Hoje, recordamos o momento em que os IRON MAIDEN foram à televisão e se recusaram a fazer ‘playback’.
Início dos anos 80, Inglaterra. O ‘Top Of The Pops’ era o programa de TV favorito de todos e, ao princípio das noites de quinta-feira, aquela meia hora semanal parecia sagrada com uma mistura eclética de sucessos da época e os 40 melhores posicionados na tabela de vendas. Qualquer tipo de sucesso “comercial” dependia de uma aparição no ‘TOTP’ na era pré-internet. Com um senão, no entanto: todos os artistas tinham de se apresentar como uma fiel reprodução das gravações originais.
Trocando por miúdos: toda a gente tinha de fazer playback para aparecer no programa da BBC. No polo oposto da pop pura que ia infestando a tabela, a NWOBHM estava a borbulhar no underground e, em 1980, o fenómeno chegou finalmente à televisão, com uma “nova” banda a aparecer no ‘Top Of The Pops’ pela primeira vez, rasgando a paisagem musical em pedaços e afirmando de vez o heavy metal como um estilo musical a ter em conta.
Formados no East End de Londres cinco anos antes, com o punk ainda nos estertores e com os mods em ascensão, os IRON MAIDEN já andavam a causar grande impacto na cena underground e foi há mais de quatro décadas que irromperam pela consciência pública a dentro.
Contexto: o muito procurado «The Soundhouse Tapes», EP de três faixas que levou a um contrato com a EMI, foi lançado em Novembro de 1979. No início de Fevereiro do ano seguinte, os IRON MAIDEN assinam então o primeiro lançamento para a EMI, «Running Free», que entrou para o 46.º lugar do top de UK Singles.
«Coward Of The County», de Kenny Rogers, encabeçou a tabela nessa semana, substituído apenas oito dias depois por «Atomic», de Blondie. Mas voltemos aos IRON MAIDEN, porque o principal programa de música da BBC apareceu em cena, claro, mostrando-se interessado em assegurar a presença do grupo no pequeno ecrã.
Como seria fácil de prever, houve um problema instantâneo — e é aqui que se percebe a verdadeira garra dos IRON MAIDEN, a força e a teimosa, saudável para un s, suicida para outros, que lhes permitiu afirmarem-se como porta-estandartes do heavy metal. A banda, pura e simplesmente, recusou-se a fazer playback.
“Nós já tínhamos dito ao pessoal da editora, a EMI, que nunca faríamos o ‘TOTP’, a menos que o fizéssemos ao vivo. Quer dizer, nós éramos uma banda de metal, não uma banda pop. A «Running Free» saiu e fomos convidados. Bem, ninguém desde os The Who, em 1974, tinha feito o programa ao vivo, mas nós insistimos e dissemos ‘se não for ao vivo, os Maiden não vão’.”
O baixista Steve Harris, por seu lado, chegou mesmo a dizer que não gostava do conceito do programa: “Eu era um bocado contra o Top Of The Pops. Eles nunca chamavam ninguém decente, e eu fui realmente inflexível em não aceitar se não nos deixassem tocar ao vivo. Pensei apenas, ‘que se fodam. O que eles já fizeram por mim’?”. Quando, inacreditavelmente, os IRON MAIDEN conseguiram o que queriam, foi uma enorme declaração de intenções por parte dos músicos. Aqui estava uma banda que verdadeira como o aço e, a partir do momento em que Peter Powell, os apresentou, revelaram-se absolutamente cativantes.