Como referido aqui, ao final da primeira noite era já sabido que seriam feitas alterações ao cartaz. Na realidade, alterações que se revelaram de peso e esvaziaram o espírito do dia, que se previa ser o mais negro dos três e até o mais intenso. Trocando a coisa por “miúdos”, os polacos HATE e os suecos AT THE GATES não compareceram à chamada, e a actuação dos também polacos DECAPITATED foi antecipada um dia, com os nacionais RAMP a revelam-se a boia de salvação entre tantas trocas e baldrocas. Face a este “novo” cartaz, o arranque com os SONNEILON foi um completo erro de casting, não por qualquer falta de esforço da banda, mas pela ausência de contexto. Digamos que corpse paint às 16:00, numa tarde quente e com pouca assistência, retira toda a mística exigida a um nome de black metal. Acrescente-se aqui a falta de gente a assistir à actuação, o mesmo problema de que também sofreram os GRINDEAD. Com disco «Culture Decline / Machines Arise» finalmente cá fora, os grindsters do Porto assentaram o seu concerto no mesmo. Potentes e avassaladores como sempre, não conseguiram evitar a imagem da banda em pleno esforço face a uma paisagem quase vazia. Se, durante o dia anterior, já era previsível uma diminuição de público, ao longo do dia as expectativas confirmaram que estaria claramente menos de um terço dos presentes no dia anterior.
Com os palcos a alternarem, ao contrário do dia anterior, em que apenas duas bandas tiveram acesso ao palco principal, os MOONSHADE inauguraram-no neste segundo dia. Sofreram com as consequências de um concerto à luz do dia, percebendo-se que ganhariam bastante com algum efeito de luzes. No entanto, mesmo assim, a actuação acabou por surpreender pela positiva. Com este concerto a acontecer precisamente no dia em que colocavam cá fora um novo disco, «As We Set The Skies Ablaze», o grupo mostrou sólido com a sua visão do melodeath. Destaque particular para o vocalista Ricardo Pereira, com boa presença em palco, que contou com a ajuda da vocalista Sandra Oliveira nos dois últimos temas do alinhamento. O tech deathcore dos espanhóis COUNTERACCT foi interessante, faltando a comunicação com o público. Tecnicamente interessantes, actuaram claramente para uma audiência diferente daquela a que estão habituados e num momento em que o espírito dos festivaleiros não era o melhor. Acabaram por ser o nome menos importante no balanço final do dia. Não deixa de ser curioso que, em Espanha, a sua terra natal, este quinteto se orgulhe de ser “banda suporte” de um nome luso, THE VOYNICH CODE, e por cá suba logo uns degraus à frente de outros nacionais.
Pelas 21:00, e o cumprimento de horários tem sido algo a louvar no festival, subiram ao palco os polacos DECAPITATED. A sua antecipação em 24 horas passou a imagem de se terem tornado cabeças-de-cartaz substituindo os AT THE GATES, mas tendo em conta a duração de actuação, pouco mais de uma hora, e posicionamento no cartaz, não foi isso que aconteceu. De qualquer forma, a banda de Vogg foi tão brilhante quanto intensa e, de longe, assinaram a melhor prestaçãodos primeiros dois dias. Intensos, compactos, brutais. O primeiro mosh pit digno desse nome foi criado a meio do set da banda e a movimentação não parou até ao último tema. Além disso, se tivessem sido medidos os decibéis, certamente que os DECAPITATED levavam o prémio. A energia do vocalista Rasta é incrível e o groove sonoro do quarteto revelou-se eficaz para animar corpos apáticos. De certa forma, foram os RAMP que vieram salvar a situação. Foi-lhes destinado encabeçarem o palco secundário, força da necessidade de alternar entre os dois espaços. Nesta dança de horários e substituições, atribuírem o palco secundário à banda de Almada foi provavelmente o gesto mais acertado entre as decisões tomadas no furacão de mudanças. “Vamos tornar este palco o principal”, disse Rui Duarte logo entre os primeiros temas. E assim aconteceu, durante mais de uma hora os cinco músicos mostraram porque conseguiram o estatuto que têm hoje em dia. Nada melhor que atirar gasolina para um fogo arder melhor. E foi isso que fizeram aos RAMP. Mesmo com os temas novos ainda a revelarem-se estranhos ao público, o grupo carburou na potência máxima e mostrou merecer o palco principal. A adversidade sempre serviu ao papel de Rui Duarte, um eterno underdog, palavroso, com aquele espírito de pregador revolucionário, mas que continua a saber rosnar. Falando dos portugueses, podia falar-se também dos RAMP nesta noite: “Não somos bons, nem somos maus, somos do caralho!”.
Para fechar o dia, chegaram de Israel os ORPHANED LAND. Banda acarinhada pelo público nacional, que já teve muito melhores e maiores audiências por cá do que nesta segunda noite do LAURUS NOBILIS MUSIC. A sua música é bem feita, confortável. Os músicos são bons e trazem consigo o exotismo do Médio Oriente que lhes confere um toque único. Kobi Farhi movimentou-se graciosamente em palco e falou do seu país dividido em guerras pela religião. Referiu o amor por Portugal e a sua revolução nos anos 70, sem sangue. O agrado por Zeca Afonso, pelo fado e pelos Moonspell foi algo que ficou bem patente, de resto. O cantor revelou-se até o que poderia ser um bom conviva para um jantar de Sábado, trocando impressões sobre culturas e música. Acontece apenas que se estava numa sexta-feira à noite, e a expectativa era para o death metal dos AT THE GATES. A seguir tocaria ainda uma banda de homenagem aos PANTERA e, para o terceiro dia, já corriam rumores de novas mudanças no cartaz.