KING DIAMOND

KING DIAMOND entra no panteão cultural da Dinamarca

O mestre do oculto e pioneiro do metal KING DIAMOND foi distinguido pelo contributo à cultura dinamarquesa e pela projecção internacional da sua obra.

A Dinamarca reconheceu oficialmente um dos seus filhos mais singulares e subversivos: King Diamond. A Fundação Dinamarquesa de Artes anunciou a atribuição do seu prémio honorário a cinco artistas pelo conjunto da obra, e entre os distinguidos figura o lendário vocalista, compositor e mestre da teatralidade sombria. O galardão, que premeia aqueles que marcaram a cultura nacional e levaram o nome do país além-fronteiras, vem acompanhado de um valor monetário de 189 mil coroas dinamarquesas — cerca de aproximadamente 25 mil euros.

O texto da fundação, lido durante a cerimónia, é inequívoco na celebração da importância do músico: “King Diamond, cujo nome de baptismo é Kim Bendix Petersen, tornou-se uma das figuras mais lendárias e visionárias do heavy metal a nível mundial. Com o seu falsete penetrante, forte presença teatral e universo narrativo oculto, criou uma linguagem musical e visual totalmente própria.”

A homenagem descreve também King Diamond como o responsável por “colocar a Dinamarca no mapa mundial do heavy metal já nos anos 80”, tanto com os MERCYFUL FATE como com a sua banda em nome próprio. O texto prossegue sublinhando a natureza única das suas actuações: “No palco, ele transforma os concertos em teatros sombrios – um ritual onde contos góticos, personagens macabros e cenografia repleta de simbolismo se fundem. A sua característica ‘corpse paint’ e seu pedestal de microfone, uma cruz invertida feita de ossos humanos, tornaram-no numa figura icónica.”

Mais do que um músico, King Diamond é descrito como um criador de universos — um contador de histórias que funde o horror, o sobrenatural e a música pesada numa só entidade artística. A fundação reconhece que “cada álbum é um capítulo de uma ópera de terror maior”, onde temas como o destino, a morte e o ocultismo se entrelaçam num romance gótico de intensidade teatral.

“Durante décadas, consolidou-se como uma figura de culto, um artista a solo num género repleto de ícones. Com integridade inabalável e coragem artística, King Diamond criou um universo sombrio e fascinante que cativou fãs ao redor do mundo – e continua a crescer em poder e mitologia.”

Nascido em Copenhaga, em 1956, Kim Bendix Petersen iniciou o seu percurso musical no ano de 1974, passando por várias bandas da cena local — os Brainstorm, Black Rose e Brats — aantes de conhecer o guitarrista Hank Shermann, com quem fundaria os MERCYFUL FATE. Entre 1981 e 1985, o grupo lançou alguns dos álbuns mais influentes do heavy metal obscuro, como «Melissa» e «Don’t Break The Oath», que ajudaram a moldar o som e a estética do metal extremo, muito graças às letras satânicas, aos riffs labirínticos e à voz inconfundível de King Diamond.

Após a dissolução inicial dos MERCYFUL FATE, o músico iniciou uma nova etapa com o projecto KING DIAMOND, em que desenvolveu plenamente o seu gosto por narrativas conceptuais e ambientes bem cinematográficos. Discos como «Abigail», «Them» e «Conspiracy» são hoje considerados obras-primas do metal narrativo, cada um deles contando histórias de terror gótico com rigor musical e teatralidade absoluta.

A ligação com Hank Shermann manteve-se viva ao longo das décadas, levando a novas encarnações dos MERCYFUL FATE, nomeadamente entre 1992 e 1999 e desde 2019, período em que o colectivo regressou aos palcos com o entusiasmo lendas reerguidas. Paralelamente, King Diamond colaborou com nomes tão diversos como PROBOT, VOLBEAT ou CRADLE OF FILTH, expandindo o seu legado a novas gerações de músicos e fãs.

Para além do papel musical, King Diamond sempre se afirmou como uma figura de convicções filosóficas firmes. Um dos raros artistas do género a identificar-se publicamente com o satanismo LaVeyano, foi dos poucos que sempre rejeitou o uso superficial do simbolismo satânico, encarando-o como uma filosofia de liberdade individual e rejeição da hipocrisia religiosa. Essa dimensão espiritual e conceptual impregna tanto as suas letras como a sua presença em palco.

Resultado: ao longo de cinco décadas, King Diamond transformou a escuridão em arte e o heavy metal em teatro. Com esta distinção, a Dinamarca não apenas homenageia um dos seus artistas mais ousados, mas reconhece também o impacto universal de um criador que fez do macabro uma forma de beleza. E King Diamond, o homem que fez do palco um templo do sobrenatural, é agora oficialmente celebrado no seu país natal — como ícone, visionário e embaixador da arte obscura.