Acusações mútuas de agressão, sabotagem e difamação abalam qualquer hipótese de reconciliação entre os membros dos icónicos JANE’S ADDICTION.
As esperanças em torno de um renascimento dos JANE’S ADDICTION desmoronaram-se abruptamente esta semana, com a confirmação de que os conflitos internos na banda atingiram um ponto sem retorno. Ontem, quarta-feira, 16 de Julho, a Rolling Stone revelou que Dave Navarro, Eric Avery e Stephen Perkins apresentaram uma queixa judicial contra o vocalista Perry Farrell, exigindo mais de 10 milhões de dólares em indemnizações. O processo está relacionado com um incidente ocorrido em palco, durante o concerto da banda em Boston, a 13 de Setembro de 2024.
Segundo a acusação do trio de músicos, Farrell terá demonstrado um comportamento errático nesse espectáculo — alegadamente sob influência de substâncias —, culminando numa altercação física com Navarro que acabou por precipitar o cancelamento imediato da digressão norte-americana dos JANE’S ADDICTION e de um álbum de estúdio que estaria iminente. Essa queixa imputa a Farrell acusações de agressão, negligência e quebra de contrato.
Contudo, poucas horas depois, o caso ganhou contornos ainda mais complexos. A Variety revelou que Perry Farrell apresentou uma longa queixa legal de 30 páginas, embora tecnicamente não se trate de uma contra-acção. No documento, o vocalista denuncia anos de alegado bullying e assédio por parte dos restantes membros da banda, acusando-os de terem sabotado propositadamente a sua actuação naquele fatídico concerto em Boston.
Perry Farrell afirma mesmo que os restantes membros dos JANE’S ADDICTION terão deliberadamente aumentado o volume dos seus instrumentos de modo a impedi-lo de se ouvir em palco, provocando o descontrolo do vocalista. A sua versão dos acontecimentos inclui ainda acusações contra Navarro, que segundo o cantor terá agredido tanto ele como a sua esposa nos bastidores após o concerto. O cantor também contesta a legalidade da decisão de cancelar a digressão, alegando que esta foi tomada sem o seu consentimento.
Na sua queixa, Farrell avança igualmente com acusações de difamação e danos reputacionais, devido a declarações públicas feitas pelos seus colegas sobre a sua saúde mental. O resultado são duas versões irreconciliáveis de uma banda mergulhada em disfunção. Para os três músicos, Farrell é um elemento instável e imprevisível que comprometeu os planos criativos dos JANE’S ADDICTION. Para Farrell, os restantes membros formam uma frente hostil que o isola, sabota e humilha.
A crise chega em contraciclo com o optimismo que parecia rodear a banda nos últimos tempos. Em 2024, os JANE’S ADDICTION lançaram dois novos singles — «Imminent Redemption» e «True Love» — que apontavam para uma nova fase criativa. Além disso, Eric Avery chegou a revelar que estava a trabalhar em novo material com Navarro e Perkins, deixando antever um possível novo álbum. Essa possibilidade parece agora altamente improvável.
A tensão entre os membros de JANE’S ADDICTION não é, de resto, nova. A história da banda está repleta de separações, regressos e reinvenções, marcados por personalidades bastante fortes e visões artísticas a dar para o divergente. No entanto, o actual impasse jurídico pode muito bem representar o golpe final na formação que, apesar dos seus conflitos internos, sempre teve um papel crucial no desenvolvimento do rock alternativo norte-americano.
Enquanto os processos seguem nos tribunais e tanto os músicos como o vocalista se mantém em silêncio público desde a divulgação dos mesmos, os fãs vêem-se novamente forçados a aceitar que o legado dos JANE’S ADDICTION pode ficar irremediavelmente preso ao passado. Mesmo que algum dos elementos do grupo prossigam musicalmente com outros projectos, o nome da banda parece estar agora, mais do que nunca, associado ao colapso interno e à impossibilidade de reconciliação.