Que fique bem claro já neste primeiro parágrafo que o Campo Pequeno, em Lisboa, deu abrigo a uma das noites mais épicas de que há memória em muito tempo. Apesar de terem sido três dias bastante ocupados em termos de concertos na capital – na sexta-feira tivemos os Arch Enemy e Behemoth no Coliseu dos Recreios e, no Sábado, o concerto de estreia dos Seventh Storm no RCA Club –, a verdade é que o público mostrou continuar sedento de música ao vivo, sobretudo se for boa. Foi ao início da noite – ou ainda fim de tarde, uma vez que pouco passava das 18:20 – que os suecos THE HALO EFFECT subiram a palco para mostrar os temas do seu disco de estreia, «Days Of The Lost». São uma constelação de luxo, diga-se; para quem não sabe, o grupo é composto por ex-elementos dos In Flames e, ao vivo, mesmo sem Jesper Stromblad, apresentaram-se com o Patrick Jensen, dos The Haunted, na segunda guitarra. Portanto, pedigree é coisa que não lhes falta. Sem demoras, os músicos atiraram-se a sete temas do disco de estreia e tiveram trinta minutos para provarem que o death metal melódico sueco continua bem vivo e a recomendar-se. Apesar de curta, foi uma actuação letal, sem falhas, com bom som e a deixar aquela vontade de ver e ouvir mais.
Como se esperarava, e porque não podia ser de outra forma, de seguida os AMON AMARTH trataram de elevar sobremaneira os níveis de epicidade da noite, com um palco absolutamente épico e pirotecnia… A rodos, digamos assim. «Guardians Of Asgaard» deu início à actuação dos vikings suecos, que se prolongou durante cerca de oitenta minutos e que, certamente, tão cedo ninguém se vai esquecer. Com muitas chamas logo a abrir, os músicos seguiram para «Raven’s Flight», como ambiente na sala a voltar a aquecer. Convenhamos, é sempre bom apanhar uma data onde “a máquina” já vai bem oleada, e foi precisamente isso que Joahn Hegg e companhia nos deram nesta ocasião. Em «Deceiver Of The Gods», Loki marcou a sua incontornável presença e, além das enormes estátuas insufláveis em cada lateral do palco, a bateria assente em cima de um capacete viking com cornos de proporções épicas fizeram o gáudio dos fãs, com as figuras da mitologia viking a elevarem um tema como «The Way Of Vikings» a um nível superior de credibilidade. Tivemos direito também a uma sequência de temas do mais recente «The Great Heathen Army» com muito fogo à mistura, que incluiu uma rendição divinal de «Heidrun» – e claro que não faltou também o público a remar ao som da «Put Your Back Into The Oar», algo que só visto dá para perceber realmente a maravilha que é ter uma plateia e uma banda completamente em sintonia. Hegg esforçou-se, e bem para falar em português, e bastou dizer um palavrão para levar o público ao rubro, que também recebeu o brinde de «Raise Your Horns» de braços abertos. A actuação chegou ao fim com o épico – lá está, a palavra mais usada na noite de ontem – «Twilight Of The Thunder God»,com Johan a entrar em palco de Mjolnir na mão e bater no chão para originar uma valente explosão. Certo, há quem diga que os AMON AMARTH são muito azeiteiros, mas o azeite é saudável e o consumo deste recomenda-se em barda.
A encabeçar a noite, os MACHINE HEAD protagonizaram um muito aguardado retorno a Portugal e, apesar dos vikings terem dado muito trabalho aos seguranças, o melhor – ou o pior, para os presentes no fosso – ainda estava para vir. Foi ao som de «Diary Of A Madman» que o quarteto preparou a sua entrada em palco e foi com «Become The Firestorm» que Robb Flynn e companhia deram início às hostilidades, com muitos elementos do público a voarem sob a barreira. De resto, a banda contou com um som bastante poderoso e os elevados decibéis – provavelmente ainda há muita gente que esteve nas filas da frente com os ouvidos a zumbir – foram uma constante ao longo da noite. No entanto, não obstante o volume, ouvia-se tudo na perfeição. Seguiram-se «Imperium» e «Ten Ton Hammer» e, depois, «I Am Hell»,com chamas que devem ter queimado as pestanas dos fãs que estavam mais próximos do palco. Na plateia, muitos circle pits e mosh pits foram uma constante também ao longo da actuação, com os seguidores a delirarem e nada a apontar de mau a apontar aos MACHINE HEAD. Talvez curta para alguns – foram apenas dez temas originais, dos quais se destacou o clássico «Davidian», com chamas que davam para um belo barbecue –, a actuação incuiu ainda excertos de «Raining Blood»,dos Slayer, e «The Number Of The Beast», dos Iron Maiden. Para o final, ficou «Halo», muitos confettis e muita vontade de ver esta digressão novamente – ou qualquer uma destas três bandas em nome próprio.