ARMOROS
«Pieces»
[Edição de autor, 1988]
O Canadá teve nos anos 80 das melhores bandas que o metal conheceu, dando ao som eterno nomes incontornáveis de brutalidade do speed e thrash, como Razor, Exciter, Infernäl Mäjesty, Slaughter, Sacrifice, sem falar de nomes como Voïvod e Annihilator. Diversas destas bandas são fulcrais para uma rubrica como esta, incluindo nomes ainda mais refundidos que possam por cá já ter passado, como os Aggression ou os Lord Ryür, ou que venham ainda passar no futuro, como os PileDriver ou os Tales Of Medusa. É na verdade espantoso constatar a qualidade canadiana na época de ouro do metal. E o nome hoje eleito para aqui figurar pertence a uma estrondosa banda de violento thrash metal que fez um álbum demolidor que ficou décadas na gaveta (e também não é a primeira banda do Canadá que aqui vos trago a quem aconteceu uma história assim).
Foi num concerto de Metallica e Armored Saint em Vancouver no ano de 1985 que se conheceram dois adolescentes que viriam, meses depois, a recrutar colegas de escola e afins para dar origem aos Armoros (o nome da banda surgiu do livro apócrifo de Enoch, em que um dos vinte líderes de duzentos anjos caídos se chama Armaros). Seguiram-se os concertos e as gravações de demos, que culminaram em 1988 com a gravação do álbum «Pieces», que teria sido um marco do thrash canadiano se não se tivesse limitado a circular em cassette por entre uns quantos tape-traders do underground. Supostamente, seria lançado por uma editora de Seattle, mas esta acabou por colapsar antes de o pôr cá fora, o que foi um rude golpe para a banda… tão rude que esta acabou no ano seguinte.
Apenas em 2008 a brasileira Marquee Records lançaria «Piece By Piece – The Anthology», uma caixa com três CDs incluindo o álbum, as demos e gravações ao vivo. E em 2015 a High Roller Records acabaria também por tirar o pó a esta obra maior das camadas mais obscuras do metal e pô-la cá fora em LP e CD, para que finalmente um maior número de adeptos do verdadeiro som metálico pudessem descobrir o valor incomum dos Armoros e, enfim, restituir-lhes algum do estatuto que merecem.
Os temas sucedem-se sempre em grande nível e com uma intensidade assombrosa, mesmo no caso do seu final, uma versão acelerada de «Earache My Eye», cujo orignal pertence a «Up In Smoke» de 1978, primeiro filme da dupla cómica Cheech & Chong. Crê-se que era uma espécie de tributo aos hábitos recreativos da banda envolvendo a queima de folhagem.
Ainda voltaram a unir esforços uns anos depois e em 1993 gravaram uma demo, que não deu em nada, e de novo se separaram. Finalmente, o ano passado juntaram-se apenas para tocar no Vancouver Island Metalfest, não sendo previsível que passe disso… A vida seguiu em frente, com mais metal ou menos metal (sobretudo o guitarrista Jed Simon teve um longo cadastro musical, mais notavelmente nos Strapping Young Lad). Pode não haver futuro para os Armoros enquanto banda, mas haverá para este magnífico álbum – o legado de um extraordinário grupo de adolescentes dos anos 80 que thrashavam de forma letal!