à sua alma. Em Dezembro de 2011 juntaram-se para tocar um concerto em Helsínquia… há algumas filmagens por aí. Mas pelos vistos foi mesmo só um momento Kodak, para mais tarde recordar.