KILLSWITCH ENGAGE

KILLSWITCH ENGAGE @ LAV – Lisboa Ao Vivo | 29.09.2025 [reportagem]

Vinte anos depois, o muito aguardado regresso dos KILLSWITCH ENGAGE a Lisboa materializou-se numa noite histórica de metalcore, com direito a sala esgotada, estreia de Jesse Leach em Portugal e três primeiras partes em dose intensa.

Ontem à noite, a Sala 1 do LAV – Lisboa Ao Vivo foi palco de um acontecimento que ficará certamente gravado na memória dos fãs de metal portugueses. Mais de vinte anos depois da sua última (e única) passagem pelo nosso país, os KILLSWITCH ENGAGE regressaram finalmente a Portugal. O concerto não foi apenas um regresso: foi também a estreia da banda com Jesse Leach na voz em território nacional, um momento aguardado com ansiedade desde a sua reintegração na formação em 2012 — e algo que tanto o cantor como a banda referiram várias vezes durante a actuação.

A sala estava totalmente esgotada há já várias semanas, o ambiente foi, claro, de comunhão absoluta e, mesmo que o som tivesse deixado algo a desejar — com a bateria demasiado proeminente a engolir as guitarras que precisavam de mais definição—, a noite transformou-se numa celebração histórica. Ainda antes do prato principal, Lisboa recebeu três bandas que ajudaram a transformar a noite num verdadeiro mini-festival.

Os britânicos EMPLOYED TO SERVE deram início à contenda com uma descarga de fúria controlada, marcada pela entrega visceral da endiabrada vocalista Justine Jones, cuja presença em palco parecia galvanizar cada breakdown. Apesar do curto tempo em palco, a banda britânica deixou claro porque é considerada um dos nomes mais promissores do metal moderno feito em terras de Sua Majestade, e criou de imediato uma atmosfera de intensidade que contagiou a sala.

A seguir, os polacos DECAPITATED ergueram a já habitual parede sonora de death metal técnico e implacável, assente nos riffs cortantes de “Vogg” e numa secção rítmica que manteve o público em permanente agitação. Foi um contraste notável: depois da energia mais crua de Justine Jones e seus companheiros, a precisão milimétrica dos polacos ofereceu uma vertente mais cerebral, mas igualmente devastadora.

Já os norte-americanos FIT FOR AN AUTOPSY trouxeram ao LAV a abordagem mais moderna da noite, cruzando deathcore ultra pesado com passagens atmosféricas e quase cinematográficas. O vocalista Joe Badolato não se poupou a esforços na comunicação com a plateia, incentivando os circle pits e preparando terreno para o clímax que viria a seguir. Entre a brutalidade, a técnica e a fúria contemporânea, as três bandas de abertura mostraram não ser meros aperitivos, mas parte fundamental do impacto global da noite.

Quando os KILLSWITCH ENGAGE subiram finalmente ao palco após um ligeiro percalço com a introdução, a explosão foi imediata. O arranque deu-se com «Strength Of The Mind», um manifesto da era moderna da banda norte-americana. Apesar do som ainda pouco equilibrado, a energia era inegável, com Jesse Leach a conquistar de imediato o público. Logo a seguir, o grupo atacou a incontornável «Rose Of Sharyn», que fez a sala explodir num dos primeiros grandes coros da noite, provando que o legado dos tempos de Howard Jones continua profundamente enraizado na memória colectiva de quem os segue há mais de vinte anos.

A intensidade prosseguiu com «Reckoning» e «Aftermath», dois temas que, embora menos conhecidos do grande público, serviram para consolidar a atmosfera. A sala estava já em ebulição quando chegou «Numbered Days», com aqueles riffs demolidores a levarem o público a abrir as primeiras rodas de mosh a meio da sala. «This Is Absolution» e «No End In Sight» mostraram o peso característico da banda em todo o seu esplendor, com os refrões a ecoarem pela sala, sucedidos pela agressividade de «Broken Glass».

A meio da actuação, os KILLSWITCH ENGAGE confirmaram que, apesar da ausência longa, a noite não seria apenas sobre nostalgia. «Hate By Design», com a sua mensagem incisiva contra o ódio e a intolerância, foi recebida em uníssono pelo público, provando a actualidade lírica de Leach. Logo a seguir, «Forever Aligned» trouxe um momento mais recente ao repertório, talvez menos familiar para alguns, mas interpretado (e recebido) com a mesma entrega avassaladora.

A sala atingiu novos picos de intensidade com «The Signal Fire», um tema originalmente gravado por Jesse Leach em dueto com Howard Jones e que em Lisboa ganhou vida própria. O público assumiu o papel de segundo vocalista, criando uma onda sonora que rivalizou com o próprio PA. Já «I Believe» constituiu um dos poucos momentos de respiro emocional, com Jesse a deixar a vulnerabilidade da letra vir à tona e a plateia a acompanhá-lo com uma atenção reverente. Prova de que o alinhamento da actual digressão foi construído como uma viagem, essa intensidade emocional estendeu-se a «The Arms Of Sorrow», onde a melancolia das guitarras contrastou com a brutalidade que dominara o concerto até então.

No entanto, o ambiente não arrefeceu por muito tempo: «In Due Time» trouxe de volta a energia, com a sala a transbordar em coros, preparando o caminho para a retca final do espectáculo. Na última parte, os clássicos foram sucedendo-se sem tréguas. «This Fire» incendiou a plateia, que respondeu com mosh e headbanging incessante, «My Curse», um dos temas mais aguardados da noite, foi cantada palavra por palavra por todos os presentes. A «The End Of Heartache» surgiu logo a seguir, carregada de emoção e intensidade, numa interpretação que quase fez o teto da sala colapsar com o peso de um refrão intemporal, de arrepar, entoado em uníssono por uma horda de devotos que viram ali um sonho tornar-se realidade.

Para encerrar, os KILLSWITCH ENGAGE brindaram Lisboa com «My Last Serenade», um dos temas fundadores do seu estatuto no metalcore, que se revelou um desfecho perfeito para uma noite em que cada segundo foi vivido ao limite. Com as últimas notas a soarem, a banda despediu-se dos fãs em clima de gratidão, com um Jesse Leach visivelmente emocionado por, finalmente, ter tido a oportunidade de cantar pela primeira vez em Portugal num reencontro que demorou duas décadas a concretizar-se.

Verdade seja dita, as falhas técnicas nunca chegaram a ofuscar a entrega da banda nem a devoção do público, que transformou o LAV num local de catarse colectiva. Lisboa esperou demasiado tempo por este momento, mas a noite de ontem mostrou que a espera valeu a pena e se, em anos recentes, já tínhamos assistido a concertos memoráveis de bandas como os PARKWAY DRIVE ou os BRING ME THE HORIZON, que encheram o Campo Pequeno com um espectáculo mais próximo do mainstream, este regresso dos KILLSWITCH ENGAGE teve um peso diferente.

Não apenas pelo simbolismo de resgatar uma dívida de vinte anos com os fãs portugueses, mas também por reiterar que a banda continua a ser uma das pedras basilares do metalcore. E, feitas todas as contas, este foi um daqueles concertos que se escreveram a si próprios como um dos capítulos mais importantes da história do género em Portugal.