Voltar a Coimbra é sempre uma experiência com contornos de rock’n’roll, de boémia e de bom ambiente. No mesmo dia dos ingleses Menace, tocavam numa sala a pouca distância os Mão Morta. Na mesma semana do concerto foi anunciado um festival organizado por Victor Torpedo que trará à cidade do Mondego nomes como os Devo, The Black Lips, The Fleshtones, Martin Dupont, A Certain Ratio, Gang Of Four, entre outros. Mas apesar de todo este aparato continuamos a ouvir as lamúrias de quem vive na cidade, recusando o título de “capital do rock” e afirmando que a cidade está morta. Como dizem os outros, “os mortos também dançam”. Para a estreia dos Menace em Portugal, numa sala bem composta apesar da concorrência, voltámos ao Atelier A Fábrica, onde no último verão assistimos ao magnifico concerto dos The Wasps num autêntico forno criado pela onda de calor que assolou o nosso território. Felizmente as baixas temperaturas de Fevereiro tornaram este evento bem mais agradável nesse aspecto.

A noite começou com os tripeiros Grito! a espalhar o seu streetpunk pela sala. Com a participação especial do vosso humilde escriba na segunda guitarra, vamos ter que manter a avaliação imparcial, mas consta que foi um bom arranque com os hinos tripeiros acompanhados pelo público já a marcar presença desde o primeiro acorde de «Droogs» até ao último berro de «Laranja Mecânica». Foram corridos maioritariamente os temas dos álbuns «É Do Caralho» e «Maldição», o ambiente aqueceu e as gargantas afinaram (e por vezes desafinaram, faz parte). Tempo para entrarem em campo os lisboetas Veneno California, para sujarem mais ouvidos com o seu punk-rock camafeu, uma mistura de The Stooges e Misfits com aquele toque tuga dos UHF ou Xutos embrionários, mas com solos de guitarra à séria. Arrancam com «Fim da linha» e vão percorrendo os temas do seu álbum de estreia. Não faltam os marcantes «Bastardos», «Rock Suicida», «Ruinas» ou «Lisboa». Rock de combate, suor a rodos, muita energia e entrega da parte do quarteto que sabe bem o que quer fazer e como o fazer. Um final em grande com «Aberto Até de Madrugada» e está instalada a festa n’A Fábrica.

E chega a vez dos Menace, banda seminal do punk britânico, nascidos em 1976. A banda, que após o término em 1979 com alguns singles de sucesso, regressou nos anos 90, tem mantido um percurso bastante activo com o fundador Noel Martin ao leme do barco. O concerto arranca em alta rotação com o novo tema «The Truth» e desbrava caminho com malhas como «Screw Up», «I Need Nothing» ou «I Don´t Care». «Carry No Banners», «I’m Civilised» e «Leave Me Alone» abrem alas para os momentos altos da noite com os clássicos «So Fuck You», «GLC» e «Last Years Youth» a merecerem invasões de palco e assalto aos microfones. O caos instala-se em frente ao palco e os sorrisos rasgam as caras dos presentes. Para finalizar em festa total uma cover de «Monkey Man» dos The Toots & Maytals, mas num ritmo mais 2 tone celebrizado pelos The Specials. Final apoteótico para uma prestação bem competente e enérgica, apesar da voz por vezes teimar em explorar tons diferentes… Parabéns Syndicat Sekt por mais uma missão concluída com sucesso.

FOTOS: Gomes