«Crueza Ferina», o muito aguardado novo álbum dos HOLOCAUSTO CANIBAL, só vai ser lançado oficialmente amanhã, dia 27 de Maio, mas já o podes ouvir em antecipação, e do início ao fim, no player em baixo. Recorde-se que desde 2017 que os grindsters nacionais não lançavam um novo álbum de originais e a ideia para este muito aguardado sucessor de «Catalépsia Necrótica: Gonorreia Visceral Reanimada», de 2017, surgiu através de uma foto, como nos relatou o baixista ZP. “Há cerca de cinco ou seis anos houve uma foto, que me arrebatou instantaneamente assim que a encontrei, enquanto a navegava à deriva pela vastidão do mundo virtual”, explicou o músico. “Marcou-me ao ponto de a querer salvar de imediato para mais tarde a contemplar. Nos anos seguintes, pensei várias vezes na força dessa foto e revisitei-a, percebendo que o impacto causado crescia gradualmente de forma exponencial. A dada altura, sinto finalmente o impulso de mostrá-la aos restantes membros da banda como possível candidata a capa para adornar o novo trabalho. O impacto neles foi similar ao que tinha sentido outrora e pareceu-nos óbvio que a forma como esta imagem nos marcava não era mera casualidade”.
Segundo o músico, “o maior obstáculo surgiu nesta altura, tentar redescobrir qualquer vestígio que nos pudesse levar até ao autor da mesma para aferir da possibilidade de a usar. Foi um processo difícil até encontrar novamente a foto online e associar a um potencial autor, não sem antes termos contactado um homónimo, também fotógrafo. O Rui Pires após uma troca de alguns emails ficou entusiasmado com a nossa ideia e acabou por abraçar toda esta ideia culminando na redação do prefácio contido neste disco”. A foto em causa, que, entretanto, foi substituída por outra, também do autor, para a capa, retrata a conhecida matança do porco. “A criação e a matança do porco não tem hoje a relevância de outros tempos, desde tempos imemoriais que a carne de suíno assumiu uma importância fundamental na economia das zonas rurais, apesar de limitada às famílias abastadas”, explica o fotógrafo Rui Pires, cuja obra se pode descobrir melhor aqui. Segundo este, “as descrições antigas da bibliografia etnográfica mostram que poucas transformações estritamente tecnológicas tiveram lugar desde o princípio do século XX na matança tradicional Barrosã. As mudanças que intervieram são mais de ordem económica e social: importância acrescida da criação doméstica de porcos e do abate na economia de autoconsumo de cada casa, o indivíduo como matador, instituição das festas da abundância das ceias da matança e de uma competição entre casas pelo maior porco. No final dos anos 80 a aparição de congeladores não ocasionou transformações notórias, não tendo posto em causa nem a técnica de criação nem as técnicas tradicionais de consumo. Continua-se, pois, a praticar a desmancha tradicional e recorre-se ainda aos mesmos processos centenários de conservação (salga e dessecação associada à fumagem, conserva por meio da gordura). A questão do “gosto” das carnes preparadas por estes métodos tradicionais tem grande influência na reprodução destas técnicas de consumo, segundo os próprios camponeses, também confirmada pela imensa procura”.