MISSA ORTODOXA: Hellion – «Screams In The Night» (1987)

HELLION
«Screams in the Night»
[Hellion Records, 1987]
Ann Boleyn (pseudónimo de Anne Hull), a vocalista dos Hellion, teve uma vida ligada ao metal desde tenra idade. Começou por tocar teclado e baixo, esteve a um passo de integrar as Runaways, teve programas de rádio (diz-se que terá mesmo criado o termo “speed metal” nesta altura), e no princípio dos anos 80 fundou os Hellion. Rapidamente se tornou vocalista, o que foi uma aposta em cheio, porque tem uma voz formidável. Entrou a fundo na indústria musical, tendo criado a New Renaissance Records, que editou álbuns de bandas incontornáveis numa rubrica como esta que ora lêem: At War, Wehrmacht, Blood Feast, Anvil Bitch, Cerebus, e muitas outras (além de ter licenciado para o mercado norte-americano, nos anos 80, álbuns de Sepultura e Bathory). Para um verdadeiro metálico old school, o catálogo da New Renaissance é sem qualquer dúvida um verdadeiro baú do tesouro a não descurar.

Foi este o line-up que gravou «Screams In The Night».

Depois de diversos lançamentos, incluindo um EP após o qual a banda passou a ter como manager a mulher de Ronnie James Dio, e depois de disputas legais entre anteriores membros de Hellion, o álbum de estreia acabou por ver a luz do dia em 1987. É este que aqui vos trago, e é uma excelente criação da sua época, um álbum de metal americano dos anos 80. Pode estar algo afectado por um ou outro tema mais comercial (embora mesmo «Easy Action» seja uma grande música, com solos impressionantes) mas a sua garra é evidente em composições como o tema-título ou «Children Of The Night».

Ann Boleyn de cabelos em pé.

A capacidade vocal de Ann Boleyn e a sua forma característica de cantar são pontos altos de uma obra já de si muito forte, e ela não quer deixar de o mostrar, levando a sua prestação ao limite. Os músicos que a acompanham são de grande calibre, com destaque para a impressionante guitarra de Chet Thompson. A música é excelente e verdadeiramente metálica, merecendo por isso um forte elogio. Muitas histórias se foram contando sobre Ann ao longo do tempo, por vezes polémicas, por vezes bizarras… por exemplo (e a minha única fonte para isto é a Wikipedia, vale o que vale), diz-se que o manager dos Van Halen, Ed Leffler, ofereceu-se para a transformar na “próxima Pat Benatar” desde que ela fizesse uma cirurgia estética e deixasse os Hellion.

Não me parece que a Ann precisasse de grande cirurgia estética.

Com a chegada dos anos 90 saiu o impressionante concept album «The Black Book», com um trabalho instrumental de grande nível a acompanhar a poderosa voz de Boleyn. Tinha-se talvez perdido um pouco da raiva metálica inicial de «Screams In The Night», mas ganho em sofisticação. Apenas em 2003 voltaria a existir um novo álbum, o último até agora, intitulado «Will Not Go Quietly». Um álbum estranho, semi-sinfónico, bastante afastado do som dos Hellion dos anos 80. Em 2007 Boleyn juntou-se durante algum tempo aos Détente (após a morte de Dawn Crosby) mas as coisas não correram muito bem. E não há muito tempo até houve uma certa polémica devida à reedição do álbum «Decline», de 2010, com três temas bónus cantados por ela. Enquanto se espera para se ver se a fera ainda acaba por erguer a cabeça um dia destes (o último EP, «Karma’s A Bitch», é de 2014), e se vos apetecer apreciar um pouco da estética metálica norte-americana dos anos 80, aqui vos deixo vídeos dos dois primeiros temas de «Screams In The Night».

De ouvir e gritar na noite por mais.