HHY & THE MACUMBAS + BLACK BOMBAIM @ GNRation, Braga [reportagem]

O presente ano está a revelar-se um dos mais intensos da recente carreira dos BLACK BOMBAIM, com o trio a ingressar primeiro numa tour nacional, no âmbito do festival Super Nova, com seis datas, e de seguida numa volta europeia que culminou no festival Roadburn, na Holanda. Três dias depois, a passagem por Braga, bem perto das suas casas.

Foi numa sala quase cheia que o baixo começou a ecoar, tonitruante, estremecendo o palco e acordando a bateria que entrou no jogo, quando de repente a guitarra se ligou e foi serpenteando riffs entre as notas dos outros dois instrumentos. Dois ou três minutos se passaram até a bateria acelerar num processo non stop que se prolongou por quase quarenta minutos num ritmo infernal, conduzido à vez por cada um dos músicos. No final um sorriso de obrigado, pelo meio um alinhamento que se aproximava mais de uns temas que de outros, mas que nunca os assumia completamente. Começou-se com um pouco do lado A de «Titans», viajou-se até ao lado B de «Black Bombaim & Peter Brötzmann», mas sem o saxofone, passou-se pelo lado B de «Saturdays and Space Travels» e terminou-se na «Africa II» de «Far Out». Atravessava-se a sala e percebia-se o sorriso de muitos, ouvia-se o comentário de outros. O efeito BLACK BOMBAIM perdurava.

BLACK BOMBAIM
BLACK BOMBAIM

A hora avançava, penetrava-se na madrugada de sexta-feira santa, na cidade dos arcebispos e no palco do GNRation conjurava-se algo diferente, baterias aproximavam-se, um círculo formava-se e iluminados por um vermelho dantesco, que se prolongaria até ao fim, seis músicos, num círculo encerrado por uma máscara, também ela vermelha. O ritual iniciava-se, o ritmo evoluía, tambores tribais evocavam espíritos que possuíam a trompete, de repente um sino é erguido, cerimonialmente tocado e o primeiro tema cessa. Logo entra outro, e outro, e outro. Aqui e ali um músico evoluía um pouco, mas rapidamente era tomado pelo transe rítmico dos restantes. Bateristas sorriam entre si, mantendo o ritmo endiabrado e de pé, na frente de todos, a máscara totémica evoluía. Do fundo da sala, por vezes, apenas ela se vislumbrava, mais perto, percebia-se que era Janus, Deus romano das mudanças e transições, na sua mão, um dispositivo introduzia sons no ritmo incessante. HHY & THE MACUMBAS, longe de ser uma actuação fácil, foi uma experiência, por vezes mística, outras primitiva. Pela madrugada de uma sexta-feira santa, um cerimonial ímpio penetrava na calma da cidade.

HHY & THE MACUMBAS