Muitas vezes injustamente ignorado, MIKE STARR foi uma peça crucial nos primeiros passos dos ALICE IN CHAINS.
O momento em que os ALICE IN CHAINS decidiram chamar ao seu EP de estreia «We Die Young», em homenagem à canção epónima do guitarrista e compositor principal Jerry Cantrell, revelou-se tristemente profético. A letra foi inspirada pelas crianças que, naqueles anos, andavam a traficar drogas nas ruas de Seattle, com a canção a apoiar-se num riff insistente que acabaria por servir também como tema de abertura de «Facelift», o primeiro longa-duração do quarteto.
Estranhamente, os músicos não deram grandes ouvidos à mensagem contida na canção e acabaram por cair, também eles, no uso e abuso de drogas, com consequências trágicas. Layne Staley, o carismático frontman da banda — o letrista de «Killing Yourself», também incluída no EP de estreia — faleceu tragicamente em Abril de 2002, depois de se injectar com uma mistura de heroína e cocaína.
Mais de uma década antes, o baixista original do grupo, alguém muitas vezes esquecido, mas que muito contribuiu para sucesso dos seus dois primeiros discos, já tinha sido afastado por causa do seu vício em drogas. Apesar do que a sua aparição na terceira temporada de um reality show da VH1, intitulado Celebrity Rehab With Dr Drew, podia ter indicado, o músico nunca mais recuperou a sua vida e, a 8 de Março de 2011, foi encontrado morto numa casa em Salt Lake City.
Nascido em Honolulu em 1966, Mike Starr tocou em vários grupos de Seattle depois de se ter mudado para a cidade com os seus pais. Em 1987, juntamente com Layne Staley e o baterista Sean Kinney, juntou-se à primeira banda de Jerry Cantrell, os DIAMOND LIE, que afirmavam tocar “rock’n’roll sujo, duro, bluesy, in-your-face”.
Depois de ainda terem considerado FUCK como um possível novo nome para o grupo, transformaram-se então nos ALICE IN CHAINS, uma revisão de ALICE N’ CHAINS, um projecto de glam rock que Staley tinha integrado brevemente numa tentativa de conciliar a sua paixão por ALICE COOPER e pelos GUNS N’ ROSES.
Tendo por base influências clássicas do heavy metal mais tradicional, o quarteto foi desenvolvendo um som temperamental e pessoal, enquanto tentava afirmar-se em Seattle numa altura em que nomes como MOTHER LOVE BONE, NIRVANA ou PEARL JAM eram apenas uma miragem. Beneficiando da ajuda da equipa de management por detrás dos já estabelecidos SOUNDGARDEN, os músicos acabariam por assinar um acordo com a Columbia em 1989.
De facto, os ALICE IN CHAINS podem nunca ter sido exactamente uma banda típica do grunge, mas a ascensão que vivenciaram coincidiu com o último grande fenómeno internacional da era do CD. Um plano astuto de gestão e o impulso promocional de uma grande editora desempenharam, claro, um papel importane no seu sucesso, com a banda a acompanhar o icónico IGGY POP numa digressão norte-americana logo em 1990 e, logo a seguir, a participar na famosa Clash Of The Titans ao lado dos SLAYER, ANTHRAX e MEGADETH.
No ano seguinte, já o «Facelift» subia às tabelas de vendas. Em 1992, os músicos apareceram em ‘Singles’, a comédia romântica de Cameron Crowe criada à volta da cena musical de Seattle. Curiosamente, Mike Starr co-escreveu «It Ain’t Like That», uma das duas canções que os ALICE IN CHAINS interpretaram no filme, e contribuiu com uma linha de baixo memorável para a outra, de seu título «Would?», que se tornou numa dos temas mais icónicos de sempre da banda.
Outras contribuições importantes do músico podem ser ouvidas em «Confusion», do «Facelift», e na linha de baixo que formou a base de «Rain When I Die», de «Dirt», o segundo álbum da banda. Além disso, também participou na escrita de canções tão icónicas como «Them Bones», «Angry Chair» e «Down In A Hole», e gravou o EP acústico «Sap», editado em 1992.
No entanto, no ano seguinte, quando apareceram na segunda temporada do programa televisivo Later… With Jools Holland, Starr já tinha sido substituído por Mike Inez, que os músicos tinham conhecido em digressão de apoio ao lendário OZZY OSBOURNE. Em 1994, Layne Staley acabaria por dizer à Rolling Stone que a separação entre as duas partes tinha acontecido devido causa de “uma diferença nas prioridades“.
“Nós queríamos continuar na estrada de forma intensa, mas o Mike estava pronto para ir para casa“, disse o cantor em jeito de justificação. No entanto, ninguém se deixou enganar. Na verdade, após o Lollapalooza no Verão de 93, os ALICE IN CHAINS nunca fizeram mais do que quatro concertos em noites consecutivas enquanto Staley foi vivo e, verdade seja dita, também nunca mais igualaram a intensidade das suas primeiras gravações. Mike Starr tinha-se mostrado dispensável, mas por essa altura também já ninguém podia confiar num Staley cada vez mais dependente das drogas.
Por estranho que possa parecer, no início o baixista até parecia estar a lidar relativamente bem com o despedimento e até tentou formar um grupo, os SUN RED SUN, com dois antigos membros de uma encarnação menor dos BLACK SABBATH. Essa banda, infelizmente, acabou por não ir a lado nenhum e, em 2003, o músico saiu novamente dos carris e passou três meses numa prisão do Texas na sequência de um roubo no Aeroporto Intercontinental de Houston.
Para tornar as coisas ainda mais complicadas, Mike Starr acreditava ter sido a última pessoa a ver Layne Staley vivo e a morte do cantor, a 5 de Abril de 2002, acabou por afectá-lo profundamente. “Quem me dera não ter estado pedrado com benzodiazepina, simplesmente não teria saído porta fora. Sinto-me nu sem ter o Layne na minha vida. Na verdade, continuo a não me importar que eles me tenham despedido da banda. Sempre adorei o Layne pelo ser humano que ele era. Sinto mesmo a falta dele“, disse o músico num dos episódios de Celebrity Rehab.
Apesar de vários internamentos em programas de reabilitação, o ex-baixista dos ALICE IN CHAINS parecia incapaz de se manter afastado das drogas durante mais de seis meses de cada vez e, antes antes de falecer de uma overdose, foi preso em várias ocasiões, tanto em Los Angeles e Seattle. Que descanse em paz.