MEGADETH

MEGADETH: À conversa com TEEMU MÄNTYSAARI [entrevista]

Aproveitando a passagem dos MEGADETH na segunda edição do EVILLIVƎ FESTIVAL, fomos conhecer um pouco melhor TEEMU MÄNTYSAARI, o novo guitarrista da banda.

Foto do header: Jorge Botas

Formados em 1983 pelo guitarrista e vocalista Dave Mustaine, os MEGADETH são uma das bandas de metal mais aclamadas e bem-sucedidas dos 80s e muito além. Com uma enorme dose de engenho, Mustaine expandiu o som do heavy metal, acelerou os tempos, colocou ênfase na habilidade técnica e rápida das guitarras e cuspiu letras niilistas com um rancor palpável. Esse novo som revelou-se implacável e, durante os anos 80 e 90, deu origem a vários clássicos do thrash.

Por esta altura, discos como «Peace Sells… But Who’s Buying?», «Rust In Peace» e «Countdown To Extinction» são marcos de todo um estilo, venderam milhões de cópias e influenciaram muito do que se fez neste espectro durante as últimas décadas. A banda norte-americana não parece, no entanto, nada interessada em ficar a descansar à sombra das suas enormes conquistas e aquele que é o seu mais recente LP, «The Sick, The Dying… And The Dead», editado em 2022, afirmou-se como mais uma prova de vitalidade inegável.

Aproveitando a recente passagem dos MEGADETH na segunda edição do EVILLIVƎ FESTIVAL, fomos conhecer um pouco melhor TEEMU MÄNTYSAARI, o novo guitarrista da banda.

Pelo que consigo perceber, estás no backstage de uma sala algures na Europa, certo?
Sim, correcto. Estou nos bastidores do Poppodium 013, em Tilburg, nos Países Baixos. Vai ser aqui que tocamos esta noite. Temos andado na estrada na Europa e esta digressão está a ser fantástica. Tem sido muito divertido. Públicos muito entusiasmados, em lugares diferentes. Já tocámos em alguns festivais e também fizemos alguns espectáculos em nome próprio, fizemos alguns concertos realmente grandes e outros mais intimistas também, por isso pode dizer-se que esta rota engloba o melhor de dois mundos.

Já passou quase um ano desde que te juntaste aos MEGADETH. Como tem sido a experiência?
Incrível! E sinto que melhora a cada dia. Pode parecer estranho, mas sinto que é verdadeiramente confortável. Sinto-me como se estivesse em família, sabes? Temos um grupo de pessoas muito bom, a banda, toda a equipa, o management e tudo o resto, por isso sinto que pertenço aqui. É uma sensação óptima.

No entanto, aposto que a tua vida mudou bastante neste último ano.
Claro. Digamos que se tornou um pouco mais agitada. Já estive em digressão antes, mas não a este nível. Tudo é um pouco maior, mas está tudo muito bem organizado também e isso torna as coisas mais fáceis. Posso concentrar-me realmente na minha arte, em ser bom a tocar e não tenho de me preocupar tanto com outras coisas mais periféricas, o que acaba por ser muito bom.

Foi fácil para ti adaptares-te a essa vida mais agitada, digamos assim?
Sim, diria que sim. Sempre adorei estar em digressão desde que comecei a fazê-lo. Fiz a primeira tour em 2005, quando tinha 18 anos, e isso fez-me apaixonar por este estilo de vida. Na verdade, tocámos neste mesmo local nessa digressão, por isso parece que estou a voltar a casa ao ver estes mesmos locais vezes sem conta.

Em relação à minha adaptação aos MEGADETH, a maior diferença é mesmo ter um horário um pouco mais apertado neste momento. No entanto, como referi, temos tudo bem organizado de forma a que não seja demasiado cansativo. Nos últimos meses andámos a fazer quatro semanas de digressão, passávamos quatro semanas em casa e, depois, fazíamos mais quatro semanas de digressão. É um bom equilíbrio.

Fala-me mais dessa primeira digressão quando tinhas 18 anos. Tens boas memórias?
Sim, sem dúvida. Essa primeira digressão que fiz foi com os Wintersun, andávamos a abrir para os Hypocrisy e Exodus. Portanto, foi uma digressão bastante grande logo para começar. [risos] Acho que foi neste mesmo local, aqui em Tilburg, que tive a oportunidade de tocar em palco com o Gary Holt pela primeira vez.


O que te levou a interessares-te por música?
Sempre adorei ouvir música desde pequeno. Havia sempre música, de diferentes tipos, a tocar em casa os meus pais. Quando era pré-adolescente, comecei a interessar-me mais pelo desporto, mas alguns dos meus amigos nesse círculo começaram a tocar guitarra e isso despertou também o meu interesse. Esses eram os mesmos amigos que, pouco tempo antes, me tinham mostrado pela primeira vez o heavy metal. Portanto, acabam por ser ele o principal catalisador para começar a tocar guitarra. Como pegámos todos na guitarra mais ou menos na mesma altura, estabelecemos ali um círculo de principiantes que tentavam aprender ao mesmo tempo, o que foi inspirador.

O metal, nas mais variadas vertentes, sempre foi muito popular na Finlândia, o que também deve ter ajudado, não?
Sim, foi muito inspirador crescer assim. Algumas das primeiras bandas por que me interessei eram finlandesas… Os Children Of Bodom, os Stratovarius, os Nightwish, os Sonata Arctica. Eles estavam todos a começar no final dos anos 90, quando comecei a interessar-me pelo heavy metal, por isso seguia-os a todos, ia aos concertos e era realmente inspirador ver que, mesmo sendo de um país pequeno, é possível fazer boa música e até mesmo ter uma carreira internacional.

Tens uma explicação para haver tanta gente interessada em música pesada num país, como disseste, relativamente pequeno?
Essa é uma boa pergunta. Já li alguns estudos sobre isso, e parece que existem vários factores que são relevantes. Diz-se que um deles é a educação musical. Acho que, em geral, há uma muito boa educação musical na Finlândia.

Talvez tenha também a ver com a escuridão, com aqueles Invernos muito longos e frios, durante os quais não podemos, pura e simplesmente, ir para a rua brincar ou o que quer que seja. Basicamente, temos de ficar em casa e, de certa forma, hibernamos, portanto temos tendência a… Tocar guitarra e praticar a tua técnica horas a fio. É bastante mais fácil fazê-lo quando não tens distracções.

Em Portugal, as pessoas queixam-se frequentemente do governo não dar mais apoio às artes. Na Finlândia deve ser bem diferente, não?
Sim, e acho que isso também faz toda a diferença. De certa forma, o heavy metal parece ser uma forma de arte muito respeitada na Finlândia e o governo parece apoiar tanto quando possível a exportação de música. Mesmo com as minhas bandas, sempre tivemos bons apoio e isso faz uma diferença enorme, definitivamente.

Na Finlândia, o heavy metal foi, de alguma forma, aceite como tendo um estatuto muito semelhante à música pop. Ouve-se frequentemente música bem pesada nas rádios e nos concertos de uma banda como os Nightwish, por exemplo, há pessoas de todas as idades, de crianças pequenas até aos seus avós.

Falaste na importância que os teus amigos tiveram na decisão de te dedicares à música. Houve alguma banda ou guitarrista específico que te introduziu ao instrumento?
Sim, houve várias bandas… E, por incrível que possa parecer agora, os Megadeth foram uma das primeiras que descobri, por isso receber o convite para tocar com ele foi mesmo muito fixe. Acho que, no início, o meu processo foi semelhante ao de muitos dos meus pares, fui descobrindo uma série de guitarristas diferentes… E muitos do tipo ‘shredder’, claro.

Eram os suspeitos do costume: o Steve Vai, o Joe Satriani, o John Petrucci e todos esses músicos fantásticos. Depois comecei então a cavar mais fundo e a seguir mais os músicos de fusão e também os de blues, porque um desses meus amigos estava realmente interessado nos blues quando começámos a tocar. Comecei a ter uma abordagem bem diversa à guitarra desde cedo, o que me permitiu crescer muito e, acima de tudo, desenvolver as minhas aptidões em diferentes tipos de expressão.

Disseste que os MEGADETH foram uma das primeiras bandas que te conquistaram… Como foi receberes o convite para ocupares o lugar deixado vago pelo Kiko Loureiro?
Aconteceu no Verão passado, e foi surreal porque nunca pensei que algo assim pudesse acontecer comigo. Por outro lado, sempre senti que estar preparado era importante caso uma grande banda como esta precisasse de mim e tenho facilidade em aprender rápido.

Gosto, por assim dizer, de ser atirado para novas situações e faço tudo o que está ao meu alcence para me sentir confortável, por isso sempre gostei de enfrentar novos desafios. Além disso, adoro ensinar, e também toquei em muitas bandas de versões, por isso sou naturalmente detalhado quando chega a altura de “tirar” os temas.

Como foi o processo de audição?
A banda não tinha a certeza do que ia acontecer. Não sabiam se iam precisar de um substituto, de um suplente ou algo do género. E fui contactado pelo Kiko. Ele ligou, explicou a situação e disse-me que talvez tivesse de faltar a uma digressão e precisasse de alguém que ocupasse o lugar. Na altura, ainda estava tudo meio incerto, mas ele perguntou-me logo se poderia fazer uns vídeos de audição.

Eu respondi afirmativamente, fiz esses vídeos e enviei-os. Depois estive ao telefone com o Dave e ele também explicou a situação, mas ainda fiquei à espera que me dissessem mais alguma coisa durante um bom tempo. Entretanto, acabei por conhecê-los rapazes durante uma digressão europeia e, nessa altura, até chegámos a tocar juntos um pouco. Acabou por ser apenas cerca de uma semana antes do início da digressão nos Estados Unidos que me confirmaram que já tinham o meu visto na mão e que iam mesmo precisar de mim.

E tu estavas pronto, claro.
Sim, nessa altura já tinha ensaiado praticamente todo o alinhamento.

Como descreverias a sensação de entrar em palco com a banda pela primeira vez? Emocionante, stressante, um misto de ambos?
Diria que foi, definitivamente, muito emocionante. Desde o primeiro momento em que recebi o convite, concentrei-me em fazer o melhor trabalho que podia, independentemente de acontecer ou não. Dei o meu melhor e pratiquei bastante, por isso não havia realmente tempo para reflectir ou stressar sobre isso.

Depois dos primeiros concertos, parecia estar num estado ainda mais calmo e, confesso, até fiquei um pouco surpreendido por não ter ficado mais ansioso. Provavelmente a situação mais stressante, que nem foi assim tão stressante, foi quando tocámos no Wacken Open Air. Conhecer o resto da banda pela primeira vez também foi um pouco stressante, mas não muito.

Na verdade, não pareces ser um tipo propriamente ansioso.
Não sou, não. Aliás, gosto de me ver como sendo bastante calmo. Muitas pessoas perguntam-me sobre isso, especialmente agora… Tendo muitos amigos que vêm ver os concertos e perguntam-me se não fico nervoso antes de subir ao palco. A verdade é que, desde que dei os meus primeiros concertos, sempre senti que, quando estamos bem preparado e sabemos o que estamos a fazer, não há razões para ficar nervoso, stressado ou ansioso. Claro, há muito jogo mental por trás disso. Se começas a pensar “vou estragar isto”, o mais provavel é que estragares mesmo.

Então é só manter a calma e confiança?
Sim, de preferência ao mesmo tempo. E, claro, tento sempre divertir-me tanto quanto possível, porque passarmos um bom bocado quando estamos em palco é crucial.

O que pode o público português esperar do concerto dos MEGADETH no EVILLIVƎ FESTIVAL?
A última vez que estive em Portugal, com os Wintersun, foi fantástico, por isso estou ansioso para voltar, desta vez com os MEGADETH. Acho que a banda está muito forte, num óptimo momento de forma. Os espectáculos desta digressão europeia têm sido muito bons e temos acrescentado ao alinhamento algumas músicas que não andávamos a tocar antes.

Ontem, por exemplo, tocámos um tema que os MEGADETH já não tocavam há, provavelmente, uns dez ou quinze anos. Portanto, acho que o alinhamento vai surpreender algumas pessoas, porque nos últimos anos tem sido um pouco estático e com poucas mudanças, mas agora vamos abrir com uma canção diferente do que era habitual, e adicionar algumas faixas menos conhecidas e também algumas mais recente. Penso que, provavelmente, isso pode não ser o que as pessoas esperam, mas espero que gostem.

Isso é fixe porque surpreende os fãs e mantém-vos alerta.
Definitivamente, as coisas ficam mais interessantes quando o alinhamento não é o mesmo todas as noites. É, para mim, o facto de eles querem incluir músicas menos habituais é muito inspirador. Todos os dias vamos à sala de ensaios nos bastidores, onde temos os amplificadores e um pequeno kit de bateria… E ensaiamos um bocado juntos, porque temos o alinhamento principal e canções que tentamos adicionar ao alinhamento. Normalmente, começamos por ensaiar, depois tocamos no sound check e, quando sentimos que estamos prontos, entra no setlist.

Timo, há alguma canção que gostarias mesmo de tocar e que ainda não tocaram?
Isso provavelmente remontaria à altura em que descobri inicialmente os MEGADETH, por altura do «Cryptic Writings». Talvez a «A Secret Place» ou a «Vortex»… Seria muito fixe tocá-las.

Vais conseguir convencer o Dave?
Vou tentar! [risos] Neste momento ainda temos algumas músicas na nossa lista de trabalho, que provavelmente vamos adicionar ao alinhamento em breve. Após esta digressão Europeia, vamos fazer uma longa tour de oito semanas nos Estados Unidos e talvez fosse fixe incluir algumas dessas músicas do «Cryptic Writings», mas vamos ver.

Entretanto, começaram a surgir pequenas pistas que indicam estarem já a escrever matreial para o sucessor de «The Sick, The Dying… And The Dead». Confirmas?
Bom, o que pode dizer neste momento é que estamos numa fase inicial da pré-produção, estamos a discutir coisas e a planear como será o processo e tudo o mais. Basicamente, estamos todos a reunir ideias sozinhos e, em algum momento, vamos unir os nossos riffs e ver o que podemos criar com eles. Isso vai acontecer, muito provavelmente, depois de terminarmos a tal digressão de que falei nos Estados Unidos. De resto, diria que ainda não há muito mais para falar sobre isso.