JOHN BUSH

JOHN BUSH revisita a sua era nos ANTHRAX com um concerto histórico a solo [vídeos]

Numa noite de celebração, memória e afirmação artística, Bush percorreu quatro LPs fundamentais da discografia dos ANTHRAX, acompanhado por elementos dos CATEGORY 7 e também por Joey Vera, o seu cúmplice de sempre nos ARMORED SAINT.

No passado Sábado, 13 de dezembro, o histórico Whisky A Go Go, em West Hollywood, recebeu um concerto verdadeiramente singular: John Bush subiu ao palco para o seu primeiro espectáculo a solo inteiramente dedicado ao legado que estabeleceu enquanto vocalista dos ANTHRAX. Trata-se de um momento inédito na carreira do cantor, que ao longo de mais de uma década — entre 1992 e 2005 — ajudou a redefinir a identidade de uma banda central do thrash norte-americano, atravessando um dos seus períodos mais controversos, mas também mais ousados e resilientes.

O concerto foi o primeiro de uma série de três datas pensadas para celebrar essa fase específica da história dos ANTHRAX, e teve como base exclusiva os quatro álbuns gravados por Bush com o grupo: «Sound Of White Noise», «Stomp 442», «Volume 8: The Threat Is Real» e «We’ve Come For You All». Ao longo de quase duas horas, o vocalista percorreu não apenas os temas mais reconhecidos desse período, mas também composições menos óbvias, algumas das quais não eram tocadas ao vivo há vários anos.

Para dar corpo a esta revisitação, John Bush contou com o apoio dos seus actuais companheiros nos CATEGORY 7: Phil Demmel e Mike Orlando nas guitarras e Jason Bittner na bateria. No baixo, a ligação emocional foi ainda mais profunda, com a presença de Joey Vera, parceiro de longa data nos ARMORED SAINT do vocalista, a substituir Jack Gibson, ausente por conflito de agenda. Os CATEGORY 7 abriram a noite com um set próprio, regressando depois ao palco para assumirem o papel de banda de apoio durante o alinhamento dedicado aos ANTHRAX, numa transição natural que sublinhou a coerência musical do projecto.

O alinhamento escolhido por Bush revelou uma clara intenção de mostrar toda a amplitude criativa da sua passagem pela banda. Temas como «Potters Field», «Only», «Black Lodge», «Safe Home» ou «What Doesn’t Die» conviveram com escolhas menos previsíveis, como «Random Acts Of Senseless Violence», «King Size» ou «Black Dahlia», criando um retrato fiel de uma era marcada pela experimentação, pela adaptação a novos contextos musicais e pela recusa em estagnar artisticamente. O encore, encerrado com «Only», acabou por funcionar como um ponto de comunhão entre gerações distintas de fãs.

Antes deste regresso ao repertório dos ANTHRAX, John Bush admitiu que a preparação para estes concertos foi, acima de tudo, um exercício de memória e redescoberta. Em declarações recentes ao programa Paltrocast With Darren Paltrowitz, o vocalista explicou: “Tenho andado a cantar as músicas dos ANTHRAX porque estou a tentar lembrar-me delas.

Estranhamente, estão a voltar à minha memória, o que é curioso, porque não canto estes temas há anos. Alguns cantei — fiz duas coisas com os METAL ALLEGIANCE — mas sobretudo a «Only» e talvez a «Room For One More». É engraçado como a memória está lá. Ainda tenho muito trabalho pela frente, mas é bom. Estou a trabalhar nisso. Também ando a cantar as músicas dos CATEGORY 7, porque vamos abrir o concerto… Mas sim, isto é definitivamente um desafio de memória.”

A relação de Bush com o catálogo que deixou nos ANTHRAX é hoje assumida sem reservas. Questionado sobre «We’ve Come For You All», álbum de 2003 que acabaria por marcar a sua despedida da banda em termos de material de estúdio, o vocalista foi claro na forma como olha para esse período: “Sim, olho para esse disco com carinho. Aliás, olho para todos com carinho, para ser honesto. Acho que os quatro discos são muito bons — todos um pouco diferentes entre si. Foram tempos diferentes, fases diferentes de crescimento da banda. Mas «We’ve Come For You All» era bastante sólido.

Nessa altura assinámos com a Nuclear Blast na Europa, e eles deram-nos uma espécie de renascimento, porque são uma grande editora e sabem o que fazem. Reestabelecemo-nos muito bem com esse disco, sobretudo na Europa.” Bush não deixou, ainda assim, de contextualizar as dificuldades no mercado norte-americano: “Nos Estados Unidos, acho que saiu pela Sanctuary, que acabou por fechar pouco tempo depois. O trabalho não foi tão bem feito, mas o disco foi bem recebido, fizemos digressões e há ali grandes canções. Alguns hinos realmente poderosos.”

A trajectória dos ANTHRAX foi, desde cedo, marcada por mudanças na frente vocal. Ao longo de mais de quatro décadas de atividade, a banda contou com vários cantores, incluindo Neil Turbin, Joey Belladonna, John Bush e Dan Nelson, mantendo como únicas constantes o guitarrista Scott Ian e o baterista Charlie Benante, presentes em todos os álbuns de estúdio.

Neil Turbin foi a voz do álbum de estreia, «Fistful Of Metal», antes de ser afastado e substituído por Joey Belladonna, que se tornaria a face mais reconhecida do grupo durante os anos 80, nomeadamente em «Among The Living». A saída de Belladonna, motivada por divergências criativas e estilísticas, abriu caminho à entrada de John Bush em 1992, num período de transição profunda para a banda e para o próprio género.

Entre 1992 e 2005, John Bush foi uma peça central na sobrevivência e reinvenção dos ANTHRAX, atravessando mudanças no panorama musical, na indústria e na própria identidade do grupo. O seu afastamento coincidiu com a reunião da formação clássica com Belladonna para uma digressão comemorativa, um processo que acabou por se revelar instável e que conduziu a novas mudanças internas. Bush regressaria ainda por um breve período, antes de Belladonna reassumir definitivamente o lugar em 2010.

O concerto no Whisky A Go Go não foi apenas um exercício de nostalgia, no entanto, afirmando-se como uma afirmação clara de que essa fase da história dos ANTHRAX continua bem viva, relevante e digna de ser celebrada nos seus próprios termos. Para muitos fãs, sobretudo os que cresceram com estes discos, a noite representou uma rara oportunidade de ouvir este repertório com a voz que lhe deu forma original, num contexto intimista e carregado de significado.