A ‘This Was Our Life Tour’ assinala o fim de mais de quatro décadas de MEGADETH, uma das bandas mais emblemáticas do thrash.
Aos 64 anos, Dave Mustaine prepara-se para iniciar por fim a derradeira jornada da sua carreira com os seus MEGADETH. A digressão de despedida da lendária banda norte-americana, apelidada ‘This Was Our Life’, será lançada oficialmente no próximo ano e, segundo o músico, pode prolongar-se por um período surpreendentemente longo — entre três e cinco anos.
Numa nova entrevista à Kerrang!, o fundador e líder dos MEGADETH falou abertamente sobre a escala e o significado desta última digressão, que encerra mais de quatro décadas de história do grupo. “Estamos a falar facilmente de mais três a cinco anos de digressão”, revelou Mustaine. “E se for mesmo durante tanto tempo, caramba, vou chegar a um aniversário que nem quero pensar nele”, disse, aludindo com ironia ao facto de completar 70 anos em 2031.
A longevidade da carreira dos MEGADETH e, especialmente, da de Mustaine tem sido marcada por uma combinação de resiliência e reinvenção. Sobrevivente de uma luta prolongada contra a dependência de drogas e álcool, o músico também superou um cancro na garganta, um diagnóstico que chegou mesmo a pôr em causa o futuro da banda. Hoje, encara a despedida com um misto de serenidade e consciência. “Não estou obcecado com a longevidade ou com ser um daqueles tipos que tocam até depois dos 80 anos”, afirmou. “Tenho de me lembrar de que as pessoas vivem e morrem. E preciso de cuidar bem de mim.”
A This Was Our Life Tour não será apenas um adeus ao palco, mas também a celebração do percurso de uma das formações mais influentes do thrash. Desde a edição de «Killing Is My Business… And Business Is Good!» (1985), os MEGADETH cimentaram o seu estatuto como um dos pilares do género, lado a lado com METALLICA, SLAYER e ANTHRAX.
O adeus dos MEGADETH será acompanhado pela edição de um novo e último álbum, homónimo, com lançamento marcado para 23 de Janeiro de 2026. O disco sairá pela editora Tradecraft, de Mustaine, em parceria com o novo selo BLKIIBLK, do grupo Frontiers Label. Aquele que será o sucessor do aplaudido «The Sick, The Dying… And The Dead!», de 2022, promete ser o culminar da obra do quarteto — um testamento final que sintetiza décadas de riffs inconfundíveis e letras de guerra, desespero e redenção.
Entre as surpresas do álbum, uma em particular promete gerar curiosidade e debate: uma nova gravação de «Ride The Lightning», tema originalmente lançado pelos METALLICA em 1984, escrito em parte por Mustaine antes da sua saída da banda. Segundo o músico, incluir essa versão no disco foi uma forma de fechar o círculo. “Foi uma questão de mostrar respeito por onde tudo começou”, explicou ele. “Se vais fazer uma versão, tens de fazê-la pelo menos tão boa quanto a original — se não melhor.”
Questionado sobre se considerava a gravação uma “versão” propriamente dita, Mustaine respondeu sem hesitar: “Não. Porque também escrevi a canção. Acho que outras pessoas dirão isso, mas se me perguntares a mim, não acho que seja uma versão.” A decisão de revisitar o passado com «Ride The Lightning» acaba por carregar um simbolismo especial num momento em que o músico encerra o seu legado.
“Quando a terminámos, tocámo-la para algumas pessoas — fãs dessa banda e do tema — e o consenso foi o mesmo: fizemos uma homenagem digna. Acho que a fizemos tão bem quanto eles — talvez um pouco mais rápida”, disse Mustaine com um sorriso característico de quem, mesmo a despedir-se, mantém intacto o espírito competitivo que o definiu desde os primórdios do thrash.
Recorde-se que primeiro vislumbre ao vivo deste novo capítulo dos MEGADETH surgiu recentemente. Os músicos já lançaram um primeiro single de avanço, intitulado «Tipping Point», para o disco e, no passado dia 14 de Outubro, tocaram o tema pela primeira vez em palco no Ziggo Dome, em Amesterdão, durante a sua recente passagem pela capital neerlandesa como banda de abertura dos DISTURBED. A resposta foi entusiástica por parte da plateia, sinal de que o público está longe de querer despedir-se do Sr. Mustaine e companhia.
Se esta “despedida” se estender por cinco anos, como sugere o líder dos MEGADETH, será também uma celebração prolongada — uma homenagem à persistência, à reinvenção e à herança de uma banda que nunca se rendeu ao tempo nem às circunstâncias. “Preciso de cuidar de mim”, disse Mustaine. Mas, para milhões de fãs, a verdadeira missão agora é cuidar de cada momento que resta daquilo que sempre foi — e continua a ser — uma das forças mais intransigentes e inspiradoras do metal.
















