Os LIMP BIZKIT e o álbum que levou o nu-metal ao seu auge absoluto, transformando Fred Durst e companhia em ícones culturais.
O calendário marcava o ano 2000, e o mundo do rock estava em mutação. As guitarras distorcidas tinham encontrado um novo terreno de conquista nas batidas do hip-hop e, no epicentro dessa fusão explosiva, estavam os LIMP BIZKIT. O grupo oriundo de Jacksonville, na Florida, liderado sempre pelo carismático e controverso Fred Durst, vinha de um sucesso colossal com «Significant Other», de 1999, e todos os olhos estavam postos no que fariam a seguir.
O resultado foi «Chocolate Starfish And The Hot Dog Flavored Water», um disco tão provocador quanto triunfante, que acabou por catapultar o nu metal para a estratosfera e consolidou os LIMP BIZKIT como o fenómeno global que conhecemos hoje. Numa entrevista recente, o guitarrista Wes Borland recorda esse período com uma mistura de confiança e ousadia criativa.
“Tínhamos um disco enorme para seguir, mas não nos sentíamos inseguros. Estávamos bastante confiantes e sabíamos o que queríamos fazer. Eu sabia que ia ser diferente de «Significant Other» — e melhor”, disse ele à Louder Sound. Para assegurar a dimensão sonora que procuravam, os LIMP BIZKIT chamaram Terry Date para a produção — o mesmo nome responsável por álbuns históricos dos Deftones e Pantera — e abriram as portas do estúdio a colaborações improváveis, de Scott Weiland a Swizz Beatz, passando por rappers de peso como DMX, Method Man e Redman na versão alternativa de «Rollin’ (Urban Assault Vehicle)».
Essa liberdade criativa reflectia a posição privilegiada da banda no virar do milénio: estavam no topo e podiam literalmente escolher com quem queriam trabalhar. Mas havia mais do que ambição técnica — havia um verdadeiro espírito de reinvenção. Fred Durst sintetizou-o com precisão: “As pessoas estavam excitadas com sons novos, com a música urbana a entrar na música pesada. Pela primeira vez, pessoas que gostavam de estilos diferentes encontraram algo em comum. Foi um momento em que todos os planetas se alinharam, e todos partilhámos isso juntos.”
O processo de gravação foi, nas palavras de Borland, espontâneo e enérgico: “Estávamos todos na mesma sala, a escrever e a gravar à medida que as ideias surgiam. Houve um dia em que estávamos a ouvir tudo e o Fred disse: ‘Acho que já está.’” Para Sam Rivers, o baixista, aquele período foi sinónimo de pura euforia: “Olhando para trás, foi tudo um borrão. Provavelmente o tempo mais divertido da minha vida; festas todas as noites e nenhuma pressão. Foi tão divertido.”
Até o título do álbum nasceu dessa atmosfera de descontracção e humor interno. “Chocolate Starfish” era ironia de Durst, que usava o termo como forma de brincar com a sua reputação controversa, enquanto o Sr. Borland contribuiu com uma piada sobre o sabor de uma marca de água aromatizada. “Era a minha versão de «Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band». Eu era o idiota, e os outros podiam ser os totós,” riu-se Durst numa entrevista.
Contudo, por trás do riso, havia tensão. O sucesso monumental dos LIMP BIZKIT trazia também o peso de uma indústria faminta por lucros. “Havia bons momentos, mas a editora estava a pressionar, a perseguir o dinheiro,” admitiu Durst à Rock Sound. “Foi uma altura estranha da minha vida. Havia tanta negatividade na imprensa, e até os meus ídolos, como o Trent Reznor, falavam mal de mim.” Wes Borland confirma que a tensão era uma constante: “Sempre houve algum conflito, mas era assim que funcionávamos. Ainda assim, o processo de escrita deste álbum foi fácil.”
A 17 de Outubro de 2000, o mundo recebeu o «Chocolate Starfish and the Hot Dog Flavored Water». E o impacto foi imediato. O disco entrou directamente para o primeiro lugar do top da Billboard, vendendo mais de um milhão de cópias só na primeira semana — um feito sem precedentes para um álbum de rock desde o início da era SoundScan em 1991. Durante duas semanas, manteve-se no topo, tornando-se um dos lançamentos mais bem-sucedidos da história do género.
Borland confessaria mais tarde: “Nunca pensei que os Limp Bizkit fossem ficar tão grandes. Quando o disco vendeu um milhão na primeira semana, foi absurdo. Chegou um ponto em que tudo ficou tão grande que já não dava para perceber o quanto estávamos a crescer e acrescer.” Ainda assim, a ascensão meteórica dos LIMP BIZKIT tinha sido cuidadosamente preparada. Meses antes do lançamento, o single «Take A Look Around», incluído na banda sonora de Mission: Impossible 2, dominava as rádios e a MTV. Misturando o riff icónico de Lalo Schifrin com a estética pesada da banda, o tema garantiu à banda uma nomeação aos Grammy.
Quando chegou a hora de lançar o álbum, os LIMP BIZKIT já estavam imparáveis. Uma semana antes, apresentaram dois novos singles — «My Generation» e «Rollin’ (Air Raid Vehicle)». A primeira, com o seu groove infeccioso e referências a The Who, Guns N’ Roses, Spice Girls e até ao filme Titanic, mostrou Fred Durst no auge da sua ironia e domínio mediático. “It’s my generation,” berrava ele, não como tributo, mas como declaração de posse de uma era que o próprio ajudava a moldar.
Em retrospectiva, o «Chocolate Starfish And The Hot Dog Flavored Water» foi mais do que um sucesso comercial — foi um retrato cristalino de um momento em que o rock, o rap e a cultura pop colidiram de forma irrepetível. Um álbum que dividiu opiniões, mas que capturou o espírito rebelde de uma geração que se via reflectida na raiva, na excentricidade e na vulnerabilidade de Fred Durst e dos LIMP BIZKIT.
Em 2025, tantos anos depois, continua a ser um marco incontornável do início do milénio. Amado e odiado em igual medida, é impossível negar que, por um breve e intenso período, os LIMP BIZKIT foram o centro do universo — e o «Chocolate Starfish and the Hot Dog Flavored Water» o seu planeta mais brilhante.















