Os GRUNT estão de volta! E a questão a pôr é, transmutaram-se ou evoluíram? Essa poderá ser a pergunta que surge quando se escuta o tema de avanço que a LOUD! estreia agora, intitulado «Piedade» e inserido no futuro «Discipline». Como se sabe, no passado a banda do Porto aliava grind, um visual bondage e actuações extremas, por vezes com figurantes em sessões explícitas de sado-maso. Todas as letras eram em inglês, mas agora, este novo tema surge em português. Boy-G, explica que “existem subtilezas que só conseguimos extrapolar com recurso à língua materna”, até porque “as línguas latinas gozam de uma supremacia semântica e fonética incomparáveis, o português não é excepção”. Talvez por isso, depois de explorar o inglês e os GRUNT evoluírem enquanto grupo, Boy-G reconhece que começaram “a valorizar e a acreditar mais na dimensão poética, tivemos de assumir o jus sanguinis e dobrar este nosso cabo das Tormentas, em busca de novos caminhos e formas de expressão”. Assumindo que “este disco foi composto sem qualquer compromisso”, estava encontrada “a oportunidade ideal para incorporar este e outros elementos que achamos cruciais incluir no álbum”. No entanto, apenas “são três os temas do disco cantados em português”, um dos quais, para espanto de muitos, “é uma adaptação de uma música de Astor Piazzolla no qual introduzimos uma declamação poética”.
Versatilidade e inovação parecem marcar este terceiro longa-duração do colectivo. Boy-G assumiu a produção, sendo que a gravação se repartiu por “duas fases distintas, as linhas instrumentais foram captadas no Stone Sound Studio pelo Ricardo Oliveira, enquanto que as vozes foram gravadas no Rec’n’Roll pelo Luís Barros e Paulo Barros”. Face “às circunstâncias actuais de pandemia global”, ainda é cedo para definir “uma data de lançamento definitiva”, aproveitando o grupo para estabelecer “contactos com editoras”, não existindo “um contracto firmado”. Embora mantendo.se como quarteto, há uma alteração na formação, com a saída de Boy-D, ingressando para o seu lugar, Boy-J, “que também actua em Vai-te Foder, Capela Mortuária entre outros nomes”. No resto a formação mantém-se com Boy-G, guitarra, voz e electrónica, Boy-S na guitarra, e Boy-Z, baixo e samplers.
«Piedade» apresenta um som que se enquadra mais próximo do industrial, embora temas anteriores do grupo já possuíssem electrónica e samplers. Para Boy-G, “foi um naufragar de tendências que, no contexto musical actual, iriam perturbar a envolvência sonora”. O músico refere que, desta vez, os GRUNT tentaram “atingir uma ambivalência e duplicidade de elementos que coexistem, fundem e se completam na profundidade horizontal da dimensão hertziana”. Numa clara evolução enquanto grupo, exigiram “mais das capacidades individuais de cada elemento de forma a criar músicas mais interessantes e imprevisíveis”. Por tudo isso, a inovação também se sente na forma como os instrumentos se apresentam agora, com o vocalista a revelar que “a mistura deste disco foi um quebra-cabeças, demorou bastante tempo e implicou vários produtores, eu próprio cheguei a fazer uma mistura que nem a mim me convenceu”. Esta fase, “foi a primeira vez e, que nos perguntaram por referências sonoras e não conseguíamos responder”, no fundo “o objectivo era soar a Grunt, até porque a diversidade do disco não permite aplicar um template sonoro ao conjunto dos temas”, por isso o grupo andou “meses no encalce desta mistura que finalmente mostrava aquilo que o queríamos ouvir”.
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