MEGADETH

AQUELA VERSÃO: MEGADETH vs. SEX PISTOLS

Mesmo sendo uma versão, muitos fãs colocariam provavelmente a «Anarchy In The UK» entre os dez temas mais importantes gravados pelos MEGADETH; o que, face à quantidade de êxitos no fundo de catálogo do grupo, é bastante significativo.

O ano era 1976. Tratava-se do primeiro single dos SEX PISTOLS. Polémicas e discursos sobre punk à parte, o resultado é que «Anarchy In The UK» é um hino. “I am an antichrist/And I am an anarchist/Don’t know what I want/But I know how to get it”, mais que suficiente para ficar na história da música e iniciar uma revolução. Respeito. Depois veio o final dos 70s e a juventude britânica, insatisfeita, resolve erguer-se na denominada NWOBHM para “combater” o punk e a new wave.

Antes o punk tinha-se erguido no “combate” ao hard rock e ao prog. Ciclos da música, que se repetem e renovam. Meia-dúzia de anos depois, do outro lado do Atlântico, putos uniam o punk e o metal para criarem o thrash. A união de opostos. Um certo Dave Mustaine, já se tinha especializado em colocar covers nos seus discos e, por acaso, até tinha bom gosto na forma como dava a volta aos temas. A banda era já MEGADETH, o gosto pelas versões vinha de um grupo anterior em que tinha estado, mas não gosta que se refira.

Ao terceiro álbum, parte para temas ainda mais directos e catchy, pelo meio os MEGADETH despejam uma versão de «Anarchy In The UK», com um USA cuspido a dada altura. Como Mustaine não teve acesso às letras, acabou a reinterpretar parte, por exemplo “another council tenancy” passou a “and other cunt-like tendencies“.

O tema acabou a revelar-se uma verdadeira bomba ao vivo, e ainda hoje é tocada, ao contrário de «The Mechanix», que lançou só para lembrar a todos que tinha estado no tal grupo que não gosta que se fale. Mustaine, não só trouxe a malha para os anos 80, como injectou uma energia que estava latente, mas apagada com o tempo. Provavelmente, muitos fãs dos MEGADETH colocariam o tema entre os dez principais do grupo, o que é significativo, face a tantos hits que o grupo possui.

Mais curioso ainda: apesar do original ter sido primeiro lugar no top de vendas britânico, a versão da banda norte-americana como que passou a ser o tema oficial. Muitos recordarão que esta era a canção que encerrava, por cá, os concertos dos saudosos W.C. NOISE, numa versão colada à impactante interpretação dos MEGADETH. Os MÖTLEY CRÜE também chegaram a fazer uma versão, com Vince Neil a conseguir tornar o tema ainda mais imperceptível e o arranjo de guitarras a conferir-lhe um ar de big rock. Desnecessária? Talvez, mas serviu para Mustaine e Sixx se reunirem em palco, em 2016, e tocarem o tema juntos, anos após serem rivais nos clubes de Los Angeles.

Entre as muitas versões que a canção recebeu, nota ainda para uma de 2010, com os THE BAD SHEPHERDS, em versão folk. Quase tão irónica como a de DMAN THE BARD. Execrável mesmo será a versão em bossa nova de TARYN SZPILMAN. Nem tanto a de Michael Des Barres, mas todas a conseguirem desvirtuar o tema. Como sempre, a música recicla-se, os ciclos fecham-se e tudo vale desde que no fim renda algum dinheiro. Até a anarquia, acaba ordenada.