Os MAYHEM em estado embrionário; um instantâneo de inocência, pouco antes das coisas “darem para o torto” de uma forma que ninguém poderia imaginar.

Embora a maioria dos metaleiros seja gente cumpridora, que paga os impostos e, geralmente, aparece para trabalhar no horário estipulado, sempre houve uma franja mais extrema que vê o heavy metal como uma religião. Para esses, os verdadeiros “crentes”, a estética funciona como um meio de ligação espiritual a uma força invisível e as letras são, muitas vezes, interpretadas como escrituras. Satanás torna-se real no sentido teológico. Deuses antigos, perseguidos durante séculos pelo colonialismo cristão, iluminam o caminho para uma nova geração de discípulos.

A ocorrência mais amplamente documentada do heavy metal como doutrina aconteceu nos anos 90, na Noruega, durante o auge da segunda onda do black metal. Centrado em torno da loja de discos Helvete, propriedade de Øystein “Euronymous” Aarseth, o The Black Circle desenvolveu-se como um colectivo de bandas e devotos que, a dada altura, acharam que a melhor forma de se rebelarem contra a socidade era incendiarem dezenas de igrejas medievais históricas. A história, por esta altura, é bem conhecida, e até já deu origem a um filme. Das bandas envolvidas, nenhuma mais se tornou mais notória que os MAYHEM.

Formados em 1984, os MAYHEM passaram por inúmeras mudanças de formação ao longo dos anos, a ponto de se discutirem épocas diferentes como se fossem bandas diferentes. Embora o período entre 1988 e 1991 tenha rendido apenas uma gravação em estúdio de duas canções («Freezing Moon» e «Carnage»), foi aí que se estabeleceu a estética de adoração à morte que se transformaria no modelo do black metal.

Tão, ou mais, importante quanto isso, foi o suicídio do vocalista dos MAYHEM, Per Yngve “Pelle” Ohlin, conhecido como Dead, em 1991, desencadeando uma cadeia de eventos que envolveria para sempre o movimento na infâmia e que, a 10 de Agosto, culminou com Varg Vikernes a assassinar Euronymous.

Com todas as lendas e todo o folclore, às vezes torna-se muito difícil assimilarmos a ideia que, na altura destes acontecimentos, os envolvidos tinham acaba de sair da adoleescência e, nesse contexto, torna-se fascinante ver esta filmagem bootleg de um ensaio dos MAYHEM em 1998, com Euronymous na guitarra, Dead na voz, Necrobutcher no baixo e Hellhammer na bateria. Pese a qualidade grosseira da gravação, o que temos aqui são 70 minutos de um grupo de jovens a tocarem algumas das canções de black metal mais icónicas de todos os tempos.