MAYHEM

Os MAYHEM e o inegável génio retorcido de RUNE “BLASPHEMER” ERIKSEN

Para assinalar mais um aniversário do talentoso RUNE “BLASPHEMER” ERIKSEN, que nasceu a 13 de Janeiro de 1975, analisamos a sua meteórica passagem pelos lendários MAYHEM.

Fundados em 1984, os noruegueses MAYHEM lançaram seis álbuns de estúdio, bem como várias demos, EPs e álbuns ao vivo desde então. Verdade seja dita, não são, como todos sabemos, gente propriamente prolífica no que a isto das edições diz respeito. Ou melhor, por um lado até devem ser porque, ao longo dos anos, têm invadido os escaparates com registos ao vivo, sendo uma das bandas do seu estilo que mais edições do género tem no fundo de catálogo. No entanto, não é propriamente disso que se fala aqui.

A estreia dos MAYHEM em álbum, o «De Mysteriis Dom Sathanas», de 1994, é considerada por muitos como o mais influente álbum de black metal de todos os tempos. Tendo-se afastado progressivamente de toda a controvérsia gerada nos primeiros anos da sua carreira, a banda continuou a empurrar limites e, hoje em dia, pode bem ser considerada uma das forças mais inovadoras do metal extremo e da arte sinistra, algo que se aplica tanto aos seus espectáculos quanto às suas recentes gravações de estúdio.

Como não será difícil de perceber, a cada vez que se dignam a presentear os fiéis com música nova, não há mesmo como não lhes prestar atenção. Foi assim com o «Wolf’s Lair Abyss», de 1997, que marcou o retorno à actividade depois da banda ter perdido dois dos seus elementos mais determinantes.

E também foi assim com o «A Grand Declaration Of War», que provou que não eram um one trick pony; aliás, foi sempre assim com os álbuns que editaram desde então, do «Chimera» ao «Esoteric Warfare», passando também pelo hermético «Ordo Ad Chao» e pelo mais recente «Daemon».

Ora bem, pelo caminho, os músicos, fosse qual fosse a configuração do colectivo, mostraram sempre uma vontade enorme em progredir, quiçá para não ficarem demasiado presos ao legado ou, quem sabe?, para se afastarem da pressão inerente ao facto de carregarem um álbum icónico na bagagem.

Não há, no entanto, como ignorar que quatro dos seis discos de originais lançados pelos MAYHEM nas últimas décadas têm o genial Rune “Blasphemer” Eriksen como espinha dorsal. Por um lado, foi ele que os trouce de volta à vida; por outro, proporcionou-lhes um sopro de criatividade sem precedentes.

Pelo estatuto, os MAYHEM têm sido, e serão sempre, de resto, alvo de escrutínio. Depois de, em 1987, terem gravado o selvático EP «Deathcrush», um apontamento mais curioso pela intensidade volátil da descarga do que propriamente pela qualidade da composição ou execução, a banda de Oslo sofreu várias mudanças profundas e, quando o primeiro longa-duração foi finalmente editado uns longos sete anos depois, após um período intensamente polémico e conturbado que não faz grande sentido estar a recordar mais uma vez, percebeu-se de imediato que tinham dado o proverbial passo de gigante.

Resultado da colaboração de Euronymous com Snorre “Blackthorn” Ruch, ele próprio outro pioneiro com os THORNS, o «De Mysteriis Dom Sathanas» elevou a um patamar superior de atmosfera mórbida uma sonoridade que ficaria para todo o sempre conhecida como true norwegian black metal.

Hoje, o Necrobutcher diz que nunca se identificou com o movimento e, sobretudo enquanto o talentoso Rune Eriksen esteve no grupo, os MAYHEM fizeram tudo o que estava ao seu alcance para quebrarem barreiras e conceitos, gravando álbuns progressivamente mais desafiantes e sufocantes, cerebrais ao ponto de quase se poder dizer que estávamos perante uma banda diferente, não só a nível de formação, mas também em termos de estética.

Depois, quando o actual estratega dos VLTIMAS (que têm novo LP a caminho), EARTH ELECTRIC e RUÍM abandonou os MAYHEM para se dedicar aos seus inúmeros projectos, foi como se, de repente, tivesse surgido o espaço necessário para se sentirem, de uma vez por todas, confortáveis com um passado que, feitas as contas, é genial… Não há, no entanto, como não admitir que as coisas acabaram por ficar também muito mais seguras, bem menos desafiantes.