Ensaiado o enésimo regresso à denominada normalidade, já se sente o regressar do público à normal alheação a eventos. Neste caso, subiram ao palco duas boas promessas da cena nacional mais melódica e progressiva; duas, sim, porque os KANDIA ainda valem como promessa, até porque iniciam agora uma nova fase na sua carreira. Com os NEEDLE, o jogo começa a ser conhecido – já sabem colocar as cartas no momento certo e vão a jogo com força desde o primeiro momento. Ter uma malha como «The Absconder» para jogar logo na abertura é sinal de que muito podem ainda dar, ou que revelam instinto suicida. Após o concerto, prevalece a primeira opção. Soraia, a vocalista, pode ainda falar muito nos interlúdios, mas a sua voz está cada vez mais firme durante os temas. A dupla Tiago Sousa e Luís Costa evolui bastante bem e a secção rítmica insiste em estar sempre lá. Alguns temas ainda são novos, e já soam bem, como «12:14», com a harmonia vocal dos dois guitarristas, ou a interessante «Elude», séria candidata a próximo single. A já antiga «Inner Voices» tem os seus riffs iniciais cada vez mais a soarem aos RUSH, e de forma positiva, diga-se. No final, veio «Freedom», outro tema já conhecido. Pelo meio não faltaram os outros recentes singles. O álbum aguarda-se ansiosamente.
Alinhamento NEEDLE: «The Absconder», «Collision», «Misty Path», «12:14», «Elude», «Inner Voices», «Castles», «Freedom».
No caso dos KANDIA, tudo foi diferente e, infelizmente, o timing não se revelou o melhor para o concerto do grupo. Vale o elogio da resiliência, pois outros teriam cancelado. Esta actuação, agendada originalmente para 2020, era uma suposta celebração de aniversário da banda. Em 2021, serviria para lançar um EP. Em 2022, foi a apresentação do álbum, só que, como a vocalista Nya recordou, “a pandemia ainda não terminou”. Ela própria o sentiu na pele, tendo terminado um isolamento na véspera do concerto. Foi a primeira a sublinhar a menor capacidade para respirar. Juntem-se aqui permanentes problemas técnicos, que a fizeram debater-se com problemas de munição. Antes da apresentação, o baixista saiu da banda e não houve tempo para o substituir. Aquilo que ia ser um quinteto, converteu-se em quarteto. Valeu o esforço para tentar colmatar falhas. Valeu a capacidade de André como guitarrista, uma ideia vincada no excelente solo de «Clarity». E claro, na bateria só estava um dos melhores nomes nacionais do momento, que simplesmente passeou brilhantemente pelos temas tocados. Marcelo Aires é o nome. Uma noite para continuar a ascensão, no caso dos NEEDLE, uma noite de provação, no caso dos KANDIA. A estes últimos resta esperar mais um pouco – com um bom álbum e grandes malhas, certamente, e merecidamente, a maré irá mudar em breve.
Alinhamento KANDIA: «Anthropocene», «Obliterate», «A New Dawn», «All Is Gone», «Scars», «4Walls», «The Flood», «PBP», «Until The End», «Clarity», «Deathwish», «Fight Or Flight», «Holocene», «Turn Of The Tide».