Com mais de 30 anos (!!) de carreira e doze discos de originais editados, isto sem contar com EP, singles, compilações, discos ao vivo e regravações, os Katatonia já nada têm a provar a ninguém, senhores que são de uma identidade claramente definida e muito bem vincada. Essa afirmação e consolidação de uma estética e de uma sonoridade muito próprias também lhes conferiu a legitimidade para não serem pressionados a reinventar-se, a inovar, a sair da zona de conforto e a agitar as águas. O público fiel e em permanente crescimento que segue a banda sueca há muito que sabe o que esperar a cada novo disco, sendo que essa previsibilidade tanto sabe àquele cantinho especial onde procuramos refúgio e aconchego, como pisa, cada vez mais, a ténue linha que atira a sonoridade da banda para um inquietante tédio. Os mais puristas e acérrimos seguidores da banda dirão que «Sky Void Of Stars» entrega aquilo que se esperaria do sucessor de «City Burials» e de toda a matriz rock melódico, soturno e melancólico iniciada com «Discouraged Ones», pelo que colocarão este disco no panteão de culto e reverência dos anteriores. Já aqueles que procuram a novidade, que procuram o desafio e que preferem ver bandas e artistas a arriscar e a experimentar ficarão irremediavelmente desiludidos perante um disco que tem tudo demasiado no sítio. Estão lá as melodias de uma negritude desarmante, as atmosferas lúgubres e românticas, no bom sentido, a voz de Renske cada vez mais segura e carregada de sentimento e uma produção de excelência que faz do subtil piscar de olho a uma eletrónica dissimulada uma aposta a ganhar cada vez mais espaço na sonoridade da banda.
No entanto, e há sempre um mas, «Sky Void Of Stars» peca naquilo que tem vindo a ser uma insuficiência cada vez mais recorrente a cada novo disco da banda, que é como quem diz na ausência de canções basilares e aglutinadoras, daquelas que fizeram de um disco como «The Great Cold Distance» o último grande compêndio de canções que a banda nos colou à mente para a eternidade. As dez canções aqui apresentadas em nada beliscam o estatuto e identidade da banda, bem pelo contrário, reforçam-na e impõe as devidas margens de segurança face a algo impossível de recriar com outros intervenientes. No entanto, da mesma forma, as dez canções aqui presentes, embora resultando lindamente na sua globalidade – e, porventura, estará aí a grande beleza e mais valia deste disco -, não deixam um único refrão ou melodia a lembrar daqui a cinco anos e a tornar passagem obrigatória nos futuros setlists em concerto. O caminho faz-se pelo lado do conservadorismo e da segurança, justificável e admitido – até porque , como começámos por dizer, já nada têm de provar a ninguém -, mas peca por alguma monotonia instalada num disco que, passada a primeira metade de audição, apresenta dificuldades em segurar o ouvinte e em deixar marca. No entanto, é Katatonia no seu estado genuíno e na sua essência – esqueçam os primórdios – e isso, caros leitores, já é prova de vida mais do que suficiente para destinarmos a devida atenção a cada novo disco da banda, com prazer, é certo, mas sem deixar o sentido crítico aguçar cada vez mais. [7.5]