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“Eles ainda lhe chamam SEPULTURA, mas todos sabem que não é a mesma coisa — e nunca vai ser”, dispara MAX CAVALERA.

O final anunciado dos SEPULTURA continua a gerar ecos intensos entre os seus protagonistas de outrora. Em nova entrevista ao programa de rádio norte-americano Full Metal Jackie, Max Cavalera, guitarrista e vocalista fundador do grupo brasileiro, partilhou a sua perspetiva sobre o desfecho da banda que ajudou a transformar numa das entidades mais influentes da história do metal extremo.

Aos 55 anos, e após anos a revisitar os primeiros capítulos dos SEPULTURA ao lado do irmão Igor “Iggor” Cavalera, Max revelou sentimentos ambivalentes sobre o encerramento do ciclo da banda. “Sinto que — e não digo isto só por mim — muitos fãs acham que eu e o Igor carregamos o espírito dos SEPULTURA em tudo o que fazemos. Eles até podem ainda chamar-lhe SEPULTURA, mas toda a gente sabe que não é a mesma coisa. E nunca mais será”, afirmou o músico.

Desde 2022 que os irmãos Cavalera têm vindo a revisitar, ao vivo e em estúdio, os primeiros álbuns da banda — «Morbid Visions», «Bestial Devastation» e mais recentemente «Schizophrenia» — numa trilogia de regravações que pretende captar a fúria e o espírito cru da juventude, agora com uma produção mais sólida e uma execução mais refinada. Max explicou essa motivação de forma directa: “Há um grande tabu em regravar discos. Mas pensei: ‘Que se lixe. Vamos fazer isto como queremos, como fãs que somos daquilo que criámos’. Tocamos mais rápido e mais agressivo. Não queríamos um som digital moderno — queríamos que soasse cru, como se fosse ao vivo.”

Apesar da receção calorosa de muitos fãs, a decisão dos irmãos não colheu aplausos de todos os antigos companheiros de banda. Andreas Kisser, guitarrista dos SEPULTURA desde 1987 e uma peça central da formação que seguiu após a saída de Max em 1996, não escondeu o seu desdém pelas regravações. Em declarações ao IMPACT Metal Channel, Andreas criticou duramente a iniciativa: “Acho que o valor artístico é zero. Talvez estejam a ir atrás de dinheiro, não vejo outra razão para fazerem isso. Prefiro muito mais os THE TROOPS OF DOOM do Jairo [Guedz], que fazem uma homenagem honesta a essa era e ainda criam música nova.”

A crítica adensou-se quando Andreas questionou a coerência do discurso de Max: “É estranho ver um tipo que anda sempre a dizer ‘eu fiz isto, eu fiz aquilo’, ‘sou super criativo’, e depois faz esta porcaria de regravar riffs que fizemos há 30 ou 40 anos. Não bate certo.” Max, por sua vez, evitou responder directamente às farpas do antigo colega. Preferiu destacar a ligação emocional com a obra que criou ao lado de Igor: “Foi uma banda especial num tempo especial, e nós celebramos isso. Tenho muita sorte de o fazer com o Igor, independentemente do que os outros estejam a fazer.”

A tensão entre os ex-membros da banda não é nova. O ponto de ruptura surgiu em 1996, quando Max abandonou os SEPULTURA após o resto do grupo decidir afastar a sua esposa, Gloria Cavalera, do cargo de empresária. Igor ainda permaneceu mais uma década antes de também sair e, eventualmente, unir-se novamente ao irmão no projecto CAVALERA CONSPIRACY.

Apesar das diferenças insanáveis, todos os envolvidos parecem estar, à sua maneira, a prestar tributo a um legado que moldou o death/thrash e o metal extremo a nível global. No entanto, a forma como o fazem revela visões profundamente distintas sobre o que significa honrar um passado comum: para uns, é seguir em frente; para outros, é preservar e re-imaginar a chama inicial.