Ao segundo, e último, dia de festival, o INFERNO DAS FEBRAS foi afectado pelo vírus dos festivais deste Verão: o cancelamento sobre a hora e por doença. Neste caso, por parte ds SCATTERBRAINIAC, que levaram mesmo a uma alteração de alinhamento. No entanto, antes disso, os GLASS EYED MOMMA arrancaram o programa da tarde. A dupla de bateria e baixo sacou um bom blues rock, com veia stoner, onde incluíram «Bob Head», o seu primeiro single. Sem inventarem a roda, conseguiram ser interessantes e até justificavam uma actuação mais tardia. Na despedida, ainda ironizaram, desejando ao público um bom festival, com sons mais pesados, como se o seu som não encaixasse como uma luva neste Sábado à tarde. Os GREAT FOOL eram um nome que trazia expectativas e estas foram superadas pela positiva. Afectos do stoner, incluindo músicos com percurso já reconhecido no underground portuense, saíram-se muito bem. Ao terceiro concerto, o quarteto onde pontua Miguel Vieira e Helena Peixoto revelou-se um nome a ter em conta, com Miguel a ser um dos poucos frontman de pleno direito num meio em que, por cá, a voz é quase sempre de um instrumentista. Fica a faltar o disco, só isso.
Os PUTO poderão, nas palavras do próprio guitarrista, ser os “reis dos pregos”, mas neste Verão podem ganhar também o título de pneu sobresselente, já que foi a segunda vez que actuaram substituindo outro grupo. Desta feita, estiveram muito acima da prestação dada no arranque do Sonic Blast. Há, neste duo de guitarra e bateria, muito de um encontro entre Legendary Tiger Man e post punk, ou, se preferirem, imaginem que o Frank Carter pegava numa guitarra e trocava os seus Rattlesnakes por uma bateria. É algures por aí que se movimentam, tendo feito um muito bom e divertido concerto neste final da tarde. A noite arrancou com os BASALTO. O trio de doom é todo terreno, mas claramente sai beneficiado por actuar de noite, com boa luz de palco. Pena que o som, um pouco mais agudo que no dia anterior, não os tivesse beneficiado, mas mesmo assim os viseenses estiveram muito bem. Hoje optam pelos temas vocalizados, António Baptista está claramente a adaptar a voz e percebe-se que há vontade de evoluir na composição, fugindo do loop criativo. Além disso, é sempre bom ver este grupo em acção. Surpresa terão sido os SOUL OF ANUBIS. Reduzidos a duo, a guitarra de Hugo Ferrão acaba potenciada, mesmo quando entra em confronto com a endiabrada bateria de Rui Silva. Sem dúvida alguma, esta foi uma das melhores actuações do colectivo de Santa Maria da Feira a que já assistimos e os músicos libertaram muitas promessas sobre um próximo registo de estúdio. Sofreram do som mais estridente que na noite anterior, mas isso foi algo comum a todas as bandas. Talvez a assistência menor que na véspera tenha levado a que a regulação do PA não fosse a mais correcta, mas felizmente nunca chegou a manchar as actuações.
E, de seguida, KRYPTO! Sãoaquela coisa disforme, em que a todo o momento se espera a provocação de Gon. Chaka, como sempre, revelou-se brilhante na bateria, e houve bastantes bons bateristas neste festival; Martelo debita notas no baixo, marcando o ritmo; e Gon, com falta de ritmo, pela escala “gon”, de tal forma que chegou a sentar-se no estrado da bateria. De resto, o frontman mostrou-se tão provocador como sempre, porventura sem combustível suficiente do lado da audiência, mais interessada em ver do que em participar. Em suma, assistir a uma actuação do trio portuense é uma experiência e, com um novo álbum anunciado para meados de 2023, resta esperar pelo crescimento desta gente depois de «Eye18» ter sido perfeitamente cilindrado pela concorrência da COVID-19. Os MANFERIOR, por seu lado, foram uma excelente surpresa. Mais uma, diga-se. O quarteto de Leiria mistura um punk sujo com thrash e hardcore num descarga impressionante. Instrumentalmente muito coesos e demolidores, tiveram na voz o seu calcanhar de Aquiles, sentindo-se que algo não estava bem nesse campo. Puxaram temas de «Birth As Punishment» e só não foram mais eficazes porque actuaram na ressaca dos Krypto. Finalmente, vieram os BAS ROTTEN . Há uma fúria descontrolada no som e prestação deste grupo, com os autores de «Surge» a servirem um grindcore recheado de rock e metal. Pena já terem actuado a horas tardias. Mesmo assim, o impacto foi elevado e pede-se urgentemente um segundo álbum – e que passem fronteiras – porque estão a um nível superior, no seu campo. Quanto ao “Febras”, foi uma excelente surpresa pela qualidade do espaço, escolha de bandas e simpatia dos envolvidos. É raro encontrar um festival assim, com sangue jovem e liberto de algumas repetições que assombram outros cartazes. Que venha o Febras 23!