KERRY KING

KERRY KING @ EVILLIVƎ FESTIVAL, MEO Arena, Lisboa | 29.06.2024 [reportagem]

Na MEO Arena, KERRY KING mostrou-se um veterano a desfrutar da banda-sonora que ele próprio criou para a sua juventude e de muitos dos presentes na primeira noite do EVILLIVƎ FESTIVAL.

É verdade que, no que toca ao pináculo das seis cordas do thrash, KERRY KING ocupa um dos lugares cimeiros e, após a desafortunada digressão de despedida dos SLAYER em 2019, muitos foram os que ficaram à espera, com a respiração suspensa, para ver o que o guitarrista faria a seguir. Sem hesitação, apesar dos atrasos provocados pela pandemia, o músico foi directo para o estúdio gravar o seu primeiro álbum a solo, «From Hell I Rise», que serviu de mote à tour de Verão que, ontem à noite, chegou ao seu término com uma actuação como cabeça de cartaz da edição de 2024 do EVILLIVƎ FESTIVAL.

Apesar disso, após a destruição que foi o espectáculo dos MACHINE HEAD, era quase inevitável questionarmos se o público, francamente mais reduzido do que se esperava para este primeiro dia de festival, ainda conservava a energia e/ou o empolgamento necessário para receber a estreia da nova banda do lendário guitarrista californiano em Portugal. Dando destaque ao material do disco deste ano, o espectáculo começou com a intro «Diabolo» enquanto a banda entra no palco.

Rodeado por músicos com nomes bem sonantes no metal – Paul Bostaph na bateria, Kyle Sanders no baixo, Phil Demmel na guitarra e Mark Osegueda na voz – KERRY KING estabeleceu um grupo de veteranos da música extrema e, se isso nem sempre é sinal de genialidade, o quinteto provou desde lado ser uma verdadeira força na natureza. Isso tornou-se notório imediatamente a partir do momento em que iniciaram a actuação com «Where I Reign», sucedida rapidamente por mais dois temas novos, «Trophies Of The Tyrant» e «Toxic».

O som e a entrega revelam-se implacáveis, numa barragem de batidas rápidas, riffs cortantes, solos acrobáticos e vocalizações abrasivas. Em palco, os cinco músicos estão nitidamente on fire, revelando uma solidez impressionante. No entanto, confirmando os piores temores, olhando à volta, percebe-se que a plateia está meio-atordoada, sobretudo em comparação com o frenesim provocado por Robb Flynn e companhia.

Sem grande espaço para respirar, e mostrando que os músicos sabem perfeitamente que um espectáculo destes não pode passar sem alguns clássicos, KERRY KING e os seus companheiros atiram-se a um dos melhores temas era mais recente da banda que o tornou famoso. A brutal «Repentless» foi a primeira das cinco canções dos SLAYER que o grupo tocou ontem à noite, mas, apesar de se ter ouvido também a «Discipline» e a «Chemical Warfare» sensivelmente a meio do set, o foco esteve no álbum a solo, que foi tocado quase totalidade.

Temas como «Two Fists», «Idle Hands», «Residue», «Rage» ou «Crucifixation» ecoaram como explosões de granada na MEO Arena, e uma coisa é certa: a banda estava claramente a divertir-se e mostrou-se em grande forma, com a soberba voz de Mark Osegueda a cortar com eficácia através do som pesado, Phil Demmel a dividir as despesas dos solos alucinantes com uma facilidade de fazer corar muitos aspirantes a este cargo, Kyle Sanders a manter um balanço arrasador e Paul Bostaph a marcar o ritmo com a solidez que já se lhe conhece.

Do lado direito do palco, KERRY KING esteve sempre mais focado na sua guitarra do que no que se passava à sua frente, mas o icónico início da «Raining Blood», que previsivelmente gerou a reacção mais entusiasmada noite por parte do público, e o sorriso no seu rosto mostraram-nos um veterano a desfrutar da banda-sonora que ele próprio criou para a sua juventude e de tantos presentes ali.

A espremer as últimas gotas que combustível que o público ainda tinham no tanque, os cinco músicos fecharam a sua actuação com a furiosa «Black Magic» e o tema- título de «From Hell I Rise», duas das melhores músicas que o guitarrista escreveu ao longo da sua carreira.