Arranca já hoje, sexta-feira, dia 1 de Novembro, a mais ambiciosa edição do MuchoFlow. O festival vimaranense que se tem assumido como um ponto de paragem obrigatório para melómanos e um espaço de descoberta para as principais tendências da música contemporânea. No total tocarão 21 artistas que, do post-punk à electrónica, do hip hop ao clubbing traçam as rotas por alguns dos mais interessantes movimentos musicais da actualidade. Um desses nomes é HOLOCAUSTO CANIBAL , que através do baixista Z.P. e do guitarrista A.C. falaram com a LOUD!, fizeram um balanço de actividades e ainda adiantaram já um pouco sobre o novo disco que se anuncia.
Recentemente editaram «Assintonia Hertziana», registo da vossa passagem pela Rádio Santiago. Como surgiu a oportunidade?
A.C. : Em 2015, depois de regressarmos da nossa primeira incursão norte-americana, fomos convidados pelo programa de rádio “Submarino” para participar numa das suas “Noise Sessions”, em que convidavam bandas para tocar ao vivo e em directo na emissão. A oportunidade surgiu e decidimos arriscar. Todos somos fãs das “Peel Sessions” de Carcass, Bolt Thrower ou Napalm Death, e sempre tivemos este sonho de um dia poder fazer algo semelhante com o grupo. Para além disso, somos amigos de longa data dos locutores do “Submarino” e já lá estivemos umas quantas vezes pelo que aceitar o convite seria óbvio. Por outro lado, 2015 foi ano muito intenso para nós, tocámos no Neurotic Deathfest, no Party.San Open Air, tour nos Estados Unidos e duas mini-tours nacionais, pelo que nos sentíamos mais coesos que nunca. O momento não podia ser melhor para concretizar este projecto.
Neste momento são dos nomes mais activos, nos dois últimos anos a terem muitas datas nacionais e internacionais.
Z.P. : Na verdade 2019 foi dos menos prolíferos a nível de agenda ao vivo em solo nacional. Optámos por privilegiar alguns eventos de referência internacional. Primeiro na Holanda, onde tocámos no Netherlands Deathfest IV, hoje em dia o maior festival indoor da europa dedicado às sonoridades extremas. Já o tínhamos feito previamente com outras das nossas bandas e foi agora a vez de Holocausto Canibal se estrear neste festival que descende do antigo Neurotic Deathfest, onde também já tínhamos tido o prazer de tocar. Depois o tão aguardado regresso ao Fuck The Commerce, que esteve impregnado de uma imensa nostalgia pois foi o primeiro grande festival que tocamos fora de Portugal, decorria o ano de 2004. Voltámos como co-headliners quatro anos depois e foi bastante especial tocar agora, na edição o que marcou o regresso do festival após um longo hiato. Aparte disso estabelecemos como foco compor o nosso 5º álbum de originais e estruturar tudo a ele inerente.
A.C. : Efectivamente a partir de 2014, depois da tour do «Gorefilia» optámos por colocar um travão nas aparições nacionais e focar essencialmente naquilo que conseguíamos agarrar lá fora. De 2014 a 2016 percorremos o Brasil, a costa este dos Estados Unidos, o Reino Unido, por duas vezes, com várias paragens por outros países europeus, grande parte mais do que uma vez. Após a natural conciliação com rotinas quotidianas restou pouco tempo para tocarmos por cá. Nos últimos dois anos temos tocado muito pouco, na verdade, embora já com alguma insistência em solo nacional, até que este ano decidimos acalmar o monstro para nos focarmos no novo disco. Acho que nunca tocámos tão pouco como este ano, mas foi por um bom motivo.
Para lá dos gigs tradicionais, continua a existir aquela habitual intersecção com músicas periféricas e até mesmo com arte, no caso Box Sized Die. Como tem sido a recepção? Vai haver mais momentos?
Z.P. : O João Onofre convidou-nos pela primeira vez a integrar a Box Sized Die decorria o ano de 2013, na altura para duas actuações na Biblioteca Almeida Garret – Palácio de Cristal, no Porto. Em 2018, foi a vez do Museu de Arte Contemporânea de Serralves, e em 2019 rumamos pela primeira vez a Lisboa para duas actuações na Culturgest. Somos a primeira banda que repetiu esta performance, e entretanto já a materializamos cinco vezes, facto que nos deixa sem dúvida bastante realizados e claramente ansiosos por próximas colaborações! A recepção tem sido incrível e parte de um público totalmente transversal em todos os quadrantes e também faixas etárias. O João Onofre é um artista brilhante e torna-mo-nos seguidores confessos das suas obras que não raras vezes tem o seu quê de cariz mórbido e desviante tal como Holocausto Canibal. Os extremos tocam-se!
A presença próxima no Mucho Flow, a 2 de Novembro, será uma dessas intersecções. O público estará preparado?
Z.P. – Sempre que decidimos enveredar por eventos mais atípicos o saldo foi absolutamente positivo! É bom participar em elencos com tanta diversidade sem ter de lapidar o que quer que seja ao nosso set habitual. Há sempre um grupo de pessoas que por diferentes motivos nunca tinha visto uma banda de death grind ao vivo e que acaba por ficar cativada e entusiasmada em seguir mais eventos do género. O Mucho apresenta um cartaz multidisciplinar revelando um contexto quase experimental, em que o público vai totalmente aberto a descobrir e abraçar novas sonoridades. Preparámos um concerto exclusivamente estruturado para o Mucho Flow e para o Centro Internacional das Artes José de Guimarães, num conceito distinto para o que é habitual da nossa parte com recurso a multimédia / projecções entre outras abordagens. O set será já focado predominantemente no novo disco.
Las Vegas, este Verão, foi uma daquelas datas que marcou a história do grupo, embora os Estados Unidos já não fossem novidade. Podes relatar um pouco dessa aventura?
Z.P. – Ser considerados uma lenda underground, por um festival do outro lado do atlântico, e acharem a banda merecedora de encabeçar um evento que tem lugar em Las Vegas há 11 anos consecutivos é algo absolutamente indescritível. Em relação aos Estados Unidos, não negamos que nos sentimos privilegiados por já termos materializado algumas tours e ter pisado o palco de alguns dos maiores festivais de referencia do estilo onde nos inserimos. No passado deambulamos mais pela Costa Este tendo agora chegado a vez da Costa Oeste e não podíamos almejar melhor estreia! Em 2015 fizemos a nossa primeira incursão, entretanto já contabilizamos 21 concertos em 8 estados diferentes o que nos deixa por um lado realizados e por outro ansiosos por visitar mais alguns estados. A cultura underground é vivida de uma forma peculiar e o apoio que temos sentido é assinalável.
E para quando o regresso às gravações? O que se pode saber do próximo disco?
A.C. : De momento temos cerca de 37 minutos de música pronta, em versão demo, e já começámos a trabalhar numa pré-produção. O processo está momentaneamente suspenso, por força dos nossos compromissos imediatos com alguns eventos e touring paralelo. Daqui a semanas o objectivo é retomar os trabalhos por forma iniciar gravações. Este disco foi concebido para ser tocado ao vivo e da forma mais directa, não tanto focado na complexidade das composições mas no feeling espontâneo e na química actual dos quatro integrantes. Julgamos ser o álbum que mais fielmente traduz o que materializamos habitualmente em palco.
O MuchoFlow acontece a 1 e 2 de Novembro e vai, pela primeira vez, ocupar diferentes salas da cidade de Guimarães: CIAJG (Plataforma das Artes de Guimarães), Edifício dos CTT, e o S. Mamede CAE. Os bilhetes diários para o festival, assim como os passes gerais (a preço final de €30) podem ser adquiridos na bilheteira online e locais habituais, assim como em diferentes espaços da cidade de Guimarães (Plataforma das Artes, CCVF, Oub’Lá Bar, Salado Bar), em Braga no Theatro Circo, no Teatro Gil Vicente em Barcelos e na Casa das Artes em Vila Nova de Famalicão. Os horários para o festival já podem ser consultados abaixo.