HYPOCRISY + SEPTICFLESH + THE AGONIST + HORIZON IGNITED @ LAV – Lisboa Ao Vivo, Lisboa | 13.10.22 [reportagem]

Mais uma digressão de enorme interesse a passar por Portugal, e esta à moda antiga — ou seja, com passagem também pelo Porto — e, ainda por cima, a juntar duas bandas clássicas do metal extremo europeu que trazem consigo duas das melhores propostas da nova vaga de death metal melódico actuais. Falamos de HYPOCRISY e SEPTICFLESH no primeiro grupo e de THE AGONIST e HORIZON IGNITED no segundo. Uma das condicionantes óbvias de um cartaz que se assemelha a um mini festival, ainda para mais a uma quinta-feira, é os concertos começarem a uma hora em que muitos dos fãs estão presos aos seus compromissos profissionais, algo que se sentiu bem no início da actuação dos finlandeses HORIZON IGNITED. Os músicos lançaram há escassos meses o seu segundo álbum (sendo o primeiro pela Nuclear Blast), intitulado «Towards The Dying Lands», onde provam ter capacidade para subir depressa os degraus do death metal melódico. Alternando entre os dois discos que lançaram, viramo público que ia crescendo aos poucos receber bem temas como «Equal In Death», «Leviathan»«Eventide Of Abysmal Grief», onde é notória uma certa proximidade a uma sonoridade que lembra os Soilwork nos seus bons momentos. Garra não lhes falta, e o público presente rendeu-se facilmente. Os THE AGONIST tinham o público do seu lado até mesmo antes de entrarem em palco. A sala já estava muito bem composta e os canadianos corresponderam com uma actuação intensa onde o destaque maior foi o mais recente EP «Days Before the World Wept», com enfoque no tema título e na «Remnants Of Time», embora a «Blood As My Guide» também tenha tido direito a airplay. Apesar de alguma quebra na fluidez do alinhamento, muito por culpa das introduções da maior parte dos temas, Vicky Psarakis afirmou-se uma vez mais como uma frontwoman que sabe como cativar o público, algo que fez sem dificuldade, não só pela sua simpatia mas também por um talento natural para a posição que ocupa.

Verdade seja dita, os SEPTICFLESH eram naturalmente um dos nomes mais atractivos deste pacote, e a sala já estava “à pinha” quando a intro de «A Portrait Of A Headless Man» se fez ouvir pelo PA, provocando logo uma explosão de entusiasmo entre o público. Uma reacção só superada pela entrada em palco dos irmãos Antoniou e restante banda. Os gregos já são sinónimo de violência metálica há muito tempo, mas foi-se acentuando, sobretudo na sua segunda encarnação. Pois foi daí que naturalmente foram retirar uma boa parte dos temas para a sua setlist. Com o som mais alto do que desejável, porque não esqueçamos que o grupo conta com muitos arranjos orquestrais, ainda que ao vivo reduzidos às backing tracks, essses acabaram por sair sufocados pelas guitarras, servindo apenas para preencher os espaços vazios. Dos álbuns contemplados, apenas «Titan» ficou de fora e, apesar da boa recepção geral, foi mesmo nos mais antigos, como são os casos de «Communion», «Anubis» e «The Vampire From Nazareth» que conseguiram recolher as reacções mais efusivas. O público nem sequer precisou de muito incentivo, mas o grande Spiros Antoniou funcionou como o proverbial maestro de uma orquestra que continua muito bem afinada.

O tempo passa depressa quando se está perante entretenimento de alto nível, e se assim foi até então, mais depressa parece ter passado a actuação dos HYPOCRISY neste regresso a Lisboa e depois de uma noite memorável no Porto. A actuação começou da forma mais inesperada possível, com a «Rock’N’Roll Train», dos AC/DC. No entanto, a banda tem um álbum recente para tocar e, claro, «Worship», ao quebrar um jejum editorial de oito anos, assumiu para si o maior protagonismo na setlist daí para a frente. Verdade seja dita, tendo em conta que a banda fez um esforço para ir a todos dos seus treze álbuns de originais, esse protagonismo não foi mais do que três temas. Foram recebidos de forma entusiasta, principalmente o tema-título logo no início e também a «Children Of The Gray». Depois, ao passarem nos registo anteriores, não deixou de ser interessante, tirando algumas excepções, terem escolhido alguns temas mais obscuros da discografia, como foram os casos de «Don’t Judge Me», do polémico «Catch 22» ou «Mind Corruption», do clássico «Fourth Dimension». Falando em clássicos, esses não faltaram obviamente, ouvindo-se «Fractured Millemium», «The Final Chapter» e a inevitável «Roswell 47», sem esquecer a viagem ao OSDM de «Inferior Devoties» e «Impotent God». Pela frente tiveram som na perfeição e um público mais que disposto a fazer a festa — algo que se tornou notório quando Peter Tätgren se referiu aaos fãs presentes no LAV como os mais alucinados de todos. Por muito que possa ser algo que se diz todas as noites, em todas as cidades, não deixou de soar a sincero quando se teve crowdsurfs constantes, até mesmo enquanto o frontman estava a falar com o público. Aliás, o monitor do vocalista foi ajustado na sua posição constantemente, por ser ponto de embate das constantes ondas  de fãs que chegavam à frente do palco. Provavelmente foi mesmo um dos melhores concertos que a banda sueca deu no nosso país e aquela em que tentou a chegar a todos os fãs da melhor forma. No rescaldo, conseguiu fazê-lo de uma forma memorável.
[F.F.]

Fotos: JORGE BOTAS