HELLOWEEN

MICHAEL SCHENKER em Dublin: uma celebração dourada ao som de clássicos dos UFO.

Na passada sexta-feira, 9 de Maio de 2025, o Opium Live, em Dublin, foi o epicentro de uma celebração muito especial. MICHAEL SCHENKER, um dos mais carismáticos e virtuosos guitarristas da história do hard rock, está em plena digressão europeia com o espetáculo comemorativo dos seus anos com os lendários UFO. A tour, intitulada My Years With UFO – 50th Anniversary Celebration, serve de montra a uma carreira que moldou várias gerações de guitarristas e continua a encantar quem a testemunha ao vivo.

O concerto na capital irlandesa ficou marcado pelo regresso triunfal do vocalista Erik Grönwall, após uma curta ausência para tratar de assuntos familiares na Suécia, mas antes da lenda, os holofotes iluminaram o futuro. Os XIII DOORS, banda irlandesa oriunda de Shannon, no County Clare, abriram a noite e subiram a palco para apresentar o seu primeiro registo de estúdio, o entusiasmante «Into The Unknown».

Em apenas meia hora, o quarteto mostrou que sabe aproveitar cada segundo com arrojo e convicção. O arranque com «Unleash The Beast» e o tema-título do LP deixou claro que estamos perante uma banda que entende o legado do hard rock, mas o reinterpreta com identidade própria. DJ O’Sullivan, vocalista e guitarrista, destacou-se não só pelo timbre poderoso, mas também pelos solos que, por vezes, piscam o olho a Zakk Wylde, sem nunca cairem na imitação.

«See How You’ve Come So Far», «Inside» e «Lead The Way» fecharam uma actuação que funcionou ao jeito de uma declaração de intenções. O público respondeu com entusiasmo — e não é difícil perceber porquê. Os XIII DOORS são jovens, mas tocam como veteranos.

O prato principal, contudo, era outro. Quando as luzes da sala se apagaram ao som de «Immigrant Song» dos LED ZEPPELIN, o público percebeu que estava prestes a testemunhar algo mais do que um simples concerto. Era um tributo vivo, uma viagem emocional ao coração de uma era dourada do rock, guiada por quem ajudou a moldá-la. MICHAEL SCHENKER entrou em palco com a serenidade de quem sabe exactamente o valor que representa. A abrir, «Natural Thing» serviu de ponto de partida para uma actuação que combinou precisão, emoção e mestria técnica.

O alinhamento seguiu com clássicos incontornáveis: «Only You Can Rock Me», «Hot ’n’ Ready» e, logo a seguir, «Doctor Doctor» — cuja posição no alinhamento pode surpreender, sendo tocada tão cedo. Essa escolha, apesar de suscitar estranheza entre alguns fãs, não afectou o ritmo nem o impacto da noite. Pelo contrário: serviu de lembrete de que Schenker não precisa de se agarrar às fórmulas habituais para cativar uma audiência.

Com Erik Grönwall de regresso, o espectáculo ganhou outra dimensão. O vocalista sueco mostrou estar em excelente forma, demonstrando alcance, emoção e carisma. A sua abordagem aos temas de Phil Mogg é respeitosa, mas nunca servil: imprime-lhe personalidade, sobretudo em momentos como «Love To Love», onde se entregou também à guitarra acústica num medley que incluiu ainda «Lipstick Traces», «Between The Walls» e «Belladonna». Este segmento mais intimista criou um contraste emocional que enriqueceu ainda mais o espectáculo.

Seguiram-se momentos de pura catarse colectiva: «Mother Mary», «I’m A Loser», «This Kid’s» e também a sempre explosiva «Lights Out», recebida com entusiasmo pelo público dublinense. Na recta final, «Let It Roll», «Can You Roll Her» e «Reasons To Love» prepararam o terreno para um dos pontos altos da noite: «Rock Bottom», com a plateia inteira a cantar cada palavra, como se estivesse a celebrar as suas próprias memórias ligadas à música de Schenker.

O encore foi mais que simbólico, uma verdadeira comunhão entre artista e audiência. Após perguntar ao público se queria mais uma música, Schenker sorriu ao ouvir a resposta entusiástica — e brindou Dublin com «Shoot Shoot» e «Too Hot To Handle», encerrando em apoteose esta festa sonora de meio século de riffs e hinos imortais. Em suma, esta foi uma noite de reencontros — com canções, com um vocalista ausente e com uma história que continua viva.