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Na sequência de mais uma explosiva passagem por Portugal, David Vincent, o ex-vocalista dos MORBID ANGEL e actual timoneiro dos I AM MORBID reconhece que há material novo em mãos, mas receia as comparações inevitáveis com os clássicos do passado.

A possível criação e gravação de material inédito por parte dos I AM MORBID, que tocaram em Lisboa no passado Domingo, está a ser debatida internamente, mas David Vincent não tem certezas quanto à sua viabilidade. Em entrevista, o antigo vocalista e baixista dos MORBID ANGEL revelou que a banda norte-americana tem falado sobre gravar temas originais. No entanto, o músico questiona se há realmente espaço ou interesse do público para tal iniciativa.

“Temos falado sobre esse assunto. Tenho algumas músicas. Só não sei se alguém se importaria, porque seriam apenas comparadas aos discos [clássicos dos MORBID ANGEL]”, explicou Vincent ao Altars Of Metal, numa reflexão que rapidamente se estendeu à forma como o tempo molda não só os músicos, mas também a percepção dos fãs.

“Muita coisa acontece com o passar do tempo, e à medida que esse tempo passa, cresces. Se tivesse havido uma continuidade durante todos estes anos — novo disco, novo disco, novo disco — provavelmente o que faria hoje seria um pouco diferente, porque a música e a arte são um reflexo de onde estás hoje. E onde estou hoje é muito diferente de onde estava nos anos 80.”

Desde que foram criados, os I AM MORBID têm-se dedicado a tocar exclusivamente material retirado dos álbuns clássicos que David Vincent gravou com os MORBID ANGEL; a saber, os eternos clássicos «Altars Of Madness», «Blessed Are The Sick», «Covenant» e «Domination». E, apesar da longevidade e sucesso dessa abordagem, há quem espere uma evolução ou um novo capítulo — algo que Vincent encara com cautela. “Talvez [um disco novo]… já falámos sobre isso. Simplesmente não sei se é uma boa ideia. Quero mesmo manter isto como um projecto de legado. Isso é o que é importante para mim. E acho que também é isso que é importante para os fãs.”

Para justificar a hesitação, Vincent recorreu a um exemplo clássico: os IRON MAIDEN. Segundo o músico, mesmo que a banda britânica lançasse o melhor LP da sua carreira amanhã, os fãs iam continuar a pedir os temas antigos em palco. “Ninguém quer saber das músicas novas. Querem ouvir os seus favoritos”, resumiu.

Confrontado com o contraexemplo dos METALLICA, que continuam a lançar nova música com sucesso junto de fãs antigos e novos, Vincent reconheceu a diferença fundamental: “Os METALLICA têm sido os METALLICA. Tirando o baixista, têm sido uma unidade consistente que continuou, e continuou, e continuou. Por isso, as mudanças e o crescimento que tiveram foram graduais e naturais.” Já os álbuns que os I AM MORBID celebram remontam a uma era muito distante — “não há um fio condutor que permita ir além disso”, concluiu.

O músico insiste que não pretende forçar a composição de um disco apenas por expectativa: “Poderia forçar. Poderia pensar muito e tentar forçar alguma coisa, mas não é assim que escrevo. E sentir-me-ia muito mal comigo mesmo por fazer algo apenas porque é isso que esperam de mim. Sou um rebelde. Sempre fui. Se alguém espera que eu faça algo, essa é a melhor razão para não o fazer. Essa é a minha atitude.” Ainda assim, não fecha a porta totalmente: “Bem, vamos ver o que acontece.”

Na mesma entrevista, Vincent explicou os motivos que o levaram a fundar os I AM MORBID, em 2016, após o seu segundo afastamento dos MORBID ANGEL. A motivação principal foi manter vivo o legado da sua era com a banda original: “Sentimos que precisávamos de manter o nosso legado vivo. E foi por isso que criámos os I AM MORBID. Estes discos são meus filhos. Todos estes álbuns são importantes para mim. Gosto de poder tocá-los… Adoro a música. Adoro tudo o que fiz. Felizmente, os fãs também. Por isso, tem sido bom. E a resposta tem sido muito boa. Já fazemos isto há algum tempo. Estou feliz por estar vivo, saudável e capaz de o fazer.”

Ao lado de David Vincent, os I AM MORBID contam com outro membro clássico dos MORBID ANGEL, o baterista Pete Sandoval, além dos guitarristas Richie Brown (ex-EXMORTUS, THE ABSENCE, TRIVIUM) e Bill Hudson (dos NORTHTALE, ex-DORO). Juntos, têm mantido acesa a chama de uma das fases mais icónicas do death metal norte-americano — mesmo que o futuro aponte, por agora, apenas para um olhar respeitoso e fiel ao passado.

A foto do header é do JORGE BOTAS.