Noite de abundância de concertos na capital — alguém se lembra quando as queixas eram de tudo nos passar ao lado? Enquanto os Knocked Loose estavam na segunda sala do LAV, os INFECTED RAIN estreavam-se em Lisboa depois de, na noite anterior, terem feito o seu primeiro concerto no Porto e em Portugal. No RCA Club, a estreia foi acompanhada por uma outra, a dos HÓRUS, que tocaram nessa sala pela primeira vez. Infelizmente, e apesar de se pensar que a batalha com a COVID-19 está terminada (e ganha), ainda vamos tendo algumas baixas, Neste caso, Tiago Espadinha, membro fundador do grupo nacional, que não pôde participar no concerto. A banda apresentou-se assim com menos uma guitarra e com o palco já ocupado com a bateria dos INFECTED RAIN, o que fez com que o kit de Duarte Cera estivesse posicionado no canto esquerdo de quem estava em frente ao palco. A adaptação a esta circunstância foi atingida da melhor forma e, apesar do interesse do público, havia alguma apatia vigente. Independentemente disso, a apresentação foi sólida, ainda que algo quebrada na sua fluidez. Martim Pinto não poupou esforços a tentar animar as hostes e até foi bem sucedido. Um dos pontos altos do alinhamento foi a participação de Eduarda Soeiro (dos GLASYA) a repetir a participação feita em disco e no vídeo-clip da «Path». O álbum «Broken Bounds» foi tocado praticamente na íntegra (inclusivamente o tema «Broken Mirror») e o saldo foi positivo, sobretudo para os músicos, que conseguiram superar da melhor forma as dificuldades que lhes foram apresentadas.
As expectativas para ver os INFECTED RAIN pela primeira vez eram bastante altas. A banda moldava tem sido uma sensação um pouco por toda a Europa e o seu mais recente álbum, que dá nome a esta digressão, «Ecdysis», é sem dúvida o ponto mais alto da sua carreira até agora. Aliás, o avanço «Longing» que noticiámos nestas páginas há uns meses atrás, era indicador disso mesmo. Metal moderno, mas com muita personalidade própria e energia. Energia ém de resto, um eufemismo para descrever a forma como a banda não parou em palco — a única excepção foi, por razões óbvias, o baterista Eugene. O baixista e os guitarristas estiveram especialmente frenéticos, especialmente Vidick, e claro que Lena Scissorhands foi o furacão que se esperava. O foco esteve dividido entre «Ecdysis» e «Endorphin», de 2019, com outras incursões ao passado mais distante e resultou numa actuação memorável por parte dos moldavos. A simpatia de Lena contrastava com a sua ferocidade vocal e com a intimidante presença de palco. O público, agora já em ligeiramente em maior número, ainda estava um pouco apático. Para contrariar isso, não faltaram incentivos para circle pits e uma wall of death — mais ou menos cumpridos por parte do público –, numa actuação em que o som só esteve um pouco acima do desejável. Apesar de Lena ter referido que talvez uma terça-feira à noite não fosse a altura ideal para um concerto, agradeceu a presença de todos num espectáculo com direito a um curto encore onde «Fool The Gravity» e «Sweet, Sweet Lies» colocaram um ponto final na actuação. Fica uma nota de apreço máximo para o profissionalismo e simpatia dos músicos, bem como também para a coragem de desbravarem território inexplorado. Na próxima ocasião, a festa será definitivamente maior.
FOTOS: Sónia Ferreira