É só uma mudança. A LOUD!, em papel, mensalmente disponível nas bancas, chega ao fim do seu já longo percurso com esta edição de Janeiro 2022. No que ao futuro próximo diz respeito, pelo menos. Por muito que nos custe – e custa, a todos, acreditem que custa – este era, convenhamos, o passo que tínhamos de dar numa altura em que já só estávamos a adiar o inadiável. Nos últimos dois anos, várias décadas de turbulência depois, as revistas e os jornais foram totalmente obliterados, sendo difícil exagerar o impacto da pandemia no sector. É claro que as estruturas de muitos desses títulos que ainda resistiam já estavam abaladas, isso és sabido, sustentadas por sócios generosos e/ou a operar sob modelos comerciais que simplesmente não resistem à realidade do séc. XXI.
Lenin disse um dia que “há décadas em que nada acontece; e há semanas em que acontecem décadas”. E estava certo; estamos aqui nós para prová-lo. Como tantas outras pessoas, e tantos outros negócios, aí desse lado. A COVID-19 atingiu duramente a maioria das revistas, ainda mais as de música, onde se confunde arte com entretenimento. Com a circulação dos títulos ainda impressos a diminuir progressivamente, ganhar dinheiro com o jornalismo musical já era um desafio – e as coisas pioraram. As publicações impressas dependem da capacidade das gráficas de imprimirem, das distribuidoras de distribuírem, dos quiosques e das lojas abertas, de pessoas na rua, que as comprem. O lockdown obliterou todas as partes dessa cadeia. Depois, voltou tudo a sair à rua e as coisas… Bem, não estão certamente iguais, mas continuam, pois, mais ou menos na mesma.
Além disso, apesar de haver muita gente que ainda insiste em tapar o sol com uma peneira, grande parte dos meios de comunicação, sobretudo os de nicho, como é o caso da LOUD!, que não estão ligados a um grupo de media, dependem essencialmente da publicidade para sobreviver. Como sabemos, em qualquer crise económica, a publicidade, vista como gasto discricionário, é das primeiras coisas a ir-se; e quanto mais acentuada for a desaceleração económica, mais acentuada é a queda dos gastos em publicidade. Esta queda tem sido, para sermos generosos, acentuada. As fontes de receita não foram só prejudicadas, em alguns casos foram também congeladas, e os custos fixos continuam a ter de ser pagos. Face às evidências, não há teimosia que valha; uma das coisas que nos mantinha ainda agarrados ao papel, quando uma das engrenagens do modelo já está a gritar por socorro.
Em prol da sobrevivência de uma marca que, em #250 edições, foi escrevendo o seu nome na história da música em Portugal, abdicamos agora do papel de forma regular – sim, há planos para edições quando se justifique – e concentramos os nossos esforços em loudmagazine.net, o site em que temos vindo a trabalhar paralelamente ao longo dos últimos anos e que, por esta altura, já construiu uma base de leitores muito superior ao da revista imprensa. Sabemos que é esse o veículo que mais margem de crescimento nos vai permitir durante as próximas décadas, com os conteúdos habituais obviamente garantidos em formato online, junto com muitas novidades que serão reveladas atempadamente durante este ano que começou agora. Portanto, isto não é mesmo mais um fim do mundo. É, isso sim, uma oportunidade para nos reinventarmos uma vez mais, a explorar um formato que pode adequar-se até a quem nunca adquiriu o hábito de pegar numa revista. Isto é só o fim de uma era. Nada temam, a nossa/vossa revista vai continuar por aí.