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JUDAS PRIEST: «Painkiller», um manifesto de riffs, velocidade e poder

O «Painkiller» é um dos álbuns mais influentes da história do heavy metal e, muito provavelmente, o melhor registo da carreira dos JUDAS PRIEST.

Há discos que transcendem a sua própria época, obras que não apenas consolidam a identidade de uma banda como também definem, de forma incontornável, o rumo de um género inteiro. O «Painkiller», dos JUDAS PRIEST, é um desses casos raros. Editado a 3 de Setembro de 1990 pela Columbia Records, este LP não só se transformou num marco da história do heavy metal, como permanece até hoje como um dos registos mais reverenciados da carreira da banda britânica. Trinta e seis anos após o seu lançamento, continua a ser citado como referência obrigatória quando se fala em agressividade, velocidade e técnica aplicadas ao metal clássico.

No início da década de 90, os JUDAS PRIEST já eram vistos como pioneiros indiscutíveis do heavy metal. Desde os anos 70 que construíam uma reputação sólida, com álbuns fundamentais como «Sad Wings Of Destiny», «British Steel» ou «Screaming For Vengeance». No entanto, o final dos 80s trouxe os primeiros sinais de desgaste. O LP anterior, «Ram It Down», de 1988, fora recebido de forma morna, com a banda a ser acusada de reciclar fórmulas e de não acompanhar a evolução de um género que se estava a tornar cada vez mais veloz e extremo. Era necessário um novo fôlego, e esse fôlego chegaria precisamente com o «Painkiller».

O disco marcou a estreia do baterista Scott Travis, que viria a tornar-se numa peça fundamental no som dos JUDAS PRIEST. A sua entrada foi determinante: com a sua abordagem veloz e técnica, ofereceu às composições uma intensidade inédita, que os fãs reconheceram imediatamente como uma lufada de ar fresco. Basta, de resto, ouvir o início do tema-título, com a bateria em turbilhão a abrir caminho para um riff devastador, para perceber como este álbum estabeleceu um novo padrão. Não por acaso, esta canção tornaria-se-ia uma das mais icónicas do catálogo dos britânicos, um verdadeiro hino de velocidade e de agressividade.

Gravado entre os meses de Janeiro e Março de 1990, nos Miraval Studios, em Correns, França, e também nos Wisseloord Studios, nos Países Baixos, o «Painkiller» foi produzido pelos próprios JUDAS PRIEST em parceria com o engenheiro de som Chris Tsangarides. O som alcançado foi, para a época, surpreendente: cristalino, mas sem perder peso, agressivo sem ser caótica.

O ataque das guitarras de Glenn Tipton e K. K. Downing soa afiado como lâminas, o omnipresente baixo de Ian Hill mantém como sempre a espinha dorsal com firmeza e, no topo de tudo, a voz de Rob Halford atinge níveis de brutalidade e alcance que se tornaram lendários. Canções como «Hell Patrol», «All Guns Blazing» ou «Metal Meltdown» são demonstrações perfeitas da combinação entre velocidade, técnica e melodia que fez do «Painkiller» um marco absoluto.

À época do lançamento, os fãs e a crítica ficaram atónitos com a intensidade do álbum. Era como se os JUDAS PRIEST tivessem respondido aos avanços do thrash e até do nascente death metal, provando que ainda podiam ser tão extremos como qualquer nova geração de músicos. Ao mesmo tempo, também não perderam a capacidade de criar refrões memoráveis e hinos de estádio, uma característica que sempre os diferenciou das bandas mais pesadas. A «Night Crawler», por exemplo, equilibra riffs cortantes com um ambiente quase cinematográfico, enquanto a «Between The Hammer & The Anvil» mostra a faceta mais épica e ameaçadora da banda.

Curiosamente, o «Painkiller» também assinalou uma transição importante na história dos JUDAS PRIEST. Seria o último álbum do grupo com Rob Halford até ao já regresso em 2005, já com o álbum «Angel Of Retribution». O vocalista abandonou a banda no final do ciclo de tours de promoção, num afastamento que se prolongou por mais de uma década. Apesar disso, nada no disco sugere alguma tensão ou até desgaste criativo. Pelo contrário: o alinhamento soa coeso, agressivo e determinado, como se todos os membros tivessem plena consciência de que estavam a criar algo destinado a atravessar gerações.

Ao longo de mais de três décadas, o «Painkiller» tornou-se uma referência incontornável. Muitos músicos de géneros diversos — do power metal ao death metal — citam o álbum como uma influência directa. O tema-título, em particular, é considerado uma das composições mais perfeitas da história do heavy metal, com a sua mistura de velocidade, melodia e fúria. Não é exagero afirmar que o disco ajudou a redefinir o que significava ser “pesado” no início dos anos 90, numa altura em que o metal enfrentava já mudanças profundas.

Hoje, olhando para trás, é impossível não reconhecer o estatuto lendário que ostenta. Foi o álbum que provou que os JUDAS PRIEST, mesmo já com uma carreira de quase duas décadas, ainda tinham muita capacidade de surpreender e reinventar-se. Mais do que um simples ponto alto numa discografia com inúmeros pontos altos, o «Painkiller» é um registo que continua a inspirar músicos e a incendiar plateias sempre que as suas faixas são tocadas ao vivo. Trinta e seis anos depois da sua edição, mantém-se como um testemunho da vitalidade e ousadia dos JUDAS PRIEST, uma das maiores bandas de heavy metal de todos os tempos.