O relatório global da LIVE NATION mostra que 70% das pessoas escolheriam ver o seu artista favorito ao vivo em vez de uma experiência sexual.
Numa época em que os preços dos bilhetes para concertos continuam a subir e o debate sobre o acesso à cultura se intensifica, a Live Nation, a gigante mundial da promoção de espectáculos ao vivo, divulgou um estudo que promete gerar discussão: segundo os dados, a maioria das pessoas prefere um concerto a uma relação sexual. Intitulado “Living For Live Global Study”, este estudo foi conduzido pela empresa em quinze países e com uma amostra de 40 mil participantes entre os 18 e os 54 anos.
A conclusão? 70% dos inquiridos escolheriam assistir a um concerto do seu artista favorito em vez de ter sexo, uma diferença considerável face aos 30% que optariam pela segunda hipótese. A Live Nation apresenta o estudo como uma demonstração da força do fenómeno dos concertos ao vivo, mesmo num contexto em que os custos de bilhetes atingem valores históricos.
De acordo com dados da Pollstar, citados depois pela Business Insider, o preço médio dos bilhetes para as 100 maiores digressões de 2024 rondava os 135 dólares — uma subida bem acentuada relativamente aos cerca de 96 dólares registados cinco anos antes. Ainda assim, os resultados da pesquisa indicam que uma experiência de espectáculo ao vivo continua a ocupar um lugar prioritário para o público. A empresa diz ainda que os concertos proporcionam “um sentido de pertença, comunhão e catarse emocional que outras formas de entretenimento dificilmente igualam”.
O estudo baseia-se, segundo a Live Nation, numa combinação de inquéritos e também de análises de comportamento digita . Além da amostra principal de 40 mil pessoas, foi conduzido um “estudo global personalizado” envolvendo mais de mil utilizadores frequentes das redes sociais em oito países. Ainda assim, levantam-se questões.
A empresa não esclarece em detalhe como foram ponderadas as diferentes fontes de informação — nem se o volume de publicações sobre “concertos” e “sexo” nas redes sociais analisadas teve influência directa nos resultados. Essa ausência de transparência metodológica levou alguns observadores a questionar até que ponto os números refletem uma preferência genuína, ou antes um reflexo da forma como as pessoas se expressam publicamente.
A pesquisa incluiu ainda uma pergunta adicional: se só pudesse escolher um tipo de entretenimento para o resto da vida, qual escolheria? A resposta foi clara. A música ao vivo ficou em primeiro lugar, com 39% das preferências, seguida das “sessões de cinema” (17%) e os “eventos desportivos profissionais” (14%). Esses dados reforçam a ideia de que os concertos continuam a representar algo mais profundo do que um simples momento de lazer.
Para muitos, trata-se de uma experiência coletiva e emocionalmente intensa, capaz de gerar memórias duradouras e uma sensação de pertença a uma comunidade global. Note-se ainda que a divulgação deste novo estudo surge num momento particularmente controverso para a indústria dos espectáculos ao vivo. As críticas à Live Nation e à sua subsidiária Ticketmaster têm aumentado nos últimos anos, com acusações de práticas monopolistas, taxas abusivas e uma crescente inacessibilidade económica para o público comum.
Apesar disso, a empresa parece querer a reforçar a narrativa de que, independentemente dos preços, as pessoas continuam dispostas a investir nas experiências ao vivo. Num mercado em que os concertos se tornaram tanto um produto de luxo como uma necessidade emocional, o estudo da Live Nation serve, sobretudo, como um argumento de marketing — mas também como espelho de uma época em que o prazer da música ao vivo rivaliza, simbolicamente (e aparentemente), com o prazer mais íntimo.
Também recentemente a Live Nation divulgou outro estudo em que afirma que “o heavy rock e o metal estão maiores que nunca na música ao vivo”,
Em última análise, este relatório levanta mais questões do que respostas: final, o que levará alguém a preferir um concerto a um momento de intimidade? Será a magia da comunhão, a adrenalina do palco, ou simplesmente a nostalgia de uma experiência que o digital (ainda) não consegue reproduzir para as massas? Seja qual for a interpretação, uma coisa é certa — para uma larga maioria, o som da multidão parece valer mais do que o silêncio do quarto.















