Num segundo dia de EVILLIVƎ FESTIVAL recheado de bons concertos, DAVE MUSTAINE e os seus MEGADETH representaram as cores do metal mais tradicional com uma classe invejável.
Formados em 1983 pelo guitarrista e vocalista Dave Mustaine, os MEGADETH continuam a ser uma das bandas de metal mais aclamadas e bem-sucedidas dos 80s e muito além. Com uma enorme dose de engenho, Mustaine expandiu o som do heavy metal, acelerou os tempos, colocou ênfase na habilidade técnica e rápida das guitarras e cuspiu letras niilistas com um rancor palpável. Esse novo som revelou-se implacável e, durante os anos 80 e 90, deu origem a vários clássicos do thrash.
O «Peace Sells… But Who’s Buying?», o «Rust In Peace» e o «Countdown To Extinction» são marcos de todo um estilo e venderam milhões de cópias. No entanto, a banda californiana nunca baixou os braços e, apesar de alguns percalços, continuou a editar música nova periodicamente e, verdade seja dita, a última década viu-os a recuperarem muito do vigor que, a dada altura, parecia irremediavelmente perdido. Essa tendência ascendente culminou na edição de «The Sick, The Dying… And The Dead», de 2022, que se afirmou como mais uma prova de vitalidade inegável e serviu de mote a mais um regresso a Portugal, desta vez para a estreia no EVILLIVƎ FESTIVAL.
Foi já depois das actuações dos W.A.K.O., EMPIRE STATE BASTARD, ELECTRIC CALLBOY e SUICIDAL TENDENCIES (e antes dos AVENGED SEVENFOLD tomarem a MEO Arena de assalto), que os norte-americanos MEGADETH subiram ao palco e assinaram uma actuação imaculada, a que nenhum fã poderá apontar outros defeitos que não seja o facto de, devido a óbvias limitações inerentes ao facto de não terem duas ou mais horas para tocar, alguns dos seus temas favoritos terem ficado de fora do setlist.
De resto, já era do conhecimento geral que, por esta altura, os MEGADETH são o Dave Mustaine acompanhado uma selecção internacional de músicos topo de gama contratados: o belga Dirk Verbeuren na bateria, James Lomenzo no baixo e, de há um ano a esta parte, o guitarrista Teemu Mäntysaari, que substituiu o brasileiro Kiko Loureiro no Verão do ano passado.
O que ainda não tínhamos tido oportunidade de comprovar é que esta é, muito provavelmente, a formação mais forte que tiveram nas últimas décadas, executando de forma incrivelmente limpa e imaculada o metal de precisão, muitas vezes singular, que sempre caracterizou o grupo de Los Angeles.
Aquando da última passagem dos MEGADETH por cá, em 2022, no Estádio Nacional, assistimos a uma actuação inconstante. O alinhamento, a revelar umas quantas escolhas algo supérfluas que acabaram dar origem a um espectáculo com tantos pontos altos como baixo, mostrou o quarteto em forma, mas a proporcionar ao público uma experiência bem capaz de ir ao êxtase ao limiar do bocejo em pouco minutos.
Quiçá cientes disso (ou terá sido apenas uma questão de sorte?), desta vez Mustaine e companhia escolheram um alinhamento que funcionou na perfeição e, desde o arranque da actuação, com o tema-título do mais recente álbum de originais seguido sem perder tempo pela clássica «The Conjuring», tiveram o público na mão do primeiro ao último instante.
Peso facto de insistirem em tocar a «Dread And The Fugitive Mind», que a espaços soa como uma revisão de uma canção bastante melhor, a «Sweating Bullets», que por acaso até foi tocada mais à frente no alinhamento, os MEGADETH regressaram rapidamente aos eixos tocando uma sequência de êxitos que incluiu a roqueira «Angry Again», os solos alucinantes e as mudanças de ritmo selvagens de «Hangar 18» e a já citada «Sweating Bullets».
Mesmo com a capa de «The Sick, The Dying… And The Dead» a decorar o fundo de palco, o colectivo manteve-se estoicamente em território familiar com «Kick The Chair», «Skin O’ My Teeth», «Trust» e «We’ll Be Back», o primeiro single do mais recente álbum, a antecederem a sequência final apoteótica.
Mustaine e companhia atirarem-se com afinco à santa trindade composta pelas colossais «Symphony Of Destruction», «Peace Sells» e «Holy Wars… The Punishment Due», e, claro, a plateia abanou a cabeça colectiva em aprovação, saudando uma actuação recebida, como todas neste segundo dia de EVILLIVƎ FESTIVAL, com um entusiasmo palpável por uma MEO Arena perto de esgotada.
ALINHAMENTO:
01. The Sick, The Dying… And The Dead! | 02. The Conjuring | 03. Dread And The Fugitive Mind | 04. Angry Again | 05. Hangar 18 | 06. Sweating Bullets | 07. Kick The Chair | 08. Skin O’ My Teeth | 09. Trust | 10. We’ll Be Back | 11. Symphony Of Destruction | 12. Peace Sells | 13. Holy Wars… The Punishment Due