E foi um bom dia. Talvez o mais equilibrado e, em certos momentos, até surpreendente. Começou com os BASALTO, num péssimo horário para doom. Excesso de luz. Escassez de público. Acontece que esta gente é uma máquina todo o terreno e soube não deixar créditos por mãos alheias. Não é, de resto, à toa que o trio viseense é falado e tem vindo lentamente a criar adeptos. Arrancaram com um dos seus temas vocalizados e, durante a sia actuação, executaram alguns dos seus dezoitos temas, num concerto encurtado pelos próprios face à duração dos de dias anteriores. Metidos no cartaz face às alterações, os BLAME ZEUS conseguiram encontrar fãs entre o escasso público. Mesmo assim, revelaram-se naturalmente um erro de casting, pois o estatuto do grupo merece outra hora e qualidade de luz. Tal como várias bandas, mais ou menos interessantes, que passaram pelo período da tarde, tiveram de enfrentar o deserto de público. O mesmo se passou com os NIHILITY, último nome na dança das alterações. Algum público que os conhecia, um vocalista mais sólido que no passado, embora ainda palavroso. Nem sempre com o melhor som, mostraram-se estruturalmente mais monótonos que em disco. De qualquer forma, não é fácil ser chamado de véspera e assumir um concerto como o fizeram. No caso dos espanhóis ETERNAL PSYCHO, a receita é misturar rock orelhudo, com metal e uma componente visual. Nada de incomum por terras vizinhas, mas uma tendência que começa finalmente a mudar, com bandas devidamente estruturadas a oferecer boa música. Neste caso, ajudaram a animar a festa e obviamente que muitos irão falar deles e guardar este concerto na memória. Não será pela música, mas isso reflecte mais uma atitude do público que das bandas. Foi giro? Claro que foi. Talvez.
Pelas 21:00, começou o festival a sério e os BENIGHTED simplesmente romperam tudo. Veio o mosh. Veio o som. Veio a luz. Chegou o metal. Não que antes as bandas não se tivessem esforçado, mas sem público a vibrar, falta uma das partes essenciais da cultura do metal. A própria Cristina Scabbia, horas mais tarde, acabaria porreferir essa necessidade de público frente ao palco. No caso do quarteto francês, o seu grindcore trouxe energia, mas porventura demasiada para alguns que já aguardavam pelos italianos. Coesos, com Julien Truchan conversador, mas de forma concisa e nunca mais que necessário. Uma boa mostra do que poderá vir no próximo XXXapada Na Tromba. De seguida, os DOWNFALL OF MANKIND foram a bomba do festival. Visualmente, surpreenderam; musicalmente, arrasaram. Depois de terem atropelado tudo e todos, alguns ainda se tentaram levantar para tentarem perceber o que tinha acontecido. Obviamente que o grupo ainda precisa de ser mais conhecido e passar a fase em que apenas são chamados de “estes”. É claro que Lucas Bishop é a banda e o dínamo que move toda a máquina. Imaginar naquele mesmo cenário, um vocalista da linha “’bora lá caralho”, corta imediatamente a adrenalina causada pela passagem deste petardode deathcore. Verdade seja dita, dificilmente conseguem um palco e condições como aquele que tiveram nesta ocasião, mas nem sempre existem unhas para assegurar uma prestação.
Finalmente, dois anos depois do planeado, Portugal, e o LAURUS NOBILIS MUSIC em particular, reencontraram-se com os LACUNA COIL. E o reencontro foi bom. Profissional sim, se calhar demasiado automatizado para alguns, mas exactamente aquilo que os fãs pediam. Pelo menos, aqueles mais habituados a esta versão mais americanizada do quinteto. Scabbia é a cara do grupo, já a sua voz, nem sempre surge tão destacada como merece. Andrea Ferro, embora sempre na procura do segundo plano, acaba a aparecer mais do que se poderia prever pela escuta dos discos. Num prenúncio do disco que está para vir, houve espaço para a nova versão de «Tight Rope», naquilo que foi estreia europeia para esta revisão que aí vem de «Comalies». Em «Downfall», tema “escrito em momentos mais negros”, Cristina pediu luzes, fossem isqueiros ou telemóveis, a que o público acedeu. Quase no final, tempo para «Enjoy The Silence», versão dos DEPECHE MODE, e a conclusão foi feita com «Veneficium». O encore, realmente merecido, surgiu com «Our Truth», «The House Of Shame» e «Nothing Stands In Our Way». Terão sido os italianos a melhor banda do festival? Se calhar, sim. No entanto, os DECAPITATED foram também excelentes, embora num registo diferente. Ambos souberam agradar ao seu público e cativar ainda mais alguns, sem polémicas ou aparato. O poder da simplicidade da música, para um público simples, num festival que se deseja simples.