LACUNA COIL

LACUNA COIL: Novo álbum, «Sleepless Empire», para ouvir na íntegra [review + streaming]

A trajectória dos LACUNA COIL sempre foi marcada por mudanças e reinvenções ousadas. Portanto, se «Sleepless Empire» for realmente o último suspiro do estilo actual, ninguém sabe o que o futuro reserva.

Após meses de teasing, os italianos LACUNA COIL regressam com «Sleepless Empire», o décimo álbum de estúdio de uma carreira sempre em crescendo. Sucedendo a «Black Anima» de 2019, o novo registo nasce na sequência das sessões de «Comalies XX», o remake do icónico terceiro álbum da banda. Diz o comunicado de imprensa que «Sleepless Empire» oferece “bandas-sonoras ricamente texturizadas para um tempo e lugar específicos, criando uma atmosfera sombria e cinematográfica que permanece fiel à essência do grupo“.

Ao longo de sua carreira, os LACUNA COIL navegaram por três eras musicais distintas, cada uma marcada por mudanças estilísticas significativas. A primeira fase foi marcada por um som sombrio e carregado de doom, culminando em «Comalies», que capturou perfeitamente o equilíbrio entre melancolia gótica e melodias envolventes. Esse disco não só estabeleceu a identidade da banda, como também abriu portas para um público mais amplo, graças à sua acessibilidade melódica.

Com o lançamento de «Karmacode», os LACUNA COIL abraçaram um som mais moderno, incorporando influências do metal mainstream dos anos 2000. A mutação trouxe um tom mais pesado e dinâmico, evidenciado pelo baixo à la KORN e pela atitude mais aguerrida que permeia também o sucessor «Dark Adrenaline». O período de experimentação durou cerca de oito anos e encontrou o seu ponto mais fraco em «Broken Crown Halo», um LP que, apesar de explorar atmosferas sombrias, foi recebido com opiniões divididas pela crítica e pelos fãs.

A reviravolta veio depois, com «Delirium», que marcou o início de uma fase mais agressiva e energizada. O som renovado atingiu o seu ápice em «Black Anima», um álbum que fundiu o peso groove do meio de carreira com a profundidade gótica das origens da banda. Esse equilíbrio sofisticado não só revitalizou os LACUNA COIL como também estabeleceu um novo padrão de qualidade, prolongado agora com esta nova colecção de temas.

Recentemente, Cristina Scabbia explicou que o título «Sleepless Empire» reflete a constante necessidade de produtividade e conexão virtual do mundo actual. Estamos sempre acordados, constantemente a tentar ser produtivos, a tentar estar super ligados ao resto do mundo, mas, ao mesmo tempo, acho que nunca estivemos tão desligados e ansiosos, confessou a vocalista, abordando a ironia de um mundo hiper conectado que gera isolamento e inquietação.

Tendo em conta o conceito, «Sleepless Empire» apresenta-se como uma continuação evolutiva de «Black Anima», ampliando um pouco mais o ambiente de ruína emocional e introspecção. No entanto, como em todos os álbuns dos LACUNA COIL até aqui, há um subtil realinhamento de energia — e, desta vez, um peso acrescido nas composições. A luta pela clareza numa sociedade cada vez mais complexa surge como tema central em temas como «Oxygen» e «Gravity», unificando o álbum numa experiência coesa, e as onze faixas respiram em uníssono, destacando-se quando ouvidas de seguida.

O álbum abre com «The Siege», onde percussão intensa e electrónica envolvente dão o tom para o tema. No entanto, é na transição fluida entre o gutural de Andrea Ferro e a melodia envolvente de Cristina Scabbia que reside o verdadeiro poder da canção. A dupla, com mais de um quarto de século de experiência conjunta, aperfeiçoou esta dinâmica a um ponto que roça a perfeição. Cristina eleva «Oxygen» a alturas sublimes, encontrando beleza na escuridão densa das guitarras. Contudo, é «I Wish You Were Dead» que se destaca como o hino gótico do álbum, com um sarcasmo mordaz e um refrão pegajoso.

Randy Blythe, dos LAMB OF GOD, e Ash Costello, dos NEW YEARS DAY marcam presença em «Hosting The Shadow» e «In The Mean Time», respectivamente. No entanto, as suas participações são tão subtis que quase passam despercebidas um testemunho da força identitária dos LACUNA COIL, por este é um álbum que soa inegavelmente a eles.

Pesem alguns riffs menos inspirados e a produção — apesar da agressividade e da energia, a mistura soa excessivamente comprimida e, por vezes, abafada — «Sleepless Empire» representa um momento de transição. Este disco marca uma mudança significativa na formação da banda, com Marco Coti Zelati a assumir as guitarras além das habituais funções como baixista, compositor e produtor, substituindo Diego “DD” Cavallotti. Embora Zelati seja um músico talentoso, a verdade é que a sua abordagem não alcança o impacto de «Black Anima». Em «The Siege» e «Never Dawn», os riffs soam repetitivos e carecem de força.

Com uma carreira marcada pela dualidade entre o sombrio e o melódico, pelo peso visceral e pela beleza gótica, a verdade é que os LACUNA COIL, que tocam por cá em Outubro, continuam a seduzir e a desafiar os fãs. O «Sleepless Empire» pode muito bem não ser o ápice da jornada musical da banda de Milão, mas é um testemunho firme de evolução constante. Por tudo isso, a sensação que fica é de que estamos a testemunhar ao final de um ciclo e, se tudo correr como tem sido costume na carreira dos LACUNA COIL, ao prenúncio de uma nova direcção musical.