Os lendários MAYHEM ainda estavam a meio do ciclo de promoção ao seu mais recente álbum de estúdio, o muito aplaudido «Daemon», que foi lançado em Outubro de 2019, quando a devastadora pandemia que se abate sobre o mundo provocou a paralisação total das digressões e dos concertos. Felizmente, como o baterista Hellhammer gravou os temas do disco mais rápido do que o previsto, o quinteto – cuja formação fica hoje completa com Necrobutcher no baixo, Attila Csihar na voz e os guitarristas Teloch e Ghul – teve tempo mais que suficiente para gravar algum material extra… E, surpresa!, algumas versões de clássicos de punk hardcore. Este material surge compilado no novo EP, que parece ter sido propositadamente projectado para saciar os fãs de uma das bandas mais infames da história do metal extremo num momento de paragem forçada. Não deixa de ser curioso que, uma banda que sempre esteve tão profundamente arraigada no caos e na volatilidade, mantenha agora uma notável estabilidade de formação há mais de uma década. Vai daí, é essa solidez que mais se nota nos três originais incluídos aqui. Os do lado A, portanto; o Side Atavistic Black Disorder. A inédita «Voces Ab Alta» e os dois temas incluídos anteriormente apenas em algumas edições limitadas do álbum editado de há dois anos, «Black Glass Communion» e «Everlasting Dying Flame», são exactamente o que se espera da banda em 2021. Descargas negras, ocasionalmente ousadas e, mas sempre majestosas, que encaixariam como uma luva no alinhamento de «Daemon».
Portanto, até aqui, três temas volvidos, território familiar, apesar de mantendo o nível que se continua a esperar destes nouegueses. Convenhamos, também não era nessea temas que residia realmente a curiosidade aqui, uma vez que os músicos usam o lado B – ou, se preferirem, o Side Kommando – deste «Atavistic Black Disorder / Kommando» para destacarem um género que muito contribuiu para a fundação e criação do espírito dos (the true) MAYHEM. Já tendo prestado anterior vassalagem, ainda no tempo do Euronymous, à fonte primordial VENOM, desta vez os músicos focam-se no punk hardcore que serviu de banda-sonora a alguns deles. Não fosse só por isso, por mostrar a banda um pouco fora dos parâmetros mais usuais, a existência deste registo já seria mais que justificada. Convenhamos, não deve haver por aí muita gente que algum dia tenha imaginado como soariam os autores do «De Mysteriis Dom Sathanas» a fazer versões dos DISCHARGE, DEAD KENNEDYS, RUDIMENTARY PENI e dos RAMONES, mas aqui estamos; em 2021, a ouvir o Necrobutcher e o resto da alcateia a tocarem a «In Defense Of Our Future», a «Hellnation», a «Only Death» e a «Commando». Como é que as lendas do black metal norueguês se safam nesta aventura? Pedem ajuda aos ex-berradores Billy Messiah e Maniac (muito interessante a fazer as vezes de Jello Biafra) – e, mostrando uma clarividência salutar, mantêm a simplicidade dos originais e dão-lhes um toque de gelo cortante norueguês. Sem ser obrigatório ou essencial, é uma curiosidade engraçada. [7]