Encabeçado pelos DARK TRANQUILLITY e STRATOVARIUS, o segundo dia de MILAGRE METALEIRO OPEN AIR proporcionou mais uma maratona de concertos de sonho para qualquer metaleiro que se preze.
Depois de um arrasador primeiro dia de concertos, as expectativas estavam altas no regresso ao recinto para a XIV Edição do MILAGRE METALEIRO OPEN AIR, com o cartaz deste segundo dia oferecer uma selecção de nomes igualmente demolidores. O início deu-se logo com uma banda nacional que tem oferecido muitas boas indicações no death metal. Os RESURGE podem ter estado na ingrata posição de darem início à festa — ingrata porque as emoções forte do dia anterior poderão sempre fazer com que sejam sacrificados –, mas a verdade é que não foi preciso muito tempo para que a poeira começasse a subir e os crowdsurfs começassem a fluir na plateia. Logo por aí se vê a eficácia da sua música.
A abrir o dia no palco principal estiveram os espanhóis ARENIA. É impressionante a quantidade de bandas de metal tradicional o nosso país vizinho tem, mas não menos impressionante é a sua qualidade. É certo que o vocalista Fran J. Santos teve algumas dificuldades em fazer-se ouvir no início da actuação, e esta foi uma questão recorrente tanto no palco principal como no secundário, mas que acabou por ser quase sempre corrigida, mas, já com muitos fãs a apoiar a banda e a cantar as suas músicas, o público manteve-se alheio a isso.
Ainda com o foco no contingente espanhol, foi a vez dos XHAMAIN trazerem animação ao recinto, desta vez no palco secundário, com a sua mistura de power/folk com death metal melódico. O som poderá não ter estado ao melhor nível para se perceberem as melodias da gaita de foles, mas isso não impediu que se fizesse uma grande festa na plateia ou que o público ficasse logo do seu lado. O trabalho de estreia «Na Alma» foi o grande destaque desta actuação e, para quem não os conhecia, garantimos que ficaram fãs. Verdade seja dita, é o tipo de sonoridade perfeita para o ambiente festivo que se pretende criar no MILAGRE METALEIRO OPEN AIR.
A par do power metal como escolha quase primordial ao longo dos três dias, também o folk metal (mesmo que misturado com outras sonoridades) marcou bem a sua presença em Pindelo dos Milagres. Os RAVENBLOOD chegaram da Catalunha e traziam um death metal melódico com sensibilidades folk. No início, enfrentaram a questão da voz estar algo baixa, mas, mais uma vez, não foi algo que tivesse um impacto duradouro na actuação. Neste caso, mais que a música, o que mais impressionou foi mesmo a forma como souberam colmatar as suas limitações e conquistar o público.
Não será exagero dizer que os TOXIKULL já são um dos expoentes máximos da cena tradicional em solo luso, tanto pela forma como têm conseguido expandir a sua base de fãs (tanto em terras lusitanas como sobretudo além delas) como pela lição de heavy metal que é cada concerto que dão. Do speed/thrash metal furioso («Sacred Whip» e «Nascida No Cemitério») ao hard’n’heavy mais pegajoso («Darkness» e «Metal Defender»), a música é sempre contagiante assim como é também a interacção com um público que fica logo rendido. Foi precisamente o que aconteceu no palco secundário do MILAGRE METALEIRO.
Um dos nomes grandes para este terceiro dia, e mais uma estreia absoluta em Portugal, eram os suecos ECLIPSE, que desde o início não deram tréguas e agarraram o público logo de rompante com «Roses On Your Grave» e «Got It!». Aliás, não faltaram bons momentos no seu alinhamento. Foi impressionante ver o público a cantar os temas, principalmente aqueles que fazem parte do novo trabalho do grupo, que acabou de ser lançado. Excelente som, actuação sólida e uma estreia de sonho que todos os presentes vão querer ver repetida em solo nacional.
Os AKTARUM podem soar banais em estúdio e, verdade seja dita, não é fácil uma banda de folk metal sobressair no meio de tantos discos que recebemos semanalmente. No entanto, é ao vivo que a sua música verdadeiramente brilha. A boa disposição é uma constante nas actuações da banda belga e esta estreia em Portugal não poderia ter sido melhor. A festa fez-se em pouco tempo e os circle pits foram uma constante durante todo o espectáculo «Trollvengers» e «Pirates Vs Trolls» foram apenas dois bons exemplos desta grande festa “trollástica”.
Dos três cabeças de cartaz desta edição do MILAGRE METALEIRO OPEN AIR, os DARK TRANQUILLITY foram os que menos mergulharam no passado mais distante, mas ainda assim não sentimos que tivessem tido clientes insatisfeitos com a sua prestação. Não só escolheram os temas mais marcantes dos seus últimos trabalhos como também fizeram incursões cirúrgicas pelo seu passado, numa prestação irrepreensível e com direito a um som praticamente perfeito. «Therein» e «Phantom Days» foram alguns dos pontos altos num concerto sem momentos mortos.
Nem só de power metal ou de sonoridades mais melódicas viveu o MILAGRE METALEIRO OPEN AIR. As incursões pela música mais extrema foram tanto surpreendentes como eficazes. A suceder o concerto bombástico dos DARK TRANQUILLITY, vieram os franceses BLISS OF FLESH, que despejaram uma boa dose de black/death metal blasfemo. O grande destaque de toda a actuação esteve no último álbum de originais «Tyrant», com os temas a hipnotizarem o público presente perante doses inacreditáveis de peso.
A terceira banda a receber honras de destaque neste segundo dia foram os finlandeses STRATOVARIUS, também muito antecipados pela maior parte público presente. Ainda que fossem os temas antigos os mais desejados, sendo esta uma banda que continuou a sua carreira além dos dias de glória, os temas da novidade «Survive» foram bem encaixados no alinhamento e cativaram o público. O que não cativou foi mesmo o som estranho de que gozaram nos primeiros momentos da actuação. A voz a não se conseguir ouvir bem, assim como alguns ruídos, tornaram penosa a experiência. Conforme o concerto avançou, no sítio onde estávamos esse problema foi sendo corrigido, mas a verdade é que também recolhemos vários relatos contraditórios a este respeito. Fica a memória de clássicos como «Paradise», «Black Diamond» e, a fechar, a incontornável «Hunting High And Low».
A fechar com chave de ouro, SACRED SIN. A banda portuguesa é famosa e, apesar de ultimamente estar a manter uma actividade intensa em cima dos palcos, nunca nos cansamos de os ver. Nem nós, nem todos os presentes — mesmo quando a noite já era avançada para os ver e ouvir. Apoiados na carreira com mais de 30 anos, da qual extraíram vários destaques incontornáveis, seja da novidade «Storms Over The Dying World» ou os hinos «Ghoul Plagued Darkness» e a sequência «Darkside» e «Seal Of Nine», fecharam mais um dia de sonho metálico.
Fotos: Sónia Ferreira