MAYHEM

MAYHEM preparam novo assalto discográfico e atacam Vagos com fogo e sombra [entrevista]

O sucessor de «Daemon» já está a ser forjado — e, hoje à noite, o VAGOS METAL FEST recebe os MAYHEM em plena combustão criativa.

É hoje, Sábado, 2 de Agosto, que os icónicos MAYHEM sobem ao palco do VAGOS METAL FEST, numa altura particularmente simbólica para a banda norueguesa. Numa entrevista recente, o baixista Jørn “Necrobutcher” Stubberud revelou que o grupo tem estado em estúdio a gravar aquele que será o sucessor de «Daemon», lançado em 2019. A notícia surge num momento em que os fãs portugueses se preparam para mais um encontro com uma das entidades mais reverenciadas — e temidas — do black metal.

“Temos estado em estúdio a gravar um novo LP, que tem vindo a ser preparado há vários anos”, confirmou Necrobutcher. “O último álbum foi editado em 2019, portanto já se passaram seis anos. Mas isso é bom.” A longa espera, segundo o músico, tem razões artísticas e não logísticas. Longe de uma abordagem mais apressada, os MAYHEM preferem dar tempo ao tempo, permitindo que a inspiração se renove e que o processo criativo atinja o seu potencial máximo. “É mais honesto, penso eu, e melhor para todos que haja algum espaço entre os álbuns”, explicou. “Se lançarmos álbuns muito próximos uns dos outros, acabam por ser uma repetição do anterior, porque não houve tempo para encontrar nova inspiração.”

A metáfora que Necrobutcher usa para descrever o processo de composição é reveladora: “Comparo o compositor a um pintor. Pintas e pintas, e no fim é difícil saber quando parar. Quando é que o quadro está mesmo terminado? Com as canções acontece exactamente o mesmo. Escreves, soa muito bem, mas depois começas a questionar-te — será que aquele riff devia durar mais? Será que aquele outro devia repetir-se menos? E, no fim, já não sabes quando parar”, disse o músico à revista polaca Noise Magazine.

É precisamente por esse motivo que o baixista reconhece a importância dos álbuns ao vivo, como o mais recente «Daemonic Rites», de 2023. Segundo ele, as versões tocadas em palco são frequentemente as que melhor captam a verdadeira essência dos temas: “Depois de gravarmos uma música em estúdio, começamos a tocá-la ao vivo e ela muda. Chamamos-lhes versões ao vivo, mas na realidade são essas que mostram como o tema acabou por ficar. Gosto de lançar álbuns ao vivo por isso mesmo — há uma crueza, uma honestidade que não existe no estúdio, onde podemos polir tudo.”

O novo álbum dos MAYHEM está a ser preparado a partir de um conjunto muito significativo de ideias apresentadas pelos guitarristas Teloch e Charles GhulHedger. Segundo Necrobutcher disse ao podcast Everblack em novembro passado, existem já cerca de 20 maquetas ou “esqueletos de canções“, o que vem indiciar uma produção densa e, provavelmente, ambiciosa. A previsão é que o disco veja a luz do dia no final de 2025 ou no início de 2026, seguido de uma nova digressão mundial.

Tendo isso em conta, o concerto no VAGOS METAL FEST 2025 marca mais um capítulo na longa e intensa relação dos MAYHEM com o público português. Com quase mil espetáculos realizados em mais de 60 países, a banda norueguesa conta com uma base de fãs fiel e fervorosa por todo o mundo — e Portugal não é excepção. Desde actuações lendárias no Porto e Lisboa até passagens marcantes por festivais como o SWR – Barroselas Metalfest, os músicos encontraram sempre um público capaz de igualar a intensidade do seu black metal apocalíptico em território nacional.

O concerto de hoje à noite promete não só recuperar momentos fundamentais do reportório do grupo — que pode ir de «De Mysteriis Dom Sathanas» a «Daemon», passando por clássicos como «Freezing Moon» ou «Life Eternal» — como também dar pistas sobre a nova direcção musical que a banda está a explorar em estúdio. Embora ainda não tenham sido reveladas novas músicas ao vivo, os fãs sabem que cada actuação de Attila Csihar, Necrobutcher, Hellhammer, Teloch e Ghul é uma experiência de presença e poder ritualístico. Ao vivo, os MAYHEM invocam atmosferas, transportam o público e testam os limites da forma musical.

Fundados em 1984, os MAYHEM são um marco incontornável da história do black metal. A sua história — marcada por tragédias, escândalos e inovações musicais — ajudou a moldar o género e a estabelecer a estética que continua a influenciar milhares de bandas. Discos como «De Mysteriis Dom Sathanas», de 1994, «Ordo Ad Chao», de 2007, ou o mais recente «Daemon» são obras-primas que conjugam caos, técnica e uma visão estética singular.

No entanto, como mostram as palavras de Necrobutcher, a banda recusa viver do passado. O próximo álbum poderá muito bem ser uma nova afirmação da vitalidade criativa dos MAYHEM — um grito de angústia renovado vindo das profundezas da Noruega, pronto para incendiar o mundo mais uma vez. Para já, o palco de Vagos servirá como altar para essa antecipação. E se há algo que o público português aprendeu ao longo dos anos, é que quando os MAYHEM tocam, não há lugar para concessões — apenas para o terror sonoro absoluto.