O percurso dos KANDIA tem-se revelado altamente irregular; formado em 2007, o colectivo teve um período mais produtivo por volta de 2010, desaparecendo a seguir a 2013. O regresso em 2019 revelou uma proposta melódica, como já era, assente em bons músicos, mas bem actualizada em termos daquilo que se fazia na altura. O que veio a seguir foi mais que apenas uma pandemia: a meio de gravação de um EP perderam o seu baterista para os MOONSPELL, e a entrada em cena de uma grande editora internacional fez abortar a conepção desse registo, levando-os directamente a este disco. De acordo com André da Cruz, “a ideia de gravar um novo disco já estava em nós há imenso tempo, pelo menos desde 2015”. Para o guitarrista e fundador do projecto, “a saída do Hugo”, baterista, apesar de que “em nada impediria a concretização de um disco, iria travar, isso sim, possíveis concertos, mas a verdade é que a pandemia tratou de travar isso tudo a fundo”. O último tema, «4 Walls», acaba por ser editado quando estavam “a meio caminho de terminar o EP, mas, entretanto, a editora apareceu e os planos, mais uma vez, foram modificados”. Esse tema, editado em formato digital acabaria por não encontrar lugar neste disco.
“Estes tempos difíceis que estamos a passar deram-nos muita inspiração, por isso este álbum será repleto de emoções diferentes”, diz o músico. E sim, isso sente-se na cornucópia sonora que se abre com «Quaternary». Há tapetes de electrónica sim, mas também há blastbeats, e a voz de Nya Cruz vai do gutural, em «PBP», ao mais melódico, em «Obliterate», conseguindo sempre sair por cima. Num meio em que se confunde por demasia que uma boa voz tem de ter formação clássica e fazer incursões pelos registos mais operáticos, é bom encontrar uma voz portuguesa capaz de abordar o rock, numa postura diferente. «Fight Or Flight», primeiro single de avanço para o novo álbum, é o cartão perfeito para perceber a extensão vocal de Nya, bem como sentir o groove que percorre os KANDIA em 2022. Isto já para não falar da produção de luxo, a cargo de Daniel Cardoso. Já o segundo tema disponibilizado, «Turn Of The Tide», mostra o lado mais emocional e melódico do colectivo, o mesmo contido em «Holocene», faixa que completa os 44 minutos de música desta estreia na nova subsidiária da Frontiers. A inscrição do nome do grupo no catálogo da editora italiana poderá ter surpreendido muitos, mas o facto é que este é daqueles discos em que apenas se pensa em Portugal porque, de facto, essa é a origem dos músicos, porém o seu som é perfeitamente exportável, justificando assim a internacionalização. E bem. [8.5]