AGGRESSION
«The Full Treatment»
[Banzai Records, 1987]
Há álbuns praticamente desconhecidos que ouço e me viciam completamente. Álbuns a que pouca gente liga, mas que para mim são sensacionais. Um deles é «The Full Treatment», dos canadianos Aggression. Tem uma produção muito suja que decerto prejudica, para muitos ouvidos, a primeira audição, mas para mim até ajuda a reforçar a bestialidade da música presente (e a capa ao estilo “amigo do liceu que desenha nos cadernos” poderá também ter tido alguma culpa da fraca notoriedade). Há quem aprecie muito bandas como NME ou Slaughter, que trouxeram a uma cena precoce um toque de cacofonia underground ligada ao black metal que os Venom tinham lançado sobre o mundo e também ao então incipiente death metal. Essas pessoas poderão ficar surpreendidas com o que irão encontrar em «The Full Treatment».
E o que irão encontrar é uma extraordinária mistura de uma produção bruta em todos os sentidos da palavra, as guitarras e o baixo poderosos no meio da bruma do ruído, uma bateria rápida e possante, e uma voz maníaca. Adoro a distorção das guitarras e adoro a voz e a forma de cantar de Pierre “Cactus Pete” Fleurant. Além de Venom, Slayer e Possessed, há uma óbvia influência punk/hardcore que se manifesta em músicas bastante crossover (como «One For The Woods», que chega lá pelo meio a ter qualquer coisa de Beastie Boys).
Relativamente à qualidade musical, os temas do meio poderão ser ligeiramente menos impressionantes, mas os do princípio e do fim, sobretudo, são autênticas pérolas do thrash mais violento. A entrada letal com «Forsaken Survival», a ultra velocidade de «Green Goblin» (sobre o vilão da Marvel), a demolição punk-com-esteróides de «Demolition», a animalidade de «Frozen Aggressor», com passagens fantásticas nas letras como “Hailing from hell to hit the bell – Bursting your cells he fucks the dead, the frozen aggressor“, ou “Apocalyptic views have been captured by humans; The force of Satan in a mastodon of hate“! Material de primeira qualidade! Terminando com o tema mais elaborado «The Final Massacre», que refere esse esgoto do terror série B dos anos 80 chamado «C.H.U.D.». Até a «Ilsa, She Wolf Of The SS» anda pelas letras dos Aggression.
Em 2005 foi finalmente lançado o que teria sido o álbum de estreia, «Forgotten Skeletons», que tinha entretanto ficado na gaveta, e a banda reuniu-se para tocar um concerto de celebração do evento. Mas pelos vistos ficou-lhes na ideia, e dez anos depois os Aggression regressaram… primeiro por via de uma compilação de demos que incluía três temas novos e uma regravação de um antigo. Depois, novos álbuns, em 2016 e 2018, naturalmente sem o mesmo ambiente de «The Full Treatment» (aliás, apenas o guitarrista Denis “Sasquatch” Barthe resta desses tempos), mas álbuns que vale a pena ouvir mesmo assim, e igualmente de thrash com sabor a punk, sobretudo o último, que se chama… «Feels Like Punk, Sounds Like Thrash».