“Tudo o que tens de fazer é sentar-te e fazer parte da merda da banda”, explica MIKE PATTON.
Se alguém sabe bem o que é ser um cantor, é MIKE PATTON. O carismático vocalista norte-americano lidera numerosas bandas e é detentor de uma das maiores — se não a maior — gamas vocais de todos os tempos. Dito tudo isto, Patton insiste que “os cantores são uns idiotas de merda“.
Numa entrevista que se centra na extensa discografia do Sr. MIKE PATTON com as suas várias bandas — incluindo os FAITH NO MORE, MR. BUNGLE, FANTÔMAS, TOMAHAWK e DEAD CROSS, entre muitos outros — o músico discutiu o seu papel como cantor e deixou conselhos aos aspirantes.
“Ainda o vejo como algo do género ‘eu estou aqui para ajudar’ e sei que sou apenas mais um componente“, argumentou Patton. “Penso que é isso que é importante, mas sejamos honestos: os cantores são uns idiotas de merda. Pensam que são donos da merda do espectáculo, mas não são, está bem? Isso é uma coisa que aprendi ao longo dos anos, tudo o que tens de fazer é sentar-te e fazer parte da merda da banda“.
Falando especificamente sobre os DEAD CROSS, a banda hardcore em que assumiu a posição de vocalista em 2016 depois da saída do cantor original Gabe Serbian (que infelizmente faleceu no início deste ano), MIKE PATTON explicou: “Não estou a impingir-lhes ideias, sabem porquê? Eles têm grandes ideias, e eu não quero estragar tudo“. A banda, que também conta com o baterista Dave Lombardo, o guitarrista Michael Crain e o baixista Justin Pearson, vai lançar o seu segundo álbum, intitulado «II», no próximo dia 28 de Outubro.
Em Setembro de 2021, os FAITH NO MORE emitiram um comunicado a anunciar o cancelamento de todos os seus compromissos futuros, para que MIKE PATTON cuidasse da sua saúde mental. Mais de meio ano depois, o talentoso e versátil frontman da banda californiana — e de uma série de outros projectos — falou com a Rolling Stone sobre o que se passou, quebrando assim um longo silêncio. O músico norte-americano explica que os problemas que teve não desapareceram totalmente, mas garante que está melhor.
“É fácil dizer que a culpa foi da pandemia“, elabora Patton. “No entanto, para ser sincero, no início da pandemia pensei que ia ser uma maravilha, porque podia ficar em casa a gravar. Tenho o meu estúdio em casa, por isso não antevi qualquer problema. Depois alguma coisa mudou, e fiquei completamente isolado, quase antissocial e com medo de pessoas. Esse tipo de ansiedade, ou o que lhe quisermos chamar, levou a outros problemas, que prefiro não discutir. Tive ajuda profissional e já me sinto melhor. No final deste ano vou dar os meus primeiros concertos em dois anos; nunca estive tanto tempo sem actuar“.
Segundo o cantor, os problemas começaram a aparecer pouco tempo ainda antes dos FAITH NO MORE voltarem à estrada. “Foi aí que me passei, e não foi bonito“, recorda ele. “Uns dias antes, disse-lhes que achava que não ia conseguir fazer aquilo. Tinha perdido a confiança e não queria estar frente às pessoas, o que é estranho, porque é o que passei metade da vida a fazer. Foi difícil de explicar, mas tive de o fazer, senão podia ter acontecido alguma coisa muito má.
No lugar deles, teria ficado muito chateado, e eles ficaram. E provavelmente ainda estão. No entanto, temos de conhecer os nossos limites. Sei que, se tivesse continuado a insistir, o resultado podia ter sido desastroso. Decidi que tinha de tomar conta de mim.”
Embora tenha recebido todo o apoio possível dos seus companheiros de banda na altura do anúncio, Patton confessa não saber o que o futuro reserva. “Não sei. Podemos reagendar as coisas; ou não. É tudo um pouco confuso e complicado. Portanto, se o fizermos, tudo bem. Se não o fizermos, tudo bem também“.