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AQUELA VERSÃO: MACHINE HEAD vs. «Message In A Bottle»

Desagradando a muitos, esta versão do original dos THE POLICE tornou-se, porém, num símbolo da diversidade que os MACHINE HEAD podem oferecer.

Formados em 1991 por Robb Flynn, que desde sempre ocupou o lugar de guitarrista e vocalista, os MACHINE HEAD estabeleceram-se como um dos nomes mais populares no metal norte-americano dos anos 90 e seguintes. Sem comprometer com um legado mais extremo, em que se inscrevem nomes como Testament, Slayer ou Pantera, o grupo partiu para um crossover com estilos mais comerciais que levou a que fossem acusados de ingressar no nu-metal por alturas do lançamento do seu terceiro álbum, o infame «The Burning Red».

É nessa tentativa de apelar a uma audiência mais vasta que surge a escolha peculiar de um velho tema dos britânicos The Police, que os MACHINE HEAD souberam tomar como seu no final do século passado. A versão original data de há duas décadas atrás, mais propriamente de Setembro de 1979. O grupo londrino liderado por Sting, que recebe as primeiras influências do punk emergente à época, mas que não abdica da veia pop dos anos 60, lança o tema por altura do seu segundo álbum.

A influência reggae, popular à época, cruza o tema. É uma história simples, com final feliz. Um náufrago lança uma garrafa com um pedido de ajuda e, um ano depois, não tem qualquer resposta. Subitamente, surgem respostas em catadupa. Nada de especial, mas a canção foi concebida ainda antes do best-seller de Nicholas Sparks, que depois se transformou num blockbuster de tarde de Domingo.

Em 1991, no álbum «Mush», os britânicos Leatherface resolvem fazer uma versão do tema e exponenciar o seu lado punk. No entanto, seria na versão dos MACHINE HEAD que o crossover de estilos acabaria por sobressair ainda mais. Com produção de Ross Robinson, «The Burning Red», terceiro disco do grupo, revelou-se desde logo bastante polémico, exactamente pela abordagem não linear, cruzando groove metal, com rap e nu metal.

Desagradando a muitos, tornou-se, porém, num símbolo da diversidade que os MACHINE HEAD podem oferecer, porém, sem perder todo o verdadeiro peso e melodia que a caracterizou desde os primeiros passos. Com a queda da componente romântica do naufrágio perdido, transformou-se também numa alegoria para personagens isolados e perdidos, em terra alheia ou momento temporal, que lançam um pedido de socorro.

Fosse escrita nos anos 20 do século XXI, e provavelmente esta mensagem na garrafa seria um post numa rede social, à procura de resposta, ou de quem responda. Nos anos seguintes, e agora quase um quarto de século depois, a banda de São Francisco continua a fazer isso melhor que ninguém. Cruzar correntes, estimular estilos. Tomar uma «Hallowed Be Thy Name» sem receio de irritar fãs dos Iron Maiden, e dar-lhe um toque próprio e moderno, é outro exemplo de como os MACHINE HEAD podem surpreender, sem negarem uma herança que ainda carregam. Esse é o poder do grupo que, a cada passagem por território nacional, cresce mais um pouco.

É lógico que muitas outras versões para o tema foram feitas. Por cá, a tarefa coube aos SLAMO, no álbum «Room With A View», de 2001. Conferindo uma roupagem mais electrónica ao original, com referências vocais influenciadas pela vaga grunge, a reinterpretação dos músicos nacionais também resulta muito bem. Já os 30 Seconds To Mars, em 2007, no single «AOL Sessions Undercover», renderam-se ao tema, fazendo uma abordagem mais pop, tradicional e sem grande ousadia.

Mesmo assim, essa acaba por ser mais interessante que a versão genérica dos AXXIS, de 2012. Como em todas as versões, ou se cumpre e se mantém alguma lealdade à normalidade, ou se faz arte e confere-se disrupção criando algo novo e, por isso, inédito. Neste caso, essa é a mais-valia dos MACHINE HEAD.