MELVINS

MELVINS: Três décadas de «Houdini»

Desde que se juntaram, corria o ano de 1983, os MELVINS transformaram-se num dos nomes mais respeitados da sua geração — aqui, recordamos um dos seus álbuns mais icónicos.

Massivamente influentes e altamente prolíficos, seja na sua iteração ao vivo ou em estúdio, os MELVINS já andam a escrever uma banda-sonora excêntrica e não conformista há quatro décadas. Mantendo os membros fundadores Buzz Osborne e Dale Crover na banda desde 1984, tiveram inúmeras iterações e forjaram um legado musical que, desde os anos 80, deixou uma marca indelével na face do rock como o conhecemos. Tanto tempo depois, permaneceram consistentemente relevantes por inúmeras tendências e mudanças de formação — e, feitas as contas, continuam a tocar com um nível que fica cada vez mais refinado com o passar do tempo.

E sim, é certo que não foram a primeira banda a reconhecer as influências do heavy metal que a maioria dos músicos underground andavam a evitar desde que o punk rock “rebentou” em 1977; essa honra vai para os Black Flag e para o «My War». No entanto, nenhum outro grupo surgido no underground do rock alternativo teve a ousadia de explorar tão a fundo, e com tanto impacto, o rugido lento e monolítico dos Black Sabbath.

Pelo caminho, os MELVINS atingiram verdadeiro estatuto de culto e ainda provaram ser extremamente influentes, abrindo as portas às afinações baixas e às batidas arrastadas que ícones do grunge como Tad, Mudhoney e Soundgarden exploraram no início das suas carreiras. Com o ícone Kurt Cobain a citá-los como referência a cada oportunidade, ajudando-os inclusivamente a conseguirem o primeiro contrato com uma editora “grande” em 1993, transformaram-se numa ponte entre as franjas mais liberais das comunidades punk e metal, que encontraram maior terreno em comum a partir dos 90s.

E sim, os anos de formação coincidiram com a ascensão do rock vindo de Seattle, mas os músicos nunca abraçaram nenhuma afiliação rígida ao grunge e sempre se mantiveram prontos a trocar de pele a cada passo.

Entre os artistas mais influentes dos últimos quarenta anos, os Melvins nunca desistiram de ser a banda mais pesada de todos os tempos. Desde o dia em que deixei cair a agulha no LP de estreia «Gluey Porch Treatments», senti-me inspirado pela abordagem deles, aquele ritmo sincopado, muito próprio, que também influenciou inúmeras outras bandas que os consideravam os reis do Noroeste. Ah, e obrigado por me darem o número de telefone dos Nirvana.” — Dave Grohl

Contando com mais de 30 álbuns e uma biblioteca incontável de EPs e singles num fundo de catálogo a que ninguém pode apontar grandes defeitos, nunca pararam de escrever, gravar e tocar. Assinaram com a Atlantic Records durante a explosão do grunge nos 90s e gravaram três álbuns no mesmo selo dos Led Zeppelin, The Rolling Stones e Aretha Franklin. Um deles, o «Houdini», foi editado a 21 de Setembro de 1993 e transformou-se num título seminal do rock, do movimento grunge e, em geral, da música pesada mais alternativa.

O icónico quinto álbum dos MELVINS, que passaram recentemente por Portugal, teve o dom de capturar o poder, a visão e a estranheza musical da banda em todo o seu esplendor; hoje, trinta anos e uns dias depois, é um lançamento essencial dos anos 90, combinando elementos do grunge com hard rock e sludge. Sendo o primeiro disco lançado por uma grande editora, o «Houdini» permanece como o maior sucesso do grupo a nível comercial, mas não se pense que Buzz e companhia amenizaram um grama que fosse do peso e antagonismo que sempre os caracterizou.

O som da guitarra é profundo e pesado e, quando combinado com o poderoso desempenho do parceiro Crover na bateria, soa realmente impressionante — e impactante. É o disco mais pesado dos MELVINS? Não, provavelmente o mais pesado mesmo é o «Bullhead». É o disco mais bizarro dos MELVINS? Não, o mais bizarro é mesmo o «Prick».

No entanto, é o disco onde a “experiência MELVINS” é mais acessível e executada com mais clareza. Com os recursos proporcionados de uma grande editora, a banda podia ter alterado o seu som, mas limitou-se a simplificá-lo, aprimorando o peso e surrealismo para um equilíbrio perfeito. Para um novo fã, esta pode bem ser a porta de entrada perfeita para explorar o restante da (já longa) discografia do grupo.