Originalmente gravada pelos GUNS N’ ROSES para a banda-sonora do filme “Interview With The Vampire”, esta versão da clássica «Sympathy For The Devil» foi lançada em Dezembro de 1994. O SLASH descreve-a como “o som de uma banda a desmoronar”.
Anos 60, apesar de tudo, ainda bem conservadores. Mick Jagger grava um tema em que personaliza o demónio. Heresia. Por acaso, o demónio de Jagger até é um tipo simpático, “a man of wealth and taste”. Alguém que hoje poderia ser descrito como um sugar daddy, pois tem estado “around for long years”. No fundo, é tudo um jogo que intriga qualquer um, “the nature of my game”. Jagger fala de alguém que tentou Cristo, fez Pilatos lavar as mãos, mas que também estava à frente de um Panzer, depois de ter participado na morte de Anastasia.
Ele é, afinal, Lúcifer para os amigos, porque precisa de alguma contenção. Para o poema, Jagger usou o escritor francês Charles Baudelaire, a que juntou uma novela russa, oferecida pela namorada da época, Marianne Faithfull. O autor, Mikhail Bulgakov; o título, «The Master And The Margarita». Depois é apenas recordar as raízes blues dos britânicos e perceber como o tema lhes serve como uma luva. A canção é toda ela erguida sobre a letra de Jagger, uma das mais perfeitas do vocalista, pela forma como personifica a personagem. Ritmos tropicais, contrastam com a bateria de Charlie Watts, acentuando a dicotomia das letras e tema. Uma peça brilhante.
Talvez por isso, desde sempre tenha recebido inúmeras versões. Esta semana, o foco vai em particular para a versão dos GUNS N’ ROSES. “O som de uma banda a desmoronar”, seria como Slash descreveria a gravação, uns anos mais tarde. Proposta para a banda-sonora de “Interview With The Vampire”, em 1994, é o primeiro tema gravado pelo grupo após as sessões de «Use Your Illusion».
Fã do livro de Anne Rice, Slash acabaria por odiar o filme, mas o significado do tema é ainda mais negro para a banda. Perdidos numa digressão gigantesca, afastados entre si, em desagregação, assim eram os GN’R em 94. Axl Rose recusou gravar com os elementos dos GUNS N’ ROSES, não querendo estar no estúdio ao mesmo tempo que o resto da banda. Alguns apontamentos, feitos em casa, iam servindo de instruções aos vários músicos, sobre como deveriam agir em estúdio.
Entretanto, Gilby Clarke estava fora do dos GUNS N’ ROSES. Slash afirma que conseguiu aproximar-se da qualidade de guitarra de Keith Richards, mas Axl resolveu que o seu som fosse coberto pelo da guitarra de Paul Tobias, o novo guitarrista do grupo. “Se há uma faixa dos Guns N’ Roses que não quero escutar de novo, é essa”, afirmou o guitarrista mais tarde. Na recepção ao filme, a versão acabou até a ser decepcionante. Seria, mesmo assim, lançada como single, e, apesar de tudo, ainda hoje é recordada por muitos fãs.
Depois, muitas são as versões, chegando mesmo a haver um álbum, obviamente intitulado «Sympathy For The Devil», em que todos os temas são desenvolvidos a partir da faixa original — um trabalho dos sempre fabulosos LAIBACH. Inevitavelmente, algum técnico de marketing, num estágio, deve ter lembrado Sharon Osbourne que seria um bom tema para associar ao nome do marido, e OZZY OSBOURNE, em 2005, fez a sua versão heavy metal do tema. Está no álbum «Under Cover». Merece a mesma atenção que um acidente na berma de uma autoestrada.
Mais interessante, e tentando absorver a essência demoníaca do tema, é a versão dos suecos TIAMAT. Mesmo deixando de lado a deturpação da secção rítmica original, a voz de Johan Edlund, consegue a interpretação correcta para a letra. Os VIRGIN STEELE, por seu lado, introduziram esteroides no tema, para a sua versão power metal e Lemmy quase conseguiu fazer esquecer Jagger, numa versão em que Mikkey Dee faz um excelente trabalho de ritmo. A versão industrial de THE ELECTRIC HELLFIRE CLUB, revela alguma inteligência, embora se afaste do espirito original.
Um par destas versões, poderá superar até a dos GUNS N’ ROSES, mas nenhuma teve o drama e a atmosfera de fim de vida daquela em que Axl e Slash iniciaram a separação.