Sobre animais:
– Quando se mata uma galinha e ela tem muitas convulsões, mas não morre, é porque alguém sente pena.
– Quando um cão uiva, está a chamar desgraça. Para evitá-la, deve tirar-se de imediato os sapatos, virá-los de solas para cima e pôr os pés descalços sobre eles. Em seguida, deve dizer-se três vezes: “Maria, dá pão ao cão”.
– Para matar morcegos basta erguer um pau e gritar-lhes: “morcego, morcego, vem ao pau que tem sebo”.
Sobre a morte:
– Para nos livrarmos do fantasma de alguém acabado de falecer é preciso beijar-lhe os sapatos.
– Quando alguém morre e fica com os olhos abertos está a chamar por um familiar.
– Sonhar com um cemitério anuncia herança.
– Para matar alguém, dê-se-lhe a comer, sem que se saiba, terra de um cemitério.
– Na noite de núpcias, o primeiro que apagar a luz será o primeiro a morrer.
– Tem de matar-se os galos antes que cheguem a velhos, senão põem um ovo de onde nasce um lagarto que matará o homem da casa.
– Sair de casa com a cama feita é chamar a morte.
– Quando uma alma penada aparece e pergunta alguma coisa nunca se deve responder. Quem o fizer, morre.
– O fel dos defuntos rebenta ao sétimo dia e quem se ajoelha na campa de um morto antes dessa altura apanha imediatamente icterícia. Para sará-la, deve urinar para dentro de um tacho de barro e pô-lo ao lume até a urina evaporar. Depois deve deitar fora o tacho pela janela, por cima do ombro e de costas, enquanto diz: “assim como este barro se quebra, que se vá a icterícia embora”. Tem de repetir a operação durante sete noites.
– Não se deve deixar na mesa um pedaço de pão cortado com os dentes, porque as bruxas podem guardá-lo, enchê-lo de alfinetes e dar-lho a comer a um sapo: quando o sapo morrer, morre a pessoa que trincou o pão.
Sobre a água:
– Quem beber água com uma luz na mão, morre de repente.
– Pôr na água cabelos arrancados com as raízes transforma-os em cobras: à medida que as cobras crescem, vai morrendo a pessoa a quem pertenciam os cabelos.
– Depois da meia-noite, a água adormece. Quando se vai bebê-la, é preciso abanar o copo para que não se vingue por ter sido bebida enquanto dormia.
– Para que uma mulher faça gato-sapato de um homem só precisa de lavar um banco ou uma cadeira onde ele esteve sentado e dar-lhe à socapa essa água suja a beber: o homem obedecer-lhe-á até morrer. É a chamada “água do cu lavado”.
Algumas mezinhas:
– A melhor canja para dar a recém-nascidos faz-se com galinha preta.
– Para que as crianças tenham boas cabeças, deve esfregar-se-lhas todos os dias com sangue de mocho.
– Quando a mulher tem muito leite e o bebé não é capaz de bebê-lo todo, que ela dê de mamar a cachorros acabados de nascer – depois de mamarem, têm de ser mortos.
– Um tuberculoso que apanhe um xarroco vivo, lhe abra a boca, cuspa lá para dentro e o atire outra vez ao mar fica curado.
– Para curar dores de cabeça, deve-se esfregar três vezes a testa com um gato preto e cuspir-lhe três vezes para cima.
– Para a barba crescer mais depressa deve-se esfregá-la com sangue de morcego.
– A urina que fica na bexiga do porco acabado de matar é um óptimo remédio para curar o reumatismo, se for misturada num unguento feito com a banha do mesmo porco e alfazema.
– Para matar as lombrigas deve-se esfregar as costas do doente com sangue de galinha preta até criar bolhas: essas bolhas são provocadas pelas cabeças das lombrigas, que querem beber o sangue. Corte-se as bolhas com uma navalha e, assim, cortam-se as cabeças das lombrigas.
Sobre o Diabo:
– Não deve cortar-se as unhas à Sexta-Feira, porque é nesse dia que o Diabo corta as dele.
– Quem à noite tem medo do caminho e volta para trás, leva o Diabo atrás de si.
– Para falar de noite com o Diabo basta ficar à frente de um espelho com uma vela acesa na mão que ele aparece reflectido atrás de nós. Por outro lado, se virmos à noite o nosso reflexo num espelho que esteja numa divisão às escuras, vemos na realidade o Diabo que vem falar connosco, mostrando-se com a nossa cara.
Sobre coisas más que andam à solta:
– Quando alguém encontra uma coisa má durante a noite e descobre uma luz acesa em casa ao regressar, é porque foi enfeitiçado e já não tem cura.
– As nuvens que passam muito carregadas, estão cheias de excomungados, que, não podendo ir para o Céu nem para o Inferno, nelas ficam retidos. Ao verem passar essas nuvens, as gentes sofrem de enxaquecas. Quem manda nessas nuvens e provoca as tempestades que espalham os ares ruins dos excomungados é o Escolarão das Nuvens ou Secular das Nuvens: uma entidade maléfica que faz os raios e os trovões e se oculta na nuvem mais negra de todas. Para fazer um Secular das Nuvens basta matar um homem, mas lentamente e aos bocados. Começa-se pelos pés, retalhando a carne em pedacinhos, como se fosse para encher chouriços, e vai-se, dessa maneira, cortando o corpo todo, inclusive a cabeça, mas mantendo o homem vivo durante o maior tempo possível. Depois reúne-se toda a carne, ossos e sangue num alguidar, sem desperdiçar nenhum bocadinho, e conserva-se assim durante um ano inteiro. Findo esse período, o Secular das Nuvens, completamente formado, levanta-se do alguidar e voa, errante, pelos ares.