Será provavelmente o nosso tão famoso fatalismo lusitano mas quem diria que meros escassos meses atrás parecia impossível voltarmos a ter música ao vivo com frequência? Melhor ainda é ver que é a música nacional é acolhida (por vezes de forma ainda tímida) de forma calorosa e que é uma das partes fulcrais desta recuperação de toda uma estrutura que esteve estagnada durante quase dois anos. E nesse ponto tem que se referir a Raging Planet como um dos principais viveiros da melhor música pesada e alternativa portuguesa, com uma vasta oferta em termos qualitativos e quantitativos. Este é um facto incontornável. Para este showcase, apresentaram-se três propostas do seu catálogo, os JUNKBREED, os LAST PISS BEFORE DEATH e os VIRCATOR que vieram substituir os inicialmente anunciados REDEMPTUS que não puderam comparecer por motivo de doença do seu baterista.
Os VIRCATOR iniciaram a noite para uma sala ainda algo despida – o que foi sendo resolvido conforme a actuação da banda progredia – e foram uma agradável surpresa para quem não sabia bem o que esperar da banda após da instabilidade a que se viu acometida. A banda de Viana do Castelo foi bastante afectada com a pandemia e viu-se obrigada a mudar a sua formação, contando agora José Cruz na guitarra, e Ruben Silva, na bateria (este último que esteve presente naquele mesmo palco com os Voidwømb no Hammersmashed Fest). E o que pudemos ouvir foi uma banda coesa e com a sua mistura entre post rock, prog e com o groove meio gingão do stoner resultando sonoridade bastante cativante, não sendo de estranhar que a banda antes da pandemia tivesse uma grande rotatividade fora do nosso país. Sendo instrumental, foi normal não haver grande comunicação, mas ainda assim Pedro Carvalho não deixou de parte os agradecimentos pela noite e apoio. Com o disco «Bootstrap Paradox» a sair na segunda metade do ano, é definitivamente um nome a acompanhar.9
A segunda banda da noite, os LAST PISS BEFORE DEATH, lançaram o seu álbum de estreia e homónimo em Fevereiro e no RCA Club, perante um público que veio nitidamente para os apoiar, puderam apresentá-lo tendo o tocado na íntegra. Uma das armas da sua sonoridade é o facto de não poder ser facilmente descrita – até pela própria banda – com elementos de thrash e groove metal a serem aqueles que mais se sobressaem mas ainda assim longe de poderem servir de rótulo convincente para aquilo que a banda faz. Edgar Alves é um verdadeiro frontman, tendo subido ao palco vestido a preceito luciferiano, tal como manda a regra de acordo com o vídeo «Devil’s Road» que foi o segundo tema da noite e é um dos grandes destaques do álbum. A festa foi feita e Edgar não se cansou de puxar pelo público que ainda esboçou alguma movimentação nalguns temas quebrando o modo contemplação com que esteve durante a noite.
Para terminar e ainda tornando a noite mais especial, vieram os JUNKBREED que não só se apresentavam também com o seu álbum de estreia, «Music For Cool Kids», como também tocavam ao vivo pela primeira vez. A banda conta com uma série de nomes conhecidos da nossa praça oriundos de bandas como Primal Attack, Switchtense e Seven Stiches que estavam no seu ambiente natural. Tocaram o álbum quase na íntegra, sendo que ficou a faltar a «Blood Runs Old» e foi tocada a «Dominant Alpha» (tema escondido no álbum) e aquilo que foi mais notório foi a alegria dos músicos em cima do palco. Uma alegria contagiante que fazia com que os temas ainda ganhassem uma vida especial que era recebida e sentida pelo público. O vocalista Pica não deixou de agradecer por isso mesmo, primeiro a Pedro Mau (que gravou a bateria no álbum e que ao vivo está a ser substituído por Antero), depois pela presença do público, pelo apoio da Raging Planet, pela perseverança do RCA Club e sobretudo pela primeira vez da banda ao vivo que foi especial. E não só para eles. A celebração da música, a linguagem universal, haverá algo mais especial que isso?