A última visita dos noruegueses LEPROUS ao nosso país aconteceu nos dias 28 de Fevereiro e 1 de Março de 2020 e Einar Solberg, o vocalista da banda, fez questão de referi-lo durante esta actuação, frisando que esses foram os dois últimos concertos que deram antes da pandemia alterar radicalmente a vida de toda a gente durante um par de anos. Mas já lá iremos. Para este regresso há muito esperado, o público compareceu em grande número ainda as portas não tinham sequer aberto, o que evidenciava desde logo o interesse em experienciar também as bandas ‘suporte’. À hora marcada, subiram ao palco os KALANDRA, escolhidos para começarem a aquecer os ânimos nesta tour. Timidamente, O quarteto norueguês conseguiu criar paisagens atmosféricas interessantes e levar os presentes a uma viagem pelos fjords e florestas cobertas de neve com o seu folk nórdico com alguns momentos esporádicos de algum peso. Verdade seja dita, não seria de estranhar que a sua música fizesse parte da banda-sonora de uma série noir escandinava sobre neve, lagos gelados e frio. A vocalista Katrine Stenbekk informou-nos também que esta era a primeira vez da banda em Portugal, mas a julgar pela reacção dos presentes o impacto foi deveras positivo. O set culminou com o crescendo de «Brave New World», que fechou o concerto com aquele que foi o primeiro pico intensidade da noite.
Depois de um arranque ambiental e esotérico, o ambiente transformou-se na presença dos britânicos MONUMENTS. Revelando uma energia contagiante desde o primeiro segundo, o vocalista Andy Cizek procurou puxar pela plateia e conseguiu arrancar aos presentes os primeiros movimentos energéticos. Munidos do seu mais recente lançamento, o muito bem conseguido «In Stasis» de 2022,foi nesse registo que basearam a actuação, com a banda a apoiar uma boa parte da força do seu metalcore progressivo nos riffs graves e nervosos do guitarrista John Browne, no alcance vocal invejável de Andy Cizek (que facilmente passa de um berro gutural para uma linha melódica aguda como se fosse a coisa mais natural do mundo), no baixo competente de Werner Erkelens e a bateria demolidora de Mike Malyan, No final, mostraram porque são um dos nomes mais badalados do momento quando a conversa é sobre novas bandas prog — e nem os problemas técnicos com o baixo mancharam uma performance competente.
No entanto, por esta altura era mais que notório que todos estavam à espera dos LEPROUS. Desde a última passagem por terras lusas, a banda cresceu bastante e teve tempo de editar mais um disco, intitulado «Aphelion», aquele que é já o sétimo LP da carreira que teve início em 2001. Algo que se notou desde logo foi o upgrade feito ao jogo de luzes, e a colocação de painéis de leds atrás do baterista — que, com o formato de pirâmide a evocar o artwork do último disco demonstraram ser um elemento extra para ajudar na criação de diferentes ambientes e texturas durante a actuação. A ajudar à festa, uns dias antes do arranque desta rota, os noruegueses fizeram questão de anunciar nas redes sociais a intenção de alterarem o alinhamento para cada espectáculo. Isso, claro, ajudou a criar um elemento surpresa que, nos dias que correm, muitas vezes está ausente. Ainda assim, conforme tem acontecido, iniciaram com «Have You Ever?», do mais recente disco, com os músicos a entrarem em palco um de cada vez e a assumirem as suas posições, mas foi com a seguinte «The Price» que o público aderiu realmente em massa, cantando o riff inicial de guitarra em uníssono.
Algo notório quando se experiencia os LEPROUS ao vivo é a enorme capacidade que esta gente demonstra para criar verdadeiras tapeçarias sónicas. Com todos os elementos interligados entre si em várias camadas de guitarras, baixo, sintetizadores, bateria, voz e violoncelo que, por vezes, podem soar “fora de tempo” ao ouvido mais destreinado, na verdade não estão. Essa alquimia não está ao alcance de todas as bandas e estes noruegueses tão num patamar em que fazem com que tudo isso pareça fácil. Seguindo no alinhamento, num momento bastante sentimental, «Castaway Angels» foi dedicada ao povo da Ucrânia e foi colada na perfeição com «From The Flame», uma canção que resume bem o ADN da banda, com o verso complexo em que parece que cada instrumento está para seu lado, mas que depois culmina num refrão poderoso que foi cantado com emoção pelo público. Einar esteve bem mais comunicativo e solto, tendo inclusivamente tornado o alinhamento interactivo podendo o público escolher entre quatro opções: «Running Low», «The Silent Revelation», «Stuck» ou «The Valley». Após várias tentativas de votação com braços levantados por parte dos presentes, a decisão acabou por pertencer ao membro da audiência que conseguiu agarrar a garrafa de água vazia lançada pelo vocalista. Ganhou «The Valley», do velhinho «Coals», de 2013. O espectáculo terminou com o palco iluminado em tons de vermelho para a apoteótica «The Sky Is Red» e, numa altura em que parece que todos os dias há concertos e por vezes mais do que um a acontecer no mesmo dia, a sala lisboeta estava muito bem composta. Agora é cruzar os dedos apenas para não termos de esperar novamente três anos para o regresso destes monstros do prog ao nosso país.