Prestes a celebrar trinta anos de carreira, os lendários IGNITE incendiaram o RCA Club na passada sexta-feira, dia 21 de Outubro, tendo sido os Deadly Mind e os Artigo 21 as bandas de suporte deste evento a cargo da Hell Xis. Os Deadly Mind são uma grande referência do movimento hardcore da Margem Sul, completando este ano 25 anos de carreira. Têm andando a promover entre concertos o novo «Recognize The Threat» que finalmente viu a luz do dia. Abriram as hostilidades como só eles sabem fazer, com uma sonoridade pesada, 90s street raw, que tão bem os caracteriza, bem como a quase todo o movimento MSHC. Renovados e com o seu segundo disco na bagagem, os Artigo 21 são actualmente uma das grandes referenciais nacionais dentro do seu género musical, e merecem claramente maior destaque aqui. Têm como objectivo primário a boa disposição e o divertimento, e foi assim que reinaram em palco, tal como um típico concerto de punk rock deveria ser sempre.
Oriundos de Orange County, na California, os Ignite começaram em 1993, fundados por Brett Rasmussen e Joe D. Foster. Conhecidos pela enorme componente lírica activista, social e política que os envolve, com discos de referência como «Place Called Home» têm sido bem conhecidos da comunidade portuguesa de punk/hardcore e straightedge praticamente desde os seus primórdios, tendo inclusive gravado um benefit em formato split com os míticos X-Acto. A pausa entre «A War Against You» e o novo álbum auto-intitulado foi de uns longos seis anos. Parte da justificação para uma lacuna ediorial tão longa foi a busca por um novo vocalista, depois de o mítico Zoli Téglás ter deixado a banda há dois anos. A integração do novo vocalista Eli Santana poderia não ter sido algo antecipado pelos fãs, mas o grupo foi capaz de fazer o que poucas bandas conseguem – rejuvenesceram, embora diferentes, mas com o selo a que já nos habituaram ao longo dos anos, e abriram novas portas musicais. Assim continuam a sua jornada pela música de modo impactante.
É desde logo impressionante a forma como Santana agarra o público em apenas poucos segundos, como controla a multidão, demonstrando energia inesgotável. Houve sing-alongs constantes, stagedives (pelo próprio vocalista, que invadiu o público), e um Brett Rasmussen completamente carismático em palco a ajudar. Claramente não poderiam faltar, em coro, grandes temas como «This Day», «Live For Better Days», a cover emblemática de «Sunday Bloody Sunday» que os acompanha há tanto tempo, também a de «Banned In D.C» dos Bad Brains, e a nostalgia trazida por «Veteran». Ter a oportunidade de ver ao vivo uma banda que se reinventou desta forma é algo a que não se assiste regularmente, até porque a grande maioria que tenta esse passo, falha por norma. Os Ignite, por esta amostra, estão cá para continuar durante muitos anos, e assim os esperamos.
TEXTO/FOTOS: Solange Bonifácio